Até a sexta-feira, não havia notícias sobre o paradeiro do Padre Joseph Igweagu, raptado por homens armados na quarta-feira da semana passada, dia 12 de Outubro, quanto regressava à sua paróquia, São José de Abata Nsugbe, depois de ter celebrado um funeral em Umunachi.
A Arquidiocese de Onitsha, a que pertence o padre, situada a sul da Nigéria, pede, num comunicado enviado para a Fundação AIS Internacional, as orações de todos pela rápida libertação do sacerdote e a conversão dos seus sequestradores. “Pedimos orações sinceras pela sua libertação incondicional”, pode ler-se na mensagem.
“Enquanto rezamos pela conversão dos seus sequestradores, invocamos a nossa mãe, Maria, que desata todos os nós, para interceder em seu nome para que ele possa ser rapidamente ser libertado ileso”, conclui o comunicado. O rapto deste sacerdote volta a colocar a Nigéria no grupo dos países onde se tem vindo a registar um aumento considerável de violência religiosa, nomeadamente contra os cristãos.
Isso mesmo foi referido recentemente pelo Bispo Wilfred Chikpa Anagbe, da Diocese de Makurdi, numa sessão no Parlamento Europeu, no seguimento de uma viagem organizada pela Fundação AIS que o levou, também, à Alemanha, à sede internacional da Ajuda à Igreja que Sofre. Em ambas as ocasiões, no Parlamento Europeu e no encontro em Köningstein, o prelado denunciou o que chama de “conspiração do silêncio”. As palavras do Bispo revelam a dimensão da tragédia que se está a abater sobre os cristãos neste país.
De facto, até agora, e só durante o corrente ano, cerca de duas dezenas de sacerdotes e outros membros da Igreja Católica foram sequestrados e alguns mortos. Mas 2022 ficou, para já, marcado também pelo assassinato, em Maio, de uma jovem cristã protestante, apedrejada até à morte por colegas da universidade por suposta blasfémia, e o ataque, em Junho, a uma igreja católica, no domingo de Pentecostes, que resultou em meia centena de mortos. A brutalidade dos dois crimes levou a Fundação AIS a manifestar o seu choque e repúdio e a reafirmar a sua proximidade para com a martirizada comunidade cristã local.
O presidente executivo internacional da Fundação AIS, Thomas Heine-Geldern, classificou mesmo um dos ataques, o que vitimou a jovem universitária, como “bárbaro”, revelando um “nível de extremismo e violência absolutamente aterradores”. É perante este cenário de enorme insegurança e medo em que se encontra a comunidade cristã, que as palavras do Bispo de Makurdi ganham peso. D. Wilfred Anagbe esteve na Europa a denunciar “o desejo de muitos muçulmanos de que a Nigéria se torne uma República Islâmica”.
“A nossa situação é nada menos do que uma ‘Jihad’ vestida com muitos nomes: terrorismo, raptos, pastores assassinos, banditismo, outros grupos de milícias, etc., e que, embora o mundo exterior conheça a extensão das mortes e deslocações em curso das comunidades cristãs na Nigéria, existe aquilo a que chamo uma conspiração do silêncio”, disse o prelado, tanto na sede da Fundação AIS, perante directores de vários secretariados nacionais, entre os quais o de Portugal, como, dias mais tarde, no Parlamento Europeu.
“A Nigéria tem uma história muito longa de perseguição cristã, mas este sofrimento tem sido frequentemente reprimido por pessoas no poder. Muitas comunidades cristãs no norte do país sofreram décadas de maus-tratos e injustiça por causa da sua fé”, disse ainda o Bispo, dando como exemplo o que tem vindo a acontecer na sua própria diocese, situada no estado de Benue. Citando números oficiais, o prelado lembrou que, “desde Junho de 2022, o estado de Benue sofreu mais de 200 ataques”, com danos patrimoniais brutais, “e perto de dois milhões de pessoas deslocadas e a viver em campos em todo o estado”.
E o bispo continuou a descrever as consequências destes actos de terrorismo, e de banditismo. “Muitas crianças deixaram de ter acesso à educação, pois os pais, incapazes de ir para as suas quintas, não conseguem não podem suprir as suas necessidades escolares, há uma insegurança alimentar palpável, há a perda completa da dignidade humana, pois os homens, mulheres e crianças recorrem frequentemente a mecanismos de sobrevivência inseguros.”
D. Wilfred Chikpa Anagbe fez questão de enfatizar que estes ataques, especialmente no estado de Benue, têm uma matriz clara de perseguição religiosa, pois “parecem cada vez mais uma ‘jihad’ contra os Cristãos”.
De facto, a Nigéria tem sido palco de actuação de diversos grupos terroristas de inspiração jihadista, nomeadamente o Boko Haram, havendo sinais de tanto esta organização como outras, fazerem parte de uma estrutura mais vasta com fidelidades assumidas ao Daesh, o Estado islâmico, grupo que lançou o terror sobre os cristãos em 2014, quando ocupou vastas áreas do Iraque e da Síria.
“Durante anos, fazer das igrejas e das escolas cristãs o alvo de ataques foi o padrão de terror utilizado, assegurando que a população sentisse o desamparo, a fome e a pobreza, e chegasse ao analfabetismo a médio prazo”, disse ainda o prelado, acrescentando que, “de 2014 até à data, extensões inteiras da minha diocese foram abandonadas e as actividades pastorais cessaram ou realizam-se sob uma segurança muito rigorosa”.
(Com AIS)