O italiano Rolando Maria Rivi, hoje beato, tinha 14 anos e era seminarista menor quando, em 1944, as forças nazistas da Alemanha ocuparam a Itália e fecharam o seminário em que ele havia entrado apenas dois anos antes.
Obrigado a voltar para a casa dos pais, Rolando se recusou a abandonar o uso da batina; afinal, ele ainda era seminarista, apesar da opressão.
Os pais, porém, tinham medo e insistiam para que o filho usasse roupas civis, já que ele não era obrigado a permanecer de batina. De fato, Rolando não era clérigo; aliás, ainda nem tinha feito os votos religiosos e, portanto, estava canonicamente dispensado de usar o hábito talar. Mas ele fazia questão de manter aquele sinal visível da própria entrega a Deus e demonstrar inclusive exteriormente que não iria renunciar à sua vocação ao sacerdócio. E declarava: "Eu sou de Jesus".
Sequestro, tortura e martírio
Entretanto, o medo que os pais de Rolando sentiam se justificou: em abril de 1945, já nas semanas finais da Segunda Guerra Mundial, ele foi raptado por um grupo de "partigiani", guerrilheiros comunistas engajados na resistência italiana aos nazistas. Os próprios raptores deixaram um bilhete aos pais de Rolando: "Non cercatelo. Viene un attimo con noi partigiani" ("Não o procurem. Ele vai passar um tempinho conosco, os 'partigiani'").
Os guerrilheiros comunistas levaram o adolescente para uma floresta nas proximidades do povoado de Piane di Monchio, na província de Módena. Começaram ali os seus dois dias de humilhações e torturas.
Acusando-o sem qualquer embasamento de ser um "espião dos nazistas", os criminosos despojaram Rolando da sua batina e o forçaram a cavar a própria cova. Obrigado a se ajoelhar, o seminarista rezou o Pai-Nosso diante dos seus algozes. Ao final da oração, foi martirizado com um tiro na cabeça e outro no peito - aos 14 anos de idade.
Em 1951, os assassinos Giuseppe Corghi, que tinha disparado, e Delciso Rioli, comandante da 27ª Brigada Garibaldi "Dolo", foram condenados a 23 anos de prisão. Depois do julgamento de recursos nas três instâncias da justiça italiana, os dois criminosos foram definitivamente condenados por homicídio a 22 anos de prisão, mas só cumpriram seis em decorrência de leis de anistia firmadas à época.
O processo de canonização
Desde que sofreu o martírio, Rolando Maria Rivi passou a ser informalmente venerado como intercessor junto a Deus. Uma série de curas inexplicáveis atribuídas à sua intercessão começou a ser relatada às autoridades da Igreja. Em janeiro de 2006, a arquidiocese de Módena abriu a sua causa de canonização e, em maio de 2012, o Vaticano reconheceu oficilamente o martírio de Rolando, sofrido em decorrência de ódio contra a fé ("in odium fidei").
Em 28 de março de 2013, o Papa Francisco autorizou a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar o decreto de reconhecimento do martírio e, em 5 de outubro do mesmo ano, foi celebrada a sua cerimônia de beatificação.