A maternidade divina de Maria é uma certeza de fé muito antiga entre os cristãos que, ante heresias ameaçadoras, foi definida como dogma no Concílio de Éfeso, em 431. Estudemo-la, de modo breve, à luz da Escritura, da Tradição e do Magistério da Igreja.
As bases bíblicas da maternidade divina de Nossa Senhora são três: 1) Gl 4,4: “quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher”. Ora, essa mulher é, como sabemos, a Virgem Maria (cf. Lc 2,26-27). Contudo, o que mais importa aqui é a expressão “Deus enviou seu Filho”, ou seja, Jesus Cristo, é Deus. Antes de vir a este mundo, já existia eternamente no céu. Na “plenitude dos tempos”, contudo, “nasceu de uma mulher”. Ela é, portanto, mãe de Deus. Não na sua eternidade, mas na sua temporalidade: quando Ele, sem deixar de ser Deus, assumiu a natureza humana em tudo, menos no pecado (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 456-483). 2) Rm 9,4-5: “Eles são os israelitas [...] deles descende Cristo, segundo a carne, o qual é, sobre todas as coisas, Deus bendito para sempre”. Esta passagem reforça a de Gl 4,4, por sustentar que, sem deixar de ser Deus, Jesus provém – segundo a carne – dos israelitas, pois foi gerado entre eles: Cristo-Deus é geração de Maria. 3) Lc 1,35: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus”. Pois bem, a expressão “será chamado” corresponde a “é”, no sentido de ser. Logo, o “ente santo que nascer de ti é o Filho de Deus” no sentido pleno da palavra. Maria é, pois, mãe de Deus (cf. Cândido Pozo, SJ. María en la obra de la salvación. Madri: BAC, 1974, p. 285-286 – a Escritura – e p. 287-290 – a Tradição).
Na Tradição, Santo Inácio de Antioquia († 108) assegura: “Nosso Deus, Jesus Cristo, foi gestado por Maria, em seu seio, conforme a permissão de Deus; da linhagem, é claro, de Davi; por obra do Espírito Santo” (Ad Ephesios 18,2). São Justino († 165) diz: “Jesus Cristo também é Deus”. É aquele que “como já dissemos, por meio de uma virgem, se fez homem” (Apologia I,63). Santo Irineu († 202 aproximadamente), ao recordar Cristo como o novo Adão (cf. Rm 5,12-20), ensina: “Recapitulando em Si Adão, ao tomar de Maria, que ainda era virgem, o seu ser [humano], o próprio Verbo recebia exatamente uma geração que recapitulava a de Adão” (Adversus haereses, 3,21,10). Santo Atanásio († 108) é, entre outros Padres da Igreja (São Basílio, São Gregório Nazianzeno, São Gregório de Nissa, São Cirilo de Jerusalém, Santo Ambrósio, São Vicente de Lerins etc.), muito claro quanto ao título de Mãe de Deus dado à Virgem Maria: “Aquele Verbo que, no céu, foi gerado do Pai, de modo inefável, inexplicável, incompreensível e eterno, é, ele mesmo, gerado, aqui na terra, no tempo, pela Virgem Mãe de Deus, Maria” (De Incarnatione Verbi Dei et contra arianos, 8). De mais a mais, a expressão “Santa Mãe de Deus” [Theotókos] ocorre na conhecida oração Sub tuum praesidium do século III (cf. Pergunte e Responderemos n. 457, junho de 2000, p. 280-284).
Pois bem, Nestório († 451), patriarca de Constantinopla, tentando explicitar, de modo teológico, como a divindade e a humanidade se relacionam em Cristo, afirmou que o Verbo divino, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, apenas habita na ou reveste a humanidade de Jesus. Em consequência, existiriam duas pessoas em Cristo: a humana, gerada por Maria, à qual teria se unido – por um vínculo meramente afetivo ou moral – a divina. Logo, Nossa Senhora não era Theotókos (Mãe de Deus), mas Christotókos (Mãe de Cristo enquanto ser humano apenas).
Ora, o Magistério da Igreja, no Concílio de Éfeso (431), declarou que os Santos Padres não hesitaram em chamar Maria de “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (Catecismo da Igreja Católica n. 466, citando Denzinger 251).
Por tudo isso, muito confiantes, rezamos: Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores.