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Trabalho escravo gera lucro anual de 150 bilhões de dólares a criminosos

Trabalhos forçados e escravidão moderna no Haiti
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Francisco Vêneto - publicado em 06/12/22
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Pior cenário está no Oriente Médio, mas quase um terço dessa fortuna é obtido em países ricos e "democráticos"

O trabalho escravo, em pleno século 21, tem gerado um lucro anual de cerca de 150 bilhões de dólares para os criminosos que exploram os seus próprios semelhantes em áreas tão diversas quanto a construção civil, a confecção de roupas, a agricultura, as tarefas domésticas, a prostituição, as seitas religiosas e a escravidão sexual, inclusive em casamentos forçados.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência da ONU, 51,8 bilhões desse total são auferidos por exploradores na região da Ásia-Pacífico, onde cerca de 15,1 milhões de pessoas são submetidas a trabalhos forçados. Se a situação em si já é trágica, ela se torna ainda mais repulsiva quando se acrescenta que outros 46,9 bilhões são obtidos por criminosos que atuam em países considerados ricos e "democráticos", inclusive dentro da União Europeia.

Ainda de acordo com a OIT, a região do mundo com a maior incidência de seres humanos escravizados, em proporção à população, são os países árabes do Oriente Médio, com 5,3 escravos modernos em cada 1.000 habitantes.

No mundo, a OIT estima em 50 milhões o total de pessoas escravizadas - o que equivale a mais que o total da população da Espanha inteira, ou a cerca de 5 vezes a população de Portugal. E estes números, já aberrantes, estão piorando: apenas quatro anos atrás, eram 40 milhões.

Em cada grupo de 150 seres humanos, há pelo menos um que sofre o horror da escravidão moderna.

Mas o que se entende, afinal, por escravidão moderna?

Segundo matéria da BBC, o termo abrange uma gama de práticas criminosas que implicam exploração de pessoas em situações equiparáveis à escravidão, como, por exemplo:

  • Trabalhos forçados;
  • Servidão por dívidas;
  • Escravidão baseada em descendência;
  • Casamento forçado.

A servidão doméstica nem sempre é considerada escravidão propriamente dita, mas é outro campo fértil para abusos e exploração a portas fechadas.

Em síntese, trata-se da exploração sistemática da mão de obra de seres humanos vulneráveis, em condições degradantes e contrárias à sua vontade, para ganhos econômicos dos seus exploradores.

Só na categoria "trabalhos forçados", a OIT estima que haja 27,6 milhões de escravos modernos no mundo, um número maior do que a população inteira da Austrália.

Particularmente vulneráveis são os migrantes de nações pobres, que, como agravante, ficam literalmente presos aos trabalhos forçados e sem a possibilidade de retonar para seus países.

Um escândalo global do tipo envolveu milhares de operários recrutados para a construção dos estádios da atual Copa do Mundo no Catar, cujo governo chegou a ser acusado de responsabilidade pela morte de mais de 6 mil trabalhadores de países como Índia, Paquistão, Nepal e Bangladesh, submetidos a condições degradantes e extenuantes de trabalhos braçais enquantos seus passaportes eram retidos, seus pagamentos eram miseráveis e seus direitos eram virtualmente inexistentes.

50% da populaçaõ mundial não vive sob o estado de direito

Mesmo populações locais podem ser submetidas a esse horror dentro de seus próprios países, como ocorre na Índia - apontada por alguns analistas, segundo a BBC, como "o pior país para o trabalho forçado". Esses trabalhos, cabe enfatizar, incluem a exploração da mão de obra infantil.

A organização International Justice Mission UK estima em 4 bilhões o total de pessoas no mundo todo que "não são protegidas pelo estado de direito". É um número nada menos que aberrante: equivale a simplesmente metade da população global, que, neste ano, atingiu a marca dos 8 bilhões.

Dentro das categorias de trabalhos forçados ou por dívidas distribuem-se ainda cerca de 4,9 milhões de mulheres e crianças obrigadas a prestar-se à escravidão sexual. Grande parte dessas vítimas foram alvo do tráfico internacional de pessoas.

Pesquisadores e ativistas que combatem esse drama afirmam que o trauma causado por esse tipo de escravidão pode ser pior que o trauma de uma guerra.

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