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“Eles estão no meio de nós”

Ludmila Javorova była katolickim księdzem w Czechosłowacji

Zdjęcie ilustracyjne

Vanderlei de Lima - publicado em 26/10/22
"Outra fala de Carvalho é sobre uma Missa de que participou e, ao notar ser a homilia do sacerdote “um besteirol”, saiu para fumar a fim de não agredir o padre. Ora, o verdadeiro católico não há de falar, nem por brincadeira, em agredir um consagrado a Deus"

O título acima é do documentário que – elaborado por Bernardo Küster, jornalista convertido à fé católica, e Viviane Princival, cineasta –, foi ao ar, no último dia 24/10, pelo Youtube e contém longa denúncia contra a Teologia da Libertação (TL) extremada.

Assisti-o, na íntegra, e não vi nada que, com a graça de Deus, já não tivesse, de algum modo, estudado em fontes diversas. Devo dizer que é bem elaborado e sério ao apresentar a Teologia da Libertação de cunho marxista, aquela que fez e faz estragos na Igreja e na sociedade, ainda que esteja, cada vez mais, encontrando resistências no meio de leigos bem esclarecidos e atuantes, como deseja o Concílio Vaticano II (cf. Lumen Gentium n. 30-38 especialmente). Neste sentido, o documentário distingue – com acerto – o Concílio em si e a má interpretação que dele se tem feito.

O filme relembra que, ao notar algo de errado na Igreja o fiel deve, de modo respeitoso e bem fundamentado, levar isso aos Bispos. Tal é o que se lê no cânon 212 do Código de Direito Canônico vigente: “§ 2º Os fiéis têm a faculdade de expor aos Pastores da Igreja as suas necessidades, sobretudo espirituais e os seus anseios”. “§ 3º: Os fiéis, segundo a ciência, a competência e a proeminência de que desfrutam têm o direito e mesmo, por vezes, o dever de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas”.

Discordo apenas de duas falas de Olavo de Carvalho. A primeira é quando ele levanta dúvidas sobre o modo como foi interpretada pela Congregação para a Doutrina da Fé, a pedido de São João Paulo II, a terceira parte do segredo de Fátima. Devo notar que, mesmo não sendo um documento infalível – nem poderia ser, pois não veio do Papa ou de um Concílio Ecumênico e versa sobre uma revelação particular, portanto secundária para a fé sobrenatural dos fiéis (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 67) –, a interpretação merece atenção por provir de um organismo da Santa Sé que assessora o Santo Padre num tema vital para a Igreja: a fé (cf. J. Bujanda, SJ. Manual de Teologia Dogmática. Porto: Livraria Apostolado, 1944, p. 97). De mais a mais, a própria Irmã Lúcia, uma das videntes de Fátima, concordou, de modo integral, com a interpretação feita de suas visões (cf. Pergunte e Responderemos n. 461, outubro de 2000, p. 434-443). 

Outra fala de Carvalho é sobre uma Missa de que participou e, ao notar ser a homilia do sacerdote “um besteirol”, saiu para fumar a fim de não agredir o padre. Ora, o verdadeiro católico não há de falar, nem por brincadeira, em agredir um consagrado a Deus. Fazê-lo é cometer o grave pecado de sacrilégio de pessoa. Sim, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica n. 2120, “o sacrilégio consiste em profanar ou em tratar indignamente os sacramentos e outras ações litúrgicas, bem como as pessoas, as coisas e os lugares consagrados a Deus. O sacrilégio é um pecado grave, sobretudo quando é cometido contra a Eucaristia, pois neste sacramento, é o próprio corpo de Cristo que Se nos torna presente substancialmente”. Mais: Se preenchidos os requisitos do cânon 1370, § 3, o agressor do consagrado a Deus recebe pena canônica.

Por fim, tomo a liberdade de indicar cinco obras sobre a TL marxista: Julio Loredo de Izcue. Teologia da Libertação, um salva-vidas de chumbo para os pobres. IPCO, 2016, 455 págs. Felipe Aquino (org.). Teologia da Libertação. Cléofas, 2003, 134 págs. Pe. Estêvão Bettencourt, OSB, Teologia da Libertação, s/d, Mater Ecclesiae, 32 págs. Libertatis nuntius, 1984, e Libertatis conscientia, 1986, ambas no site da Santa Sé.

O filme, denso como é, exige certa cultura histórica e teológica. Creio, porém, que o amor à Igreja, mãe que nos gerou para a vida divina pelo Batismo, e, por conseguinte, ao seu magistério vivo, superam as eventuais dificuldades encontradas no documentário. 

Parabéns aos organizadores pelo sadio equilíbrio num tema tão espinhoso que também tocou na união “PT-CNBB”, conforme relatado por Luís Mir, estudioso ateu, na obra O Partido de Deus (Alaúde, 2007), p. 315-433 especialmente.

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