Sabemos, por notícias diversas, que o satanismo avança a passos largos em vários países, mas sobretudo nos Estados Unidos. Daí a oportunidade de examinarmos o assunto, ainda que de modo sucinto, à luz de fontes seguras.
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, OSB, afamado teólogo brasileiro, assim nos define: “Por satanismo entende-se o culto prestado por indivíduos ou grupo a Satã, tido como um ser real, misterioso, que, embora seja alheio a Deus, pode ajudar o homem” (Curso de Antropologia Teológica. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2017, p. 456). Daí a questão: Que compromissos compõem – a sós ou em grupo – esse pacto com o Maligno?
Via de regra, são doze pontos: 1) renegar o Batismo. 2) renegar a fé na Eucaristia. 3) recusar a obediência a Deus e dizer sim a Satanás, Lúcifer ou Belial. 4) rejeitar a Virgem Maria. 5) renegar os sacramentos. 6) pisotear a cruz. 7) pisotear as imagens da Virgem e dos Santos. 8) prestar juramento de fidelidade eterna ao príncipe das trevas, usando linguagem diabólica. 9) ser batizado em nome do demônio e escolher um nome correspondente. 10) receber numa das coxas a tatuagem que significa a pertença à seita, com o timbre diabólico. 11) assumir novos padrinhos pertencentes à seita. 12) roubar hóstias consagradas para os ritos sacrílegos. “Estes pontos vêm a ser a base do pacto satânico, pacto que é redigido por escrito e assinado com o sangue do próprio iniciado” (Pergunte e Responderemos n. 479, maio de 2002, p. 158).
Aqui, outro questionamento se levanta: Esse pacto diabólico é, de fato, possível? Em caso positivo, como explicá-lo? – Amparados nos irmãos Gustavo Antônio e Luís Sergio Solimeo, respondemos que o pacto com o demônio é, sim, possível. Isso porque “o homem pode entrar em relação com os Anjos e com os demônios, uma vez que uns e outros são seres inteligentes e livres. Nessa condição, tanto o homem quanto os Anjos e os demônios podem fazer uso de sua liberdade e unir-se para a obtenção de um fim comum. Mas, para isso, é preciso haver um ponto de contato entre uns e outros; quer dizer, é preciso que uns e outros tenham disposições análogas. Quando as relações são estabelecidas entre seres de natureza diversa, é evidente que o ser de natureza superior impõe as suas disposições ao inferior: é a lei do mais forte. Se o ser mais elevado é um espírito bom (isto é, um Anjo) o acordo se faz para o bem; se, ao contrário, o ser mais elevado é um espírito maligno, o acordo não pode fazer-se senão para o mal. Pois o demônio, espírito pervertido, não visa senão o mal” (Anjos e demônios: a luta contra o poder das trevas. 5ª ed. São Paulo: Artpress, 2014, p. 148-149).
Os mesmos autores, continuando a sua didática exposição, demonstram que, nesse pacto, o maior beneficiado é o demônio e, em contrapartida, o grande prejudicado é o ser humano. Eis suas palavras: “Como todo contrato, cada parte procura atender aos seus interesses. Se, de um lado, o espírito maligno aceita o acordo unicamente para o mal, a outra parte, o homem, poderá exigir que esse mal lhe traga alguma vantagem, ao menos subjetiva: dinheiro, honras, vingança, prazer; do contrário, não haverá razão para haver acordo. [...] Como é evidente, o homem não tem poder sobre os demônios e estes não são obrigados a atender ao que foi pactuado; mas o Maligno quando atende aos desejos do homem, não o faz porque esteja a isso obrigado, seja forçado a isso pelo homem, mas sim porque satisfaz à sua soberba ver-se solicitado pelo homem, e até venerado por ele, em lugar de Deus; de outro lado, atendendo a esses pedidos, ele pratica o mal, quer em relação a terceiros, como se dá com frequência, quer em relação ao próprio solicitante, cuja alma conduz à perdição, que é o que ele tem em vista ao aceitar o pacto” (idem, p. 149).
Por fim, uma questão crucial: Se satanás não tem poder infinito, mas requer sempre a licença de Deus para agir (cf. Jó 1,6-12; Lc 22,31-32; Mt 8,28-34), por que o Senhor lhe permite atuar? – Responde-nos o Catecismo da Igreja Católica: “A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas ‘nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam’ (Rm 8,28)” (n. 395).
Possa o triste avanço do satanismo afervorar o nosso amor a Deus e a repulsa ao maligno e terá o Senhor, em seus desígnios, extraído do mal um bem muito maior!