Durante sua oração sacerdotal, descrita no capítulo 17 de São João, Jesus rezou assim: “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim” (Jo 17, 21-23)
No início a Igreja era uma e una, como narram os Atos do Apóstolos: “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum” (At 2,44). E o que aconteceu com esta unidade? Ela se perdeu. Quem foi o responsável? “Para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a luz do Evangelho, onde resplandece a glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Cor 4,4). Quem é o deus deste mundo? O diabo, diabulus, aquele que divide. Voltemos ao início. Qual? Aquele instituído por Nosso Senhor. A unidade.
Quando São João afirmou que “o mundo todo jaz sob o poder do Maligno” (1 Jo 5,19) pareceu-nos uma realidade muito distante no tempo, mas o que vemos e vivemos hoje é o triste fato desta profecia: fome, guerras, doenças pandêmicas, ódios, indiferença, ambição, discórdias, e tudo aquilo que São Paulo falou sobre as obras da carne (Gal 5,16). Com os cristãos estão divididos entre si, a batalha dificilmente chegará a vitória final: a paz, o amor, a bondade, e os demais frutos do Espírito (Gal 5,22s). Qual é o caminho para esta união? O ecumenismo.
A prática cristã do diálogo
Algumas lideranças cristãs e membros de comunidades “torcem o nariz” quando ouvem o termo ecumenismo. Na visão deles, o ecumenismo tem por objetivo juntar as igrejas e, no fim, formar uma Única Igreja, mesclando ritos, costumes, hinos, diaconias e tudo mais, de modo que não exista mais tantas denominações cristãs como hoje, mas sim uma única e Toda Poderosa Igreja. Quem pensa assim precisa urgentemente rever seus conceitos.
Dentro do movimento ecumênico não há qualquer interesse parecido com isso. Muito pelo contrário! Enfatiza-se que as diferenças enriquecem a prática cristã do diálogo. Por exemplo: se na sua igreja as pessoas cantam mais animadamente e na minha tudo é mais formal, a ideia não é criarmos um “meio termo” para juntar ambas; mas sim que você compreenda que Deus está tanto nas “coisas formais”, quanto nas “coisas mais animadas”. E assim caminhamos – ecumenicamente – com a consciência de que Deus se manifesta nessa diversidade.
No movimento ecumênico a ideia é que católicos, evangélicos, protestantes, ortodoxos, anglicanos e muitos outros grupos cristãos, sentem-se à mesa para debater sobre temas que a eles são comuns, tais como o testemunho cristão em terras distantes; os trabalhos sociais que se podem fazer juntos; a produção acadêmica; liberdade religiosa; entre outros.
O que temos em comum
Tendo um pouco de boa vontade fica fácil perceber que todo cristão pode – e deve – praticar mais o diálogo ecumênico. O objetivo nunca será “mostrar que a sua Igreja está mais certa do que a minha”. Se começar assim, é melhor nem começar! O objetivo primaz do diálogo ecumênico é ver “o que temos em comum” e, a partir disso, caminhar lado a lado em questões que podem envolver desde temas teológicos até serviços voluntários. Maior é o que nos une do que aquilo que nos separa – diz um adágio popular.
Jesus nos une em torno de uma certeza: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10,10). E essa certeza é comum a todos os grupos cristãos, do Oriente ao Ocidente. De Norte a Sul. Sem exceções! Portanto, aqueles argumentos de que “não podemos nos sentar com eles” em função de pontos secundários da fé cristã pode, em última análise, ser um pouco de vaidade. Ou medo de perder “mercado”. Sim, pois enquanto as igrejas se comportarem como “concorrentes” umas das outras, daí realmente será difícil estabelecer diálogos.
Há uma passagem bíblica que fala sobre isso. Ela é muito significativa e deveria ser melhor estudada, compreendida e vivida dentro das igrejas: “Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós, é por nós” (Mc 9,38-40) Quando compreendemos que o mais importante é que o nosso testemunho seja UNO (João 17, 21), podemos dar um passo a mais e “caminhar o segundo quilômetro” com aquele meu irmão e com aquela minha irmã que pensa diferente de mim, canta e cultua diferente de mim, mas dá o mesmo testemunho do que eu: “porque Deus amou o mundo de tal maneira...” (João 3,16).
O caminho da unidade
Imagine, por exemplo, católicos e evangélicos organizando juntos grandes campanhas de doação de sangue? Ou realizando momentos de reflexão e diálogo sobre fé e caridade? Imagine o poder que isso não teria frente aos desafios que um país como o Brasil tem? Ações assim já acontecem há anos, mas infelizmente ainda são pouco conhecidas e difundidas, como é o caso da Semana de Oração pela Unidade Cristã.
A Semana de Oração pela Unidade Cristã acontece desde 1968 e tem como principal objetivo rezar pela unidade do povo cristão. Essa semana de oração é fincada na realidade dos cristãos espalhados pelo mundo e tem uma atenção especial com aqueles que mais sofrem, pois entende-se que não pode haver unidade onde não existe uma preocupação com o ser humano por inteiro! Esse ano, com a temática "Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça", a organização eucumênica (no Brasil, trata-se do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) pretende chamar a atenção para o profundo preconceito e violência racial que ainda persistem no mundo e, infelizmente, nos bancos das nossas igrejas! Segundo a organização “o testemunho de fé em Jesus Cristo precisa ser antirracista!”
Rezar pela unidade
O caminho da unidade cristã se dará realmente quando as duas principais armas forem utilizadas: o amor e a oração. Para este fim, atentemos e atendamos às palavras do Santo Padre em uma de suas catequeses:
“Rezar pela unidade significa lutar por ela. Sim, lutar, porque o nosso inimigo, o diabo – como o próprio vocábulo nos diz -, é “aquele que divide”. Ele instiga a divisão por toda parte e em diversos modos, ao passo que o Espírito Santo faz sempre convergir na unidade. Para que cresça a unidade entre nós, lutemos com os instrumentos que Deus nos deu: a oração e o amor. Quando superamos os preconceitos e vemos no outro um irmão e uma irmã a quem devemos amar, descobrimos que os cristãos de outras confissões são dons de Deus. Comecemos a rezar por eles e, quando possível, com eles, aprendendo assim a amá-los. Que esta nossa oração seja o ponto de partida para ajudar Jesus a realizar o Seu sonho de que todos sejam um.”
Na rede social de oração Hozana, uma intenção de oração especial foi criada para esse período. Clique aqui e reze conosco.
Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana