Anos atrás, um amigo fez uma pergunta que eu lutava para responder desde então: por que ir a um museu de arte quando você pode procurar as pinturas na internet?
Hoje, finalmente encontrei a resposta em uma exposição de Van Gogh. Não apenas senti uma conexão tangível com o homem ao contemplar as telas que ele pintou, mas pude compreender melhor como ele usava brilhantemente as cores em cada pincelada.
Dito isso, deixei a exposição com outra questão para ponderar. Dispersos pelas pinturas, havia inúmeros fatos sobre a vida de Van Gogh e muitas citações do pintor. Uma que achei particularmente comovente mencionava o amor do artista pela terra e seu povo, especialmente aqueles que se dedicavam ao trabalho manual. Ele os via como indivíduos “iluminados por (…) uma religiosidade que sacralizava a humildade para a labuta diária”.
Na vida cotidiana das pessoas comuns, Van Gogh via uma vivacidade latente implorando por expressão. Por meio de seu talento com o pincel, ele foi capaz de expressá-la de uma maneira nova e duradoura.
Uma dessas “pessoas comuns” foi o semeador. Com um saco pendurado no ombro, ele lançava sementes no campo. A “ação” da pintura é bastante simples: um homem fazendo seu trabalho. Mas por que eu fiquei tão preso nessa simples ação? O que foi que fixou minha atenção na pintura? Certamente não achei que fosse a pintura mais impressionante - e ainda assim - lá estava eu, olhando para ela.
Seria justo descrever a pintura como triste. A paleta de cores é monótona, com o uso de azul e cinza. Até mesmo o céu, que não está nublado nem claro. A única coisa que vi, no entanto, foi vibração.
O homem não está fazendo seu trabalho, está vivendo sua vocação, nutrido pela própria terra que manipula. Na tela, está retratado todo um drama entre o homem e o cosmos.
Van Gogh foi agraciado com os olhos para ver o belo no ordinário. Ele compartilhou sua visão comigo quando contemplei aquela pintura na vida real - e em tempo real. Por causa dessa interação, agora me pergunto com frequência: que dramas vejo se desenrolar todos os dias que simplesmente descarto como comuns?