O pe. Andrew Adeniyi Abayomi, pároco em Owo, no estado nigeriano de Ondo, lamenta:
"O mundo se afastou da Nigéria. Está acontecendo aqui um genocídio, mas ninguém se importa".
O que dá ao pe. Andrew a certeza de que está ocorrendo um genocídio em seu país?
Por um lado, ele viveu um ataque à sua igreja no último domingo de Pentecostes, quando homens armados mataram pelo menos 40 paroquianos durante a missa. Ele disse que, embora o ataque tenha durado 20 longos e angustiantes minutos, "o pessoal de segurança e a polícia que estavam próximos não vieram nos socorrer" - enquanto isso, ele mesmo teve de proteger dentro da sacristia as crianças assustadas e outros fiéis.
Foi o pe. Andrew quem escreveu o prefácio do novo relatório da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), intitulado "Perseguidos e Esquecidos?", que contém as estatísticas 2020-2022 sobre a perseguição contra os cristãos no mundo. A ACN, por sua vez, é uma instituição de caridade católica que atende às necessidades pastorais e humanitárias da Igreja perseguida e sofredora. A fundação relata que mais de 7.600 cristãos foram mortos só na Nigéria durante o período em análise, que vai de outubro de 2020 a setembro de 2022.
O pe. Andrew complementa:
"Cristãos são mortos em toda a África. Suas igrejas são atacadas e suas aldeias são arrasadas. No Paquistão, eles são presos injustamente sob acusações espúrias de blasfêmia contra o islã. Meninas cristãs menores de idade são sequestradas, estupradas, forçadas a se converter [ao islã] e a se casar com homens de meia-idade em países como Egito, Moçambique e Paquistão. Na China e na Coreia do Norte, governos totalitários esmagam os fiéis e monitoram todos os seus movimentos".
Aumento em 75% dos países
O novo relatório informa que, em 75% dos países pesquisados, a opressão ou perseguição aos cristãos aumentou no período.
Na Ásia, o autoritarismo estatal tem sido o fator crítico para o agravamento da opressão contra os cristãos em países como Mianmar, China e Vietnã, entre outros.
Segundo o relatório, "os indicadores sugeriram fortemente que, durante o período em análise, a perseguição aos cristãos continuou a piorar nos principais países classificados como preocupantes. O nacionalismo religioso e o autoritarismo intensificaram os problemas para os fiéis – incluindo o retorno do Talibã ao poder no Afeganistão, o que levou os cristãos e outras minorias a tentarem desesperadamente escapar do país. A violência sistemática e um clima de controle provocaram o aumento da opressão aos cristãos em países tão diversos como Coreia do Norte, China, Índia e Mianmar".
Ao mesmo tempo, a escalada da violência – muitas vezes destinada a expulsar os cristãos – significou que os fiéis sofreram algumas das campanhas de intimidação mais cruéis do mundo, orquestradas por agentes militantes não estatais.
O limiar do genocídio
O relatório prossegue:
"De particular preocupação a este respeito é a África, onde o extremismo ameaça comunidades cristãs anteriormente fortes. Na Nigéria e em outros países, essa violência ultrapassa claramente o limiar do genocídio".
A "extrema perseguição aos cristãos" na Coreia do Norte também "atingiu o limiar do genocídio, com relatos de assassinatos, abortos forçados, infanticídio e escravidão".
750 mortos entre 1000 fiéis dentro de uma igreja
Um dos eventos mais horríveis detalhados no relatório foi o ataque de novembro de 2020 à Igreja Ortodoxa Etíope Maryam Tsiyon em Aksum, na Etiópia, onde os cristãos locais acreditam que esteja a Arca da Aliança. Uma fonte local disse à ACN que havia cerca de mil pessoas na igreja quando o ataque ocorreu - e que, dentro os mil fiéis, "750 foram mortos com certeza".
A Anistia Internacional verificou o massacre depois de falar com 41 sobreviventes e testemunhas. "Tropas eritreias que lutavam no estado de Tigray, na Etiópia, mataram sistematicamente centenas de civis desarmados na cidade de Aksum, no norte, de 28 a 29 de novembro, abrindo fogo nas ruas e realizando ataques de casa em casa, num massacre que pode constituir um crime contra a humanidade".
Piora no Catar
De particular interesse atual devido à projeção da Copa do Mundo, as condições para os cristãos pioraram no Catar. O relatório registra que, "apesar das melhoras, incluindo a remoção de algumas referências anticristãs nos livros escolares, houve um aumento acentuado nos relatos de intolerância".
Algumas notícias positivas
O relatório traz também algumas notícias positivas, apesar do cenário geral dramaticamente sombrio.
Dos sete países do Oriente Médio pesquisados, o Iraque realmente experimentou uma melhora para os cristãos. "Um programa abrangente de estabilização pós-Estado Islâmico, envolvendo a reconstrução de cidades e vilas cristãs, casas, escolas, igrejas e outras instalações públicas, foi coroado pela tão esperada visita papal em março de 2021".
O relatório concluiu que os governos estão "começando a reconhecer a importância da liberdade de religião ou crença", mas há um longo caminho a percorrer para garantir a proteção das minorias cristãs em muitos cantos do mundo.
"Parte do problema", considera o documento, "é uma percepção cultural equivocada no Ocidente, que continua negando que os cristãos sejam o grupo religioso mais perseguido".