Depois de mais de 200 anos exercendo o seu ministério em Nova Iorque, as Irmãs da Caridade anunciaram, com pesar, que a congregação está chegando ao fim. A comunidade religiosa fundada por Santa Elizabeth Ann Seton, a primeira mulher nascida em solo norte-americano a ser canonizada pela Igreja, não aceitará mais novas candidatas à comunidade e confirma que está no "caminho da conclusão".
O principal fator por trás desta impactante decisão é a falta de novas candidatas à congregação. Se na década de 1960 as irmãs contavam com mais de 1.300 religiosas, o total desabou para apenas 154, com a média de idade em torno de 85 anos. Além disso, as irmãs não receberam nenhuma nova aspirante nos últimos 20 anos.
Em entrevista à Associated Press, a irmã Margaret Egan explicou que a decisão pelo "caminho da conclusão" foi tomada após muita oração e contemplação. Ela relembrou o silêncio emocionado que tomou conta da sala de reuniões depois que as religiosas diretoras chegaram a essa determinação, sentadas diante de uma lista que registrava os nomes de todas as Irmãs de Caridade que já compuseram a comunidade ao longo de toda a sua história bicentenária.
"Nós levantamos aquele livro e dissemos: 'Elas estão aqui conosco'. É o reconhecimento de que todas nós fizemos o que Deus nos pediu para fazer", disse a irmã Margaret Egan, sentada na mesma sala de reunião, dias após o anúncio.
Fundadas em 1809 por Santa Elizabeth Ann Seton, as Irmãs da Caridade foram a primeira congregação religiosa feminina a ser fundada nos Estados Unidos. As irmãs viram suas fileiras crescerem ao longo do século XIX, o que lhes permitiu abrir escolas e hospitais, consolidando a sua missão como educadoras e cuidadoras.
Por volta de 1846, a comunidade de Nova Iorque se tornou independente. As Irmãs de Caridade também expandiram a sua missão mediante comunidades nas Bahamas e na Guatemala.
Embora a extinção da comunidade religiosa deixe uma grave lacuna em toda a região de Nova Iorque, as irmãs se manifestaram satisfeitas com o trabalho realizado até aqui. Reconheceram-se como comunidade ativa durante um período de muitas "mudanças sociais", principalmente após o Concílio Vaticano II. A época marcou, por exemplo, a troca do hábito religioso pelo uso de roupas civis.
A irmã Margaret observou, nas declarações à AP:
"Quando algo assim acontece, você pensa: 'O que fizemos de errado?'. Tenho certeza de que muitas vezes questionamos todas as mudanças que fizemos nos anos 70 - o hábito, a saída das escolas, o início de vários outros ministérios (…) Mas quando você para e pensa, reconhece que cada pessoa que adotou qualquer uma dessas mudanças o fez na fé, tentando ler os sinais dos tempos e realizar o que foi chamada a realizar. E isso não pode estar errado".