O designer e pesquisador brasileiro Átila Soares da Costa Filho acredita ter encontrado a provável assinatura de Leonardo da Vinci oculta em sua obra mais polêmica: o “Salvator Mundi”. A autoria da obra, que é a mais cara pintura já arrebatada em leilões (450 milhões de dólares), vem sendo ferozmente discutida no meio acadêmico, sobretudo, no que diz respeito ao fato de as restaurações terem interferido em sua avaliação.
A pintura havia sido leiloada ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman em 2017 pela Christie's de Nova York. Assim, com as melhores reproduções após a limpeza e antes do restauro aos quais a obra fora submetida, foi possível, segundo Átila Soares da Costa, detectar as linhas que fortemente induzem ao reconhecimento da assinatura - graças à intervenção de um avançado software de edição de imagens.
O nome no olho direito?
O pesquisador, também especialista em História da Arte, Arqueologia e Patrimônio, explica: “O elemento que achamos ao analisar algumas reproduções em alta resolução da pintura, vem das marcas em seu olho direito (ponto de vista do Cristo), talvez indicando uma inscrição: 'lionardo'. Encontrado ao longo da curvatura logo abaixo da íris, é semelhante a algumas assinaturas de Da Vinci. Como de costume, as linhas aqui também não são fáceis de se identificar, mas uma soma gráfica sequencial de evidências parece indicar alguma “intenção” por trás do que possa parecer apenas marcas ao acaso".
Átila Soares da Costa ainda acrescenta: “Quanto a eventuais suspeitas de que a restauração da Dra. Modestini possa ter 'fabricado' involuntariamente estas linhas, devemos considerar que mais da metade da área na qual esta 'inscrição' repousa, aparentemente, escapou de danos mais perceptíveis - o que é bem evidenciado pelo infravermelho. Além disto, esta parte foi completamente limpa da pintura antiga."
Restauração no olho direito
O pesquisador brasileiro vai além:
"Modestini, aliás, garante que interveio o menos possível trabalhando aí. Como a mesma atesta que a restauração do olho direito foi razoavelmente satisfatória, pode-se entender que haja uma grande probabilidade de que a parte onde estas marcas estejam possa ter preservado a base de sua estrutura gráfica sobre a qual se desdobrou a recuperação total. Vale também a avaliação de Martin Kemp (talvez o maior especialista em Leonardo do mundo) que, pasmo ao ver diretamente os resultados, declarou que, acima do olho direito havia notado a manipulação da tinta por Da Vinci usando a palma da mão (típico de Leonardo). Em outras palavras, tudo isto pode ser entendido como um atestado de boa fidelidade sobre o que podemos ver hoje nesta fração em relação ao que deve ter sido há 500 anos".
A descoberta foi publicada na revista “Humanitas” (Ed.Escala, São Paulo) em abril de 2022, assim como, recentemente, na página do projeto "L'Invisibile nell'Arte" / Comitê Nacional pela Valorização dos Bens Históricos, Culturais e Ambientais (Roma, Itália).