- O que o Papa Francisco ainda tem que fazer após dez anos de pontificado
- Criação de um conselho sinodal em Frankfurt
- O Bispo de Hong Kong visitará a diocese de Pequim em abril
1O que o Papa Francisco ainda tem que fazer após dez anos de pontificado
Por I.MEDIA: Após 10 anos de pontificado, o Papa Francisco já realizou uma série de reformas. Mas aos 86 anos de idade, o primeiro papa sul-americano na história ainda tem projetos estratégicos a realizar. A agência I.MEDIA listou dez deles.
1- Concluir o Sínodo sobre a Sinodalidade
O Sínodo sobre a Sinodalidade - que o Cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral, prefere chamar de "Sínodo sobre o futuro da Igreja" - deveria ser o selo de um pontificado reformista durante o qual muitas portas foram abertas, mas com trabalhos ainda em andamento. O princípio da co-responsabilidade dos leigos na vida da Igreja, incluindo a visibilidade litúrgica, já foi formalizado com a instituição dos ministérios dos catequistas, leitores e acólitos, o que levará vários anos mais para se infundir nas dioceses. Em Roma, as assembléias sinodais de outubro de 2023 e 2024 serão passos importantes na implementação do Concílio Vaticano II e no desenvolvimento de uma cultura mais dinâmica de cooperação entre o clero e os leigos. Ele poderia então emitir uma exortação apostólica selando um novo modo de organização do poder na Igreja.
2- Implementar a reforma da Cúria Romana
A implementação concreta da Constituição Apostólica Praedicate Evangelium sobre a organização da Cúria Romana continuará sendo uma tarefa importante para o Papa Francisco, mas também, com toda a probabilidade, para seu sucessor. A reescrita dos estatutos, regulamentos e organograma de cada dicastério poderá levar vários meses, ou mesmo anos, com uma nova cultura de trabalho que poderá dar origem a algumas tensões, particularmente em termos de contratos a termo certo para novos funcionários. A assunção de responsabilidade pelos leigos deve ser incorporada na primeira nomeação de uma mulher para chefiar um departamento. Uma hipótese plausível seria a promoção de uma das duas subsecretárias, Gabriella Gambino ou Linda Ghisoni, como prefeita do dicastério para os leigos, família e vida. Esta nomeação poderia vir após a JMJ em Lisboa. O atual prefeito, o cardeal americano Kevin Farrell, já excedeu o mandato teórico desde o outono de 2022.
3- Honrar uma série de viagens
Como o 266º papa celebra seu 10º aniversário de pontificado e já tem cerca de 40 viagens a seu crédito, os projetos permanecem sobre a mesa. Dois destinos foram confirmados por enquanto: Hungria de 28 a 30 de abril e Portugal em agosto próximo, para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. O próprio pontífice disse que irá a Marselha - sem ser uma visita de Estado à França - em setembro de 2023, durante uma viagem que poderia incluir também a Mongólia. Vários países estão em espera, como o Líbano, onde uma viagem foi planejada para junho de 2022 e depois cancelada no último momento, e o sudeste asiático (Timor Leste, Papua Nova Guiné e Indonésia), onde uma viagem foi planejada para setembro de 2020, mas cancelada por causa da pandemia. O Papa também disse que estava pensando em ir à Índia em 2024 e à Turquia em 2025 para o 1700º aniversário do primeiro Conselho de Nicéia. E ele aceitou os convites da Croácia e Montenegro. Além disso, há viagens que o Bispo de Roma gostaria de fazer, mas que são difíceis de realizar: Ucrânia e Rússia, assim como a Coréia do Norte.
4- Encontrar uma saída para a crise com Moscou
Mesmo que isso signifique causar profunda irritação na Ucrânia e em certos países diretamente confrontados com a ameaça de Moscou, como a Polônia, o Papa Francisco tem se empenhado em manter canais de comunicação com a Rússia apesar da ofensiva desencadeada por Vladimir Putin sobre seu vizinho, onde ele já estava travando uma guerra latente desde 2014. A diplomacia papal tem mantido contatos com o Estado russo, e continuará este vínculo, por mais tênue que seja, pois Roma nunca tomou a iniciativa de romper as relações diplomáticas com ninguém. O outro eixo de diálogo, talvez ainda mais complexo, está no nível do diálogo ecumênico com o Patriarcado de Moscou. O alinhamento do Patriarca Kirill com o Kremlin ofendeu os promotores deste diálogo no Vaticano, mas as pontes não foram cortadas. A viagem do Papa à Hungria, de 28 a 30 de abril, poderia ser uma oportunidade para um contato discreto com a ortodoxia russa, já que o Metropolita Hilarion, anteriormente encarregado das relações externas do Patriarcado de Moscou, está agora colocado neste país da Europa Central.
5- Responder aos alemães
Em sua Carta ao Povo de Deus em Movimento na Alemanha em 2019, o Papa Francisco encorajou o processo lançado pelo episcopado alemão para combater a crise na Igreja Católica, particularmente a dos abusos. Embora ele tenha ocasionalmente criticado a direção tomada pelo caminho sinodal, ele nunca comentou diretamente as próprias propostas reformistas defendidas na Alemanha para não interferir, ao contrário de seu aparato curial, que em numerosas ocasiões confrontou os bispos alemães. Com o próximo fim do processo sinodal, em 11 de março, o pontífice recuperará sua liberdade de ação, mas ninguém sabe como ele reagirá. Será que ele poderia pôr um fim aos vários projetos do processo? Ou permitirá aos bispos alemães liberdade de ação, com o risco de chocar uma parte substancial do mundo católico no resto do mundo? Ou será que ele conseguirá impedir que os bispos alemães levem a bom termo as questões mais controversas? A tarefa é delicada, especialmente porque muita intervenção de sua parte poderia minar a credibilidade do Sínodo sobre o futuro da Igreja, atualmente em curso.
6- Concluir o julgamento do caso do edifício de Londres
O grande escândalo financeiro do pontificado, o chamado "caso do edifício de Londres", que começou com a aquisição de uma propriedade na capital britânica pela Secretaria de Estado em 2014 e continua hoje no grande julgamento aberto em julho de 2021 pelo judiciário do Vaticano, é sem dúvida o maior teste enfrentado pelo pontífice em sua missão de normalizar e racionalizar a economia da Santa Sé. O escândalo pode, portanto, ser considerado como tendo permitido ao pontífice implementar gradualmente seu plano de reforma, em particular separando as diversas funções econômicas e reduzindo ao mínimo a autonomia financeira das estruturas curiais, especialmente a da Secretaria de Estado. Ele também aboliu muitos dos privilégios dos "príncipes da Igreja", aceitando mesmo que um cardeal - Angelo Becciu - fosse enviado à justiça civil. Entretanto, este julgamento está mostrando seus limites: a falta de recursos do judiciário do Vaticano significa que existe o risco de uma solução insatisfatória do caso, qualquer que seja o resultado. A conclusão deste caso judicial certamente removeria um espinho do lado do próximo papa.
7- Sair do quebra-cabeça chinês
Esta é uma das questões mais controversas deste pontificado. O acordo secreto alcançado em 2018 com o governo chinês sobre a nomeação de bispos é alvo de muitas críticas em Roma e na comunidade católica chinesa. Para muitos, o acordo é uma traição à Igreja clandestina chinesa - católicos que se recusam a obedecer à associação católica criada pelo Partido Comunista. A aposta diplomática da Santa Sé sob o comando de Francisco está sendo testada e o próprio Vaticano reconhece as dificuldades. Apenas seis nomeações episcopais foram feitas desde 2018. E as diferenças irromperam publicamente em novembro passado, com a Santa Sé expressando surpresa e pesar pela primeira vez na instalação de um bispo não reconhecido por Roma. Apesar do desejo pessoal do Papa de manter os canais abertos, está se mostrando complicado para a diplomacia do Vaticano contornar a estratégia de sinicização operada pelo Presidente chinês Xi Jinping e sua recusa de interferência estrangeira.
8- Resolver a espinhosa questão do diaconato feminino
Entre os projetos abertos, está a nova comissão de estudo sobre o diaconato feminino, lançada em 8 de abril de 2020. Composta por 10 membros, incluindo cinco mulheres - entre elas a teóloga francesa Anne-Marie Pelletier -, esta comissão foi criada após o fracasso de um primeiro grupo de estudo lançado pelo pontífice em 2016 sobre o assunto - a pedido da União Internacional de Superiores Gerais (UISG). O resultado "não é extraordinário", disse o Papa em 2019, observando que não houve unanimidade entre os membros do grupo. De acordo com uma fonte próxima ao assunto, o Papa Francisco está de posse do trabalho realizado pela segunda comissão. Resta saber que ação ele decidirá tomar, e quando.
9- Implementar a reforma da Diocese de Roma
No dia seguinte ao funeral de Bento XVI, em 6 de janeiro, uma nova constituição para a diocese de Roma foi liberada sem aviso prévio. Nela, o Papa reforma radicalmente a organização de sua diocese para torná-la mais missionária e sinodal. Ele reforçou consideravelmente seu papel na direção da diocese - antes delegado em grande parte ao Cardeal Vigário de Roma - e agora deve até mesmo estar envolvido na escolha dos párocos da Cidade Eterna. O pontífice também está criando dois órgãos para lutar contra o abuso de menores e para reforçar a transparência financeira. Para alguns observadores, o Papa pretende com esta constituição fazer de Roma uma diocese modelo para outros bispos. Mas, assim como sua constituição que reforma a Cúria, este novo governo pode levar tempo para se instalar.
10- A preparação do Grande Jubileu de 2025
Dentro de dois anos, Roma celebrará um grande evento orquestrado quatro vezes por século: o Jubileu de 2025, anunciado pelo Papa Francisco em fevereiro de 2020, cujo tema será "Peregrinos da Esperança". Espera-se que milhões de católicos de todo o mundo se reúnam na Cidade Eterna para entrar na Porta Santa da Basílica de São Pedro em Roma e receber uma indulgência extraordinária - ou seja, a remissão das penas por seus pecados. Os preparativos para este ano especial já começaram, coordenados pelo Dicastério para a Evangelização. Este seria o segundo jubileu do pontificado de Francisco, após o Ano da Misericórdia em 2016, que foi estendido a todas as dioceses do mundo.
2Criação de um conselho sinodal em Frankfurt
Por Camille Dalmas, Frankfurt: "Queremos discutir e decidir juntos, e queremos fazê-lo no âmbito das possibilidades oferecidas pela lei canônica", assegurou o Bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã (DBK), em uma coletiva de imprensa anterior à quinta e última sessão da Via Sinodal Alemã, que começou em Frankfurt em 9 de março, e que contou com a presença de I.MEDIA. O Bispo de Limburg explicou que a criação de um Conselho Sinodal, votado pelo "Synodale Weg", mas rejeitado por Roma, seria examinado por três anos por um "comitê sinodal" a fim de encontrar uma solução que esteja "em harmonia" com a Igreja universal.
Muita preocupação fora da Alemanha
O presidente da DBK também garantiu que a carta enviada à DBK em 23 de janeiro pelos Cardeais da Cúria Pietro Parolin, Marc Ouellet e Luis Ladaria Ferrer havia sido levada em consideração, assim como todas as "advertências" de Roma. A carta, aprovada na forma específica pelo Papa Francisco, se opunha à criação de qualquer conselho sinodal que, segundo eles, minaria a autoridade do bispo em sua diocese.
Em sua sessão anterior, em outubro de 2022, o Caminho Sinodal Alemã havia aprovado um documento de ação sobre a criação de tal conselho, que incluiria leigos e poderia, segundo alguns, competir com a Conferência Episcopal.
O bispo Bätzing anunciou que esta proposta seria retomada pelos representantes alemães no Sínodo sobre o futuro da Igreja, a ser realizado em Roma no próximo outono.
Alguns momentos depois, na abertura da quinta sessão do Caminho Sinodal Alemão, o Bispo Bätzing reconheceu, diante de todos os participantes, o quanto havia interesse no Caminho Sinodal Alemão, mas também o quanto havia preocupação fora da Alemanha. Ele disse que levava estes medos "muito a sério". "Um caminho especial, ou mesmo um cisma, é uma ideia absurda", insistiu ele.
O bispo de Limburg também comentou a possível não participação de cinco bispos alemães nesta última sessão, incluindo o cardeal Rainer-Maria Woelki, arcebispo de Colônia, dizendo que sua participação não era obrigatória. Ele também confirmou que os cinco membros conservadores que deixaram o caminho sinodal há alguns dias para protestar contra a direção do processo não seriam substituídos, após uma decisão votada na reunião da DBK em Dresden alguns dias antes.
Pressão sobre os bispos
A presidente do caminho sinodal, Irme Stetter-Karp, contestou a "acusação de que o caminho sinodal não é um caminho espiritual". Ela disse que uma das razões para isto era que os participantes às vezes "se perdem nos debates sobre as regras de procedimento e os estatutos".
O vice-presidente, Thomas Söding, advertiu que os bispos alemães poderiam decidir bloquear os textos trazidos pela assembléia sinodal - como já havia acontecido na sessão anterior, em outubro passado. "Não aceitaremos um veto. Se os textos não receberem a maioria necessária de dois terços dos bispos, indicaremos claramente quem é o responsável", disse ele.
3O Bispo de Hong Kong visitará a diocese de Pequim em abril
Por Hugues Lefèvre: A convite do Arcebispo Joseph Li Shan, de Beijing, o Bispo Stephen Chow, de Hong Kong, visitará a diocese de Beijing por cinco dias a partir de 17 de abril, a diocese de Hong Kong anunciou em 9 de março. Esta visita oficial, a primeira desde 1985, deveria "promover intercâmbios e interações entre os dois lados", disse a diocese.
A declaração dizia que o Bispo Stephen Chow, um jesuíta de 63 anos, nomeado há dois anos pelo Papa Francisco, será acompanhado pelo Bispo Joseph Ha, bispo auxiliar de Hong Kong, e pelo Padre Peter Chou, seu vigário geral.
"Esta visita sublinha a missão da diocese de Hong Kong de ser uma "Igreja ponte", explica a diocese que relata que o convite de Pequim data do ano passado e que foi aceito em "um espírito de fraternidade no Senhor".
O anúncio chega quando Pequim tem pressionado nos últimos anos para acelerar a integração de Hong Kong na China comunista. O enclave de Hong Kong tem sido teoricamente governado pelo modelo "um país, dois sistemas" desde sua transferência do Reino Unido para a China em 1997, e é uma ilha democrática dentro do país comunista. O fato de que a liberdade de culto é respeitada no enclave há muito tempo o tornou uma das portas privilegiadas da Igreja Católica para o continente.
Mas este status especial parece estar desaparecendo gradualmente e a sociedade de Hong Kong tende a se alinhar com os chineses. Em 2020, uma lei sobre segurança nacional em Hong Kong simbolizou este novo controle de Beijing sobre o arquipélago e a península. A mudança do bispo de Hong Kong para Pequim pode ser parte de um lento processo de harmonização de modelos.
Uma diplomacia eclesial complexa
O Arcebispo de Pequim, Joseph Li Shan, foi eleito em agosto de 2022 para dirigir a Associação Patriótica de Católicos Chineses controlada pelo Partido Comunista - que não existe em Hong Kong. Ao contrário de seu predecessor em Pequim, sua nomeação como bispo em 2007 foi aprovada por Roma.
"O que é interessante é que o convite veio da diocese de Pequim e não da conferência dos bispos chineses", observa um conhecedor da Igreja na China. Esta última é afiliada à Associação Patriótica e não é reconhecida pela Santa Sé. "Esta escolha é inteligente, pois nos permite não embaraçar o Arcebispo Chow e Roma", continua o especialista que acredita que, durante os cinco dias da visita, a delegação de Hong Kong poderia visitar a sede da Conferência Episcopal.
Esta visita a Pequim não será uma novidade histórica. Em 1985, o bispo John Baptist Wu, então bispo de Hong Kong, que ainda era uma colônia britânica, visitou a capital chinesa e Xangai. A viagem foi descrita como um "sucesso", além do fato de que o bispo foi impedido de se encontrar com o bispo Ignazio Gong Pinmei, que estava na prisão há 30 anos. O bispo Wu, conhecido por seu trabalho em aproximar a Igreja clandestina da Igreja oficial, foi mais tarde criado um cardeal por João Paulo II em 1988, o que parece indicar que sua visita foi aprovada pela Santa Sé.
Bispo Stephen Chow, um "bom bispo" para o Cardeal Zen
Esta nova visita chega quatro anos após a assinatura de um acordo secreto entre a Santa Sé e Pequim sobre a nomeação dos bispos. Muitas vezes criticado, este acordo pastoral tem produzido até agora poucos resultados. Apenas seis nomeações de bispos foram feitas desde 2018. E as diferenças surgiram publicamente em novembro passado, com a Santa Sé expressando surpresa e pesar pela primeira vez na instalação de um bispo não reconhecido por Roma.
O cardeal Zen, bispo emérito de Hong Kong, tem estado entre os mais vocais críticos da estratégia de Roma para a China. Em 6 de janeiro, durante um encontro com o Papa Francisco no dia seguinte ao funeral de Bento XVI, o Cardeal Zen não levantou questões sensíveis com o pontífice, mas agradeceu-lhe pela nomeação do Bispo Stephen Chow em Hong Kong, um "bom bispo", de acordo com ele.
"Esta visita foi certamente validada pelo Vaticano e faz parte do diálogo que vem acontecendo nos últimos anos", diz nossa fonte, que adverte que este diálogo com a China continua sendo "necessariamente um jogo perigoso" que se assemelha a uma partida de xadrez. "Mas, em todo caso, para sobreviver, a Igreja em Hong Kong não pode permanecer em autarquia e deve aprender a navegar em águas turbulentas", analisa o especialista.