Quando éramos pequenos e tínhamos o sol, era impossível ficarmos sozinhos porque todas as coisas tinham vida. E nós nos encantávamos com a vida das coisas. A morte era estranha porque a pessoa ficava lá de olhos fechados fingindo que dormia - como quando as pessoas dormiam fingindo que morriam.
Morrer talvez significasse não ver alguém por um tempo maior, mas não que a pessoa deixasse de existir. Afinal o que a existência tinha a ver com a visibilidade? O próprio tempo era elástico, maleável e infinito... antes de aprendermos a contar.
Aprender a contar tornou o tempo terrivelmente finito! E nos pedaços estáticos de tempo, também fomos aprendendo a ser mais rigidamente instalados em nós mesmos, limitados no espaço por uma cobertura de pele, cada vez mais isolados do mundo e do outro.
E a vida foi ficando parada, se movendo como uma roda dentada e não mais como o fluir de um rio de fantasias. No entanto, ainda podíamos manter a certeza secreta de que todo aquele jeito de ser estático das coisas era puro fingimento.
Quando éramos pequenos tínhamos o sol e ele nos incendiava com inevitável doçura. Não sabíamos que amávamos porque não sabíamos como era não amar, como era não ser, como era não viver. A educação ainda não havia destituído a vida de sentido, nem roubado de nós o mistério.
Quando éramos pequenos, tínhamos o sol, e éramos grandes. Somente depois que nos tornamos grandes, adultos, é que ficamos pequenos. Nossa percepção e sentidos limitou-se à realidade aparente e perdemos o invisível de vista. Não tínhamos mais o sol.
Anoiteceu tão de repente! Não! Anoiteceu devagar e, um dia, de repente, percebemos!
A noite, no entanto, pode nos levar para um lugar profundo e rico. Lá dentro!
E o que torna esse lugar interessante é que disseram que lá, em algum lugar lá no fundo, deve brilhar um sol.”
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