Dom Matthew Ndagoso é o arcebispo de Kaduna, uma das arquidioceses mais perigosas do mundo para os fiéis e para o clero católico. De fato, só de 2020 para cá, oito padres dessa diocese do centro-norte da Nigéria foram sequestrados e três deles foram assassinados no cativeiro. Os fiéis leigos também convivem com a constante ameaça de sofrer diversos graus de violência, desde as agressões psicológicas até os mais brutais espancamentos, quando não a morte.
Igrejas, seminários, conventos e comunidades cristãs são alvos contínuos de terroristas de inspiração jihadista, tais como o grupo fundamentalista Boko Haram, que chegou a ser considerado mais selvagem que o famigerado Estado Islâmico, e os pastores nômades da etnia fulani, que, embora adeptos de uma seita muçulmana, costumam atacar principalmente por motivações territoriais.
Números aterradores
Só nos primeiros 100 dias de 2023, o número de cristãos indefesos que foram assassinados no país chegou a 1.041 - no mínimo, já que nem todos os dados são registrados. Ao longo dos últimos 14 anos, pelo menos 52.250 pessoas foram mortas na Nigéria apenas por serem cristãs. Os dados são do relatório “Cristãos Mártires na Nigéria”, publicado neste último abril pela Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito (Intersociety), com sede na própria Nigéria.
Pelo menos 30.250 foram mortos desde 2015, quando o presidente Muhhamadu Buhari chegou ao poder – de fato, o relatório lhe atribui responsabilidade por estes assassinatos devido ao seu “islamismo radical”, assim como pelo assassinato de cerca de 34.000 muçulmanos moderados que também foram massacrados no mesmo período. O documento aponta ainda que, sob o presidente Buhari, 18.000 igrejas cristãs e 2.200 escolas cristãs foram incendiadas.
O relatório acrescenta que há mais de 50 milhões de cristãos, principalmente no norte da Nigéria, enfrentando “sérias ameaças jihadistas pelo simples fato de serem cristãos”. Pelo menos “14 milhões foram desalojados e 8 milhões forçados a fugir de casa para não serem assassinados”. Cerca de “5 milhões foram forçados a recorrer a campos de deslocados internos ou de refugiados”.
Clero e fiéis desprotegidos
Segundo informações da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), dom Matthew Ndagoso não quer abandonar a arquidiocese:
“Tenho cinco cachorros, para poder dormir tranquilamente à noite (…) Muitas vezes passamos por veículos na estrada que foram atacados. É um lembrete de que isso pode acontecer conosco a qualquer momento”.
O arcebispo só pode viajar atualmente se houver uma escolta armada disponível.
Como não é viável fornecer a mesma proteção a cada um dos padres, freiras e fiéis católicos nigerianos, todos eles precisam planejar bem cada deslocamento.
Dom Matthew observa:
“A fé precisa de ministros, mas sabemos que corremos riscos toda vez que enviamos alguém para algum lugar. Estamos voltando aos primeiros dias da Igreja”.
Silêncio cúmplice
De acordo com a Lista de Vigilância 2023 da organização Portas Abertas, divulgada em 17 de janeiro, a Nigéria é um dos lugares mais perigosos do mundo para “seguir Jesus”. O relatório informa que o país responde hoje por 89% dos cristãos martirizados em todo o mundo.
A assim chamada "grande mídia internacional", enquanto isso, se abstém de informar ao público sobre os níveis de horror a que chegou a cristofobia na Nigéria.