Uma das histórias mais intrigantes do Velho Testamento é a de Absalão. O drama começa com uma situação muito desumana: Amnom, primogênito de Davi, violentou uma de suas meio-irmãs, Tamar.
O irmão dela, Absalão, esperava que o pai fizesse justiça à princesa, a qual morou em sua casa por dois anos, durante os quais Davi não a chamou sequer para um beijo. Absalão casou, teve uma filhinha, em quem pôs o nome da irmã. Davi ficou inerte e Amnom passava impune por tudo isso, sendo ele o sucessor natural ao trono.
Depois deste biênio, Absalão resolve fazer justiça com as próprias mãos: manda matar Amnom e foge para a casa do avô, onde passa mais dois anos sem que nada seja feito.
Ele retorna a Jerusalém, mora a dois quilômetros do palácio. Passam mais dois anos e ele, então, força a barra para que Davi o receba. Quando os dois se confrontam, o pai apenas lhe dá um beijo, sem nada dizer, apesar de haver um estupro incestuoso, apesar de haver um fratricídio.
É então que Absalão, revoltado, diz que não há justiça na terra e começa uma revolta armada, uma subversão. O fim da história é triste: Absalão é morto e os gritos de Davi se nos tornam quase sonoros na Escritura – “Absalão, meu filho! Meu filho, Absalão! Por que não morri eu em teu lugar?”.
— Por detrás do ato subversivo de Absalão há uma história de injustiça e omissão, de proteção do crime e de desumanas delinquências. Julgar a história pelo fim é tratar o sintoma como causa. Não há como curar uma ferida sem tratá-la pela origem.
Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook