"Há um desequilíbrio crescente no sistema econômico global", disse o Papa Francisco ao se dirigir aos novos embaixadores da Islândia, Bangladesh, Síria, Gâmbia e Cazaquistão no sábado, durante a apresentação de suas credenciais. Como é de praxe para os embaixadores que não residem em tempo integral em Roma, a cerimônia de apresentação coletiva das credenciais foi uma oportunidade para o Papa rever as principais linhas da ação diplomática da Santa Sé.
Prestando homenagem especial ao novo embaixador da Síria, o Papa Francisco expressou seus pensamentos para "o amado povo sírio, que ainda está se recuperando do recente e violento terremoto, em meio ao sofrimento contínuo causado pelo conflito armado".
Francisco reconheceu que a situação internacional pode deixar os diplomatas "perturbados ou desanimados", mencionando em particular, poucas horas antes de receber Volodymyr Zelensky, "a guerra em curso na Ucrânia, que trouxe sofrimento e morte indescritíveis".
Grave crise
Ele também mencionou os confrontos no Sudão, na República Democrática do Congo, na Birmânia, no Líbano e em Jerusalém, bem como a "grave crise social, econômica e humanitária" no Haiti. Em um nível mais global, o pontífice argentino se referiu ao "fluxo de migração forçada" ligado aos "efeitos da mudança climática" e às muitas situações de grande pobreza que persistem no mundo, caracterizadas pela "falta de acesso à água potável, alimentos, cuidados básicos de saúde, educação e trabalho digno".
Ao mesmo tempo em que reconhece "o extraordinário progresso tecnológico e científico alcançado" e "os passos já dados para tratar de questões sociais e desenvolver o direito internacional", o Papa reiterou sua preocupação com a desigualdade de acesso a esse progresso e com a "terceira guerra mundial em pedaços" que continua a pontuar o noticiário internacional. "A voz da razão e os apelos à paz muitas vezes caem em ouvidos surdos", observou o Papa com amargura.
Família humana
Os embaixadores, que exercem uma função "nobre e antiga", ressaltou Francisco, são, portanto, chamados a exercer seu serviço a toda a "família humana", enquanto "servem fielmente" seu próprio país de origem. Cada embaixador deve ser "um homem ou uma mulher de diálogo, um construtor de pontes" e até mesmo uma "figura de esperança", insistiu o Papa.
O bispo de Roma lembrou que a "posição bem definida" da Santa Sé na comunidade internacional está ligada à sua "neutralidade positiva". Os esforços da diplomacia papal, especialmente na resolução de conflitos, "não envolvem a busca de interesses políticos, comerciais ou militares", lembrou.
Francisco assegurou aos embaixadores que todas as instituições da Santa Sé estão prontas para se engajar em um "diálogo aberto e honesto" com eles.