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Dificuldades e testemunhos dos jovens no momento político brasileiro

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 27/11/22
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Pesquisador identificou três grupos distintos de jovens quanto a sua relação com a política

Num artigo anterior, comentei como a posição dos jovens perante a realidade tende a ser marcado tanto pelo fascínio diante da beleza quanto pela indignação diante dos males do mundo. A revolta juvenil pode incomodar aos adultos, mas um mundo com jovens apáticos será muito pior: perderá o próprio impulso para a construção do novo e para a melhora das condições de toda a humanidade – e toda a humanidade precisa sempre melhorar em um aspecto ou outro.

Nossos jovens brasileiros estão vivendo um momento particularmente difícil para quem está definindo a própria visão de mundo e os caminhos futuros. Os efeitos da polarização política têm sido impiedosos para todas as posições. Para onde se olha, o que se vê são acusações e críticas, algumas indevidas, mas a maioria com pelo menos um fundo de razão... O extremismo estimula a raiva e distorce a compreensão da realidade, o medo de ser manipulado frequentemente é instrumentalizado pelos próprios manipuladores. Para quem está se formando, neste contexto não é fácil adquirir um discernimento realista, que se oriente pela busca da verdade e pelo amor ao próximo.

Três posturas dos jovens frente à política

Diante dessa situação, um recente artigo sobre a participação política de jovens chineses pode nos ajudar a uma reflexão sobre nosso momento atual aqui no Brasil. O autor, Jun Fu, da Universidade de Melbourne, identificou três grupos distintos de jovens, quanto a sua relação com a política. Chamou-os de “jovens raivosos”, “cínicos impotentes” e “idealistas realistas”.

O primeiro grupo se identifica por uma relação visceral e agressiva com a política. Tendem a uma adesão acrítica às próprias posições e à completa negação da posição do outro, ao extremismo ideológico, à intransigência e à falta de diálogo.

Os cínicos impotentes acreditam que nada irá conseguir mudar o mundo. Sendo assim, o importante é procurar se dar bem nas condições atuais. A postura desses jovens é individualista, acrítica, conformista.

Os idealistas realistas querem construir um mundo melhor, mas estão cientes de suas limitações e procuram trabalhar dentro dessas limitações, procurando “fazer a diferença” naquilo que lhes é possível fazer.

Sem nenhuma preocupação estatística, de saber quem é mais comum e quem é menos comum, podemos assumir que esses três grupos também estão presentes entre os jovens brasileiros de hoje.

Infelizmente, nenhum dos dois primeiros grupos dará grande ajuda para a construção de uma política melhor em nosso País. Os cínicos impotentes não se esforçam para consertar o que está errado, tornando-se coniventes com a situação atual. Os jovens raivosos desperdiçam seu idealismo, deixando-se levar por movimentos e lideranças que acabam se revelando mais preocupados em garantir suas próprias posições, aniquilando os adversários, do que em construir o bem comum. A raiva, mesmo que muitas vezes compreensível, nunca é boa conselheira.

Evidentemente, idealistas realistas representam o perfil mais adequado para construir uma sociedade mais justa. Todos os papas, ao se dirigirem aos jovens, procuraram incentivar essa posição. Mas, tal postura não é tão fácil. Se olharmos para o mundo adulto, veremos que os jovens idealistas frequentemente se tornam adultos cínicos ou raivosos.

A sabedoria dos velhos e a liberdade dos jovens

Na exortação Christus Vivit (CV) Francisco escreve: “Aos jovens, está confiada uma tarefa imensa e difícil. Com fé no Ressuscitado, poderão enfrentá-la com criatividade e esperança [...] Misericórdia, criatividade e esperança fazem crescer a vida. [...] Sei que ‘o teu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor [...] Continuai a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo [...] Não olheis da sacada a vida, mergulhai nela, como fez Jesus’ [Vigília da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro]. Lutai pelo bem comum, sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo consumista e superficial”. (CV 173, 174)

A falta de referências adultas que mostrem que o idealismo pode ser vivido de forma realista é uma das maiores causas da desilusão e da revolta dos jovens quando pensam o mundo adulto. Mas, ao mesmo tempo, explicam o grande fascínio que idosos como o Papa Francisco exercem sobre os jovens. Pessoas como ele mostram aos jovens que é possível ter esperança, que o amor e a ternura não são sentimentos ilusórios, que a indignação pode não levar ao ressentimento e a uma violência desnorteada.

Por outro lado, em alguns momentos os próprios jovens podem se tornar uma referência para os adultos. Fiquei particularmente impressionado com o testemunho de um grupo de universitários católicos que, constatando a polarização política do momento atual, passaram a estudar a posição dos candidatos em que não votariam, não para criticá-los, mas para descobrir e o que tinham de bom. A maioria de nós procura sempre justificar a sua posição, desqualificando a do outro... Quanta liberdade tinham esses jovens para não se apegar a suas posições, mas, pelo contrário, procurar se abrir para o outro! 

Cabe a todo adulto cristão ser ele também um testemunho crível de uma postura humana capaz de criar uma política melhor – para que nossos jovens sejam “idealistas realistas”. Cada um de nós é chamado a praticar o discernimento e o amor característicos aos idosos sábios e idealistas, bem como a liberdade e o ímpeto desses jovens que se abriram para descobrir os valores do diferente. 

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