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Zimbábue: Bispo precisa de “carro salva vidas” para ir a aldeia pobre

JUSTINA BANDA
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Reportagem local - publicado em 16/10/22
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A Missão de Chitsungo, que é composta por cerca de 60 aldeias, ostenta a condição de ser a mais pobre na Diocese de Chinhoyi

Fica longe e as estradas estão quase sempre intransitáveis. Não se chega lá por GPS, mas sim pelo tacto de mãos calejadas que seguram o volante e evitam as armadilhas dos caminhos. A Missão de Chitsungo, que é composta por cerca de 60 aldeias, ostenta a condição de ser a mais pobre na Diocese de Chinhoyi. É a mais pobre, fica muito longe e agora está isolada, à espera que o Padre Walter consiga um carro novo. Sem isso, não há como chegar até lá…

O carro do Padre Walter Chenyika já se gastou nas demoradas viagens de ida e volta, às vezes por caminhos improváveis, mas sempre arriscados. Foram milhares de quilómetros percorridos, dezenas de arranjos na oficina, muitas vezes quase impossíveis operações que resgataram um carro que há muito tempo já tinha deixado de existir. Foi sendo mantido quase artificialmente, inventando-se peças, forjando-se soluções, mas nada que conseguisse impedir o estertor final. E sem carro, o Padre Walter também ficou sem a sua Missão. Como chegar aos seus paroquianos que vivem, às vezes, a mais de 140 quilómetros de distância? 

D. Raymond Mupandasekwa, Bispo de Chinhoyi, sabe bem das dificuldades do seu sacerdote. Mas não se ficou por o ouvir falar. Ele próprio fez-se à estrada para ver com os seus próprios olhos como era a vida na aldeia mais pobre da sua diocese, situada a norte do Zimbabué. Na Páscoa, foi até lá. Na altura, já o carro do Padre Walter vivia das transfusões de criatividade dos mecânicos… O Bispo foi até lá, à Missão de Chitsungo, e decidiu ficar algum tempo com os mais pobres de uma dessas aldeias. Escolheu uma das mais isoladas, a de Kanyemba. Durante cinco dias e cinco noites, o Bispo viveu como um aldeão, dormiu numa tenda, partilhou a comida, as conversas, as preocupações.

Inflação de 800%

Naquela região, situada a norte do país, as populações são tribais, muitos ainda vivem da caça e do que recolhem nas florestas. É tudo muito simples, mas também ali se fazem sentir os problemas gerais do país, que tem vindo a empobrecer com uma inflação que ultrapassa os 800 por cento e que empurra as famílias para a miséria. Mas o Bispo sabe que é precisamente por causa de tudo isto, que a presença da Igreja é mais importante. As pessoas precisam de ser acompanhadas por um sacerdote que lhes possa administrar os sacramentos, ajudá-las a crescer na fé e, ao mesmo tempo, guiá-las para uma melhoria gradual das suas condições de vida. “Pensei em como a Igreja poderia apoiar os jovens de lá”, diz-nos o bispo, sem conseguir esconder que ficou abalado com a miséria que os seus olhos viram durante a visita. Os desafios são imensos. Além dos cuidados pastorais, a escolaridade das crianças e dos jovens, há que garantir que todos nesta região tenham acesso aos cuidados médicos mais básicos, há que garantir que haverá sempre alguém a cuidar daquelas pessoas, de todas aquelas pessoas. Isso não é um desafio. É uma prioridade. “Fora da Igreja, ninguém se preocupa com as pessoas”, confessa-nos o bispo.

Gestos de caridade

D. Raymond sabe que, sempre que o Padre Walter estiver na sua Missão, está por lá alguém que se preocupa com os mais desvalidos, com os doentes, com as crianças e os jovens que não andam na escola. Há alguém que se preocupa com os mais pobres dos pobres. O problema são as ausências do seu sacerdote. O problema do Bispo é também o problema do Padre Walter Chenyika. O carro já se esgotou, já se esfalfou em milhares de quilómetros e nem na mais qualificada oficina tem arranjo. Sem carro a aldeia mais pobre da diocese de Chinhoyi ficará sempre longe de mais. 

Por isso, para grandes males, grandes remédios. E D. Raymond Mupandasekwa pediu a ajuda da Fundação AIS para que o Padre Walter possa continuar a fazer-se à estrada. “Sem um carro, o trabalho pastoral é impossível”, diz-nos, numa carta em que pede apoio para a aquisição de uma viatura suficientemente robusta para enfrentar as estradas do Zimbabué. É apenas um carro para um padre, mas, na verdade, é muito mais do que isso. Como sempre aconteceu ao longo dos anos, o carro do Padre Walter levou e trouxe pessoas que precisavam de ir à cidade, levou doentes ao médico, transportou homens, mulheres e até animais. E já fez as vezes das ambulâncias que nem se atrevem a ir pelos maus caminhos que levam às aldeias da Missão de Chitsungo. O carro do Padre Walter já salvou vidas e ele quer continuar a ser uma espécie de anjo da guarda do seu povo. Para isso, precisa de um carro novo. Vamos ajudá-lo?

(Com AIS)

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