Olho meu filho de 15 anos - e com autismo - e meu coração explode de tanto amor. Ele acabou de passar o último mês acordando às cinco da manhã, arrumando seu uniforme e saindo para o “trabalho”. Como aprendiz de padeiro, está fazendo um estágio para aprimorar suas habilidades e se preparar para o mercado de trabalho.
A decisão de retirá-lo do ensino regular e matriculá-lo em uma escola de panificação em uma idade tão jovem foi difícil. Afinal, estaríamos reduzindo drasticamente suas futuras opções de carreira. Mas, às vezes, precisamos ser realistas sobre o que nossos filhos podem alcançar e ouvir o que eles realmente querem fazer.
A experiência do meu filho é o exemplo perfeito: anos atrás, ele foi diagnosticado com dispraxia grave que afetou sua coordenação olho-mão. Alguns anos depois, veio o diagnóstico de autismo, bem como o da ansiedade.
Ele era incapaz de processar certas informações e ficava sobrecarregado com muita facilidade. Se ele tivesse que fazer algo fora de sua rotina, precisava estar preparado para o que iria acontecer e como ele poderia se sentir a respeito. Apesar de sua inteligência, não havia como ele lidar com uma educação clássica.
Alguns pais daqueles que são neurodivergentes, compreensivelmente, acham muito difícil tomar uma decisão tão importante. No entanto, graças a uma conversa com a psiquiatra do meu filho, achei muito fácil fazer essa escolha.
Parte do diagnóstico de autismo de meu filho envolveu um teste aprofundado no qual respondi a inúmeras perguntas sobre sua infância e tive que avaliar alguns de seus comportamentos. Foram necessárias três sessões para concluir e, após cada sessão, eu me sentia completamente exausta. A avaliação me fez perceber o quão diferente meu homenzinho era.
Uma pergunta de longo alcance
Ao final da última sessão, a médica me perguntou: “Como você se sente vendo as dificuldades do seu filho?”
Estranhamente, essa simples pergunta me fez sentir ouvida. Por anos eu sabia que meu filho era diferente de seus irmãos, embora não necessariamente de um jeito ruim. Ele precisava ser tratado de forma diferente e, felizmente, eu instintivamente sabia o que fazer. Mas era cansativo.
Com o diagnóstico em mãos, senti um peso enorme nos ombros. Acabaram-se as preocupações que eu tinha de que deveria estar fazendo as coisas de outra maneira. Graças a essa avaliação, passou a ser normal que meu filho tivesse dificuldades e visse o mundo com outras lentes. Eu não sentia mais que ele precisava se adaptar a um mundo que nunca realmente entenderia; ele só tinha que aprender a lidar com situações complicadas.
Mas o mais importante, essa pergunta me fez focar não nos meus sentimentos, mas nos do meu filho. Como ele se sentiria por ser oficialmente rotulado como autista?
Sentimentos que se complementam
Acontece que isso ajudou a dar a ele uma voz e uma compreensão de por que ele acha a vida opressiva e por que tantas vezes começa a chorar (embora esses colapsos sejam substancialmente menos frequentes, já que ele não se sente mais frustrado).
Também permitiu que ele expressasse o fato de que se sente mais feliz quando está assando pães, por exemplo. Ele se sente calmo, necessário e capaz de alcançar algo concreto que ele entende. Com sensibilidade para odores, ele se delicia com os cheiros dos pães recém-assados - como muitos de nós!
Então, quando ele terminou seu primeiro estágio como padeiro, tivemos a certeza de que tomamos a decisão certa para ele. E se a médica me fizesse a mesma pergunta novamente, eu diria que me sinto grata por saber que meu filho precisa de apoio extra e que meus sentimentos giram em torno dos sentimentos de meu filho e de fazê-lo perceber o quanto ele pode alcançar por causa dos dons que seu autismo lhe traz.