Está claro que nossa fé não nasce de nossos méritos ou de raciocínios teóricos. Pelo contrário: a fé é um dom de Deus. A Sua graça ajuda-nos a despertar da indiferença e a abrir espaço para questões importantes, questões que nos fazem sair da presunção de estarmos bem e abrir-nos ao que está para além de nós.
Não devemos ter medo de experimentar a inquietação de nossas perguntas. O Papa Francisco nos diz:
"O caminho da fé começa quando, com a graça de Deus, damos espaço à inquietação que nos mantém acordados; quando nos deixamos questionar, quando não nos contentamos com a tranquilidade dos nossos hábitos, mas arriscamo-nos, arriscamo-nos nos desafios de cada dia; quando deixamos de nos manter em um espaço neutro e decidimos viver nos espaços desconfortáveis da vida, feitos de relações com os outros, surpresas, imprevistos, projetos a realizar, sonhos a realizar, medos a enfrentar, de sofrimentos que ferem a carne."
É nestes momentos que surgem no nosso coração as perguntas verdadeiramente importantes, aquelas que nos abrem à busca de Deus: Onde está a felicidade para mim? Onde está aquele amor que não se quebra diante da fragilidade, do fracasso ou da traição? Quais são as oportunidades escondidas em minhas crises e sofrimentos?
Muitas vezes procuramos acomodar o coração, sedá-lo, sedar a alma, até que não haja mais inquietação.
Mas Deus habita nas inquietudes e também em outros "lugares". Quer encontrá-lo? Ele está nas seguintes situações:
1Nas perguntas inquietas
Deus vive em nossas perguntas inquietas; nelas "nós o procuramos como a noite procura a aurora".
Ele está no silêncio que nos perturba antes dos fracassos, antes da morte e no fim de toda a nossa grandeza. Está na necessidade de justiça e amor que carregamos e em cada acontecimento da realidade. Ele é o mistério do outro que estamos constantemente procurando.
Portanto, este é o primeiro "lugar" onde você pode encontrar Deus: na inquietação das perguntas. Não tenhamos medo de entrar neste caminho que leva a Jesus.
2No risco do caminho
O segundo lugar onde podemos encontrar o Senhor é no risco e nos perigos do caminho.
As dúvidas, mesmo espirituais, se não as colocarmos, se não orientarmos o nosso movimento interior para Deus e para a sua palavra, podem conduzir-nos à frustração e à desolação.
Por isso, não podemos parar, mas sempre buscar, sempre descobrir, nunca deixar de nos surpreender.
Sem um caminho contínuo, sem um diálogo constante com o Senhor, sem a escuta da Palavra e sem perseverança não se pode crescer. Uma mera noção de Deus e alguma oração para acalmar a consciência não são suficientes; é preciso seguir Jesus e seu Evangelho, discutir tudo com Ele na oração, procurá-lo nas situações cotidianas e no rosto dos outros.
A fé é um caminho, a fé é uma peregrinação, a fé é uma história na qual é preciso sempre recomeçar.
3Na adoração
Este é o ponto decisivo. Nossas preocupações, nossas perguntas, nossos caminhos espirituais devem convergir na Adoração ao Senhor. Ali encontramos a fonte de tudo, porque é o Senhor quem faz nascer em nós o sentir e o agir.
Tudo nasce e tudo culmina ali, porque o fim de tudo não é atingir uma meta pessoal e receber a glória para nós mesmos, mas encontrar Deus e deixarmos ser abraçados pelo seu amor.
De nada adianta sermos grandes apóstolos se não colocarmos Jesus no centro e não o adorarmos.
Na Adoração, aprendemos a estar diante de Deus - não tanto para pedir ou fazer alguma coisa, mas para nos calar e nos abandonar ao seu amor, para sermos regenerados por Sua misericórdia.
Perdemos o sentido da Adoração, porque perdemos a capacidade de compreender as inquietações e perdemos a coragem de seguir em frente com os riscos do caminho.
Hoje o Senhor nos convida a adorar para não nos curvarmos diante das coisas que acontecem ou diante da lógica sedutora que nos afasta do caminho. Vamos?