São cada vez mais as vozes de altos responsáveis da Igreja em Moçambique a admitirem a abertura do processo para a beatificação da Irmã Maria de Coppi, uma religiosa italiana, de 83 anos de idade, assassinada a 6 de setembro durante o ataque de um grupo de terroristas à missão comboniana de Chipene.
Apesar de o processo só poder avançar cinco anos após a sua morte, ou seja, em 2027, D. Alberto Vera, referiu-se abertamente a esta possibilidade durante uma conferência organizada pela Fundação AIS Internacional.
O Bispo de Nacala lembrou o perfil generoso da irmã, que dedicou praticamente seis décadas da sua vida ao povo moçambicano. “Eu conhecia-a e posso dizer que ela era a imagem de uma mãe, de uma santa. Ela estava realmente a ajudar toda a gente, com amor simples e humilde.” O prelado afirmou mesmo ser “possível um processo por martírio”.
Terrorismo
Na ocasião, o D. Alberto descreveu a forma como a irmã foi morta a tiro por um dos cerca de vinte terroristas que atacaram e destruíram por completo a missão católica. “Um dos terroristas disparou um tiro à queima-roupa na cabeça dela e ela caiu morta, ali mesmo", disse, descrevendo a religiosa como uma mulher santa, preocupada essencialmente com as crianças mais pobres da comunidade. “Era uma mãe, uma santa. Ela trabalhava com crianças, com os bebés e falava macua, uma língua local, e assim era mais fácil interagir com a comunidade.”
Também D. António Juliasse, Bispo de Pemba, falou já no processo de canonização da irmã italiana. Apesar de não a ter conhecido pessoalmente, ouviu falar muito dela e sempre com palavras de grande apreço. Um dos testemunhos que escutou foi de D. Luiz Lisboa, o antigo bispo de Pemba onde a irmã chegou a trabalhar numa missão.
“Ela esteve em Pemba no tempo de D. Luiz e por via dele percebi a riqueza missionária que foi esta irmã para a Diocese de Pemba, em Balama, onde esteve. Foi uma irmã muito preocupada com a evangelização, sempre pronta a ir para as comunidades e também muito dedicada com a formação e com a formação da mulher”, disse D. Juliasse ao secretariado português da Fundação AIS.
Símbolo
Para o prelado, os terroristas mataram uma irmã que é agora um símbolo do cristianismo. “A razão da sua morte foi a sua fé e a sua missão”, diz. Questionado se estamos a falar já de uma mártir da Igreja, D. Juliasse responde: “Neste sentido, sim, sem dúvida”.
Quando ao arranque de um eventual processo de beatificação, o Bispo de Pemba recorda que se trata de algo que “leva algum tempo”. No entanto, reconhece que, “ao nível da fé das pessoas, certamente que já vão tomá-la como sua mártir pelo testemunho de vida e de missão que teve.”
Independentemente da vontade que as comunidades locais possam ter neste processo, ele só poderá ter início cinco anos após o falecimento da irmã. Essas são as regras da Igreja, como lembra à Fundação AIS o Bispo de Tete, que tem em mãos precisamente vários processos de beatificação de mártires da Igreja moçambicana, nomeadamente o dos catequistas de Guiúa.
Causa
D. Diamantino Antunes explica que qualquer processo só começará após haver alguém ou uma entidade que assuma a autoria da causa de beatificação. “Penso que será, obviamente, a congregação das irmãs combonianas que fará [nesse sentido] um pedido ao Bispo de Nacala para autorizar a abertura da causa. Ou seja, a causa só poderá avançar com a autorização do bispo diocesano, coisa que, é evidente, ele dará. Não tenho a mínima dúvida.”
O Bispo de Tete explica ainda que será necessária a nomeação de um postulador para este processo. Postulador que deverá começar a recolher o máximo de informações sobre a irmã, nomeadamente “tudo o que foi escrito sobre o assassinato na comunicação social e até os escritos da irmã e outros documentos”. Mas não só. D Diamantino Antunes refere que ao postulador caberá também “recolher os testemunhos orais dos que conheceram a irmã em vida, sobretudo os que testemunharam a sua morte no contexto em que aconteceu”.
Pormenor importante que o Bispo de Tete referiu também é a possibilidade, “e isso seria muito importante, de encontrar um dos membros do grupo que assassinou a irmã para [ele] dizer quais foram as causas que estiveram por trás deste macabro assassínio”. O processo pode ser demorado para se cumprirem todas as regras em vigor, mas em Moçambique são cada vez mais os que acreditam que vai mesmo acontecer…
(Com AIS)