No século 17, no vilarejo francês de Paray le Monial, entre 1673 e 1675, uma religiosa do convento da Visitação, irmã Marguerite-Marie, de fé profunda e genuína, recebeu a visita de Jesus, que lhe manifestava seu coração sedento de amor pela humanidade. Nascia naquele século, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Nas grandes aparições, durante esses 3 anos, Jesus expressa sua tristeza quanto à frieza et à ingratidão do povo, sobretudo no que diz respeito à Eucaristia. De maneira talvez simples demais, podemos dizer que Jesus apresenta o seu Sagrado Coração sedento de amor para nos recordar o que Ele mesmo pediu aos seus discípulos séculos antes: “Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei em meu amor.” Estamos aqui no evangelho segundo João 15, 9.
Permanecer é ficar, demorar, entrar numa relação recíproca; é tornar-se amigo. Este convite de Jesus no evangelho é para cada um daqueles que deseja deixar o Cristo fazer parte de suas vidas. Mas permanecer somente não basta. É preciso permanecer no amor e não em qualquer amor, é preciso permanecer no amor de Jesus. E por quê? Porque só permanecendo em seu amor que podemos viver aquilo que esse amor faz: transforma!
É próprio do amor, transformar. Ou seja, dar uma outra forma. Elevar o objeto amado àquilo que ele tem de mais nobre. Senão, não é amor. Ora, Jesus amou e amou “até o fim” (Jo 13, 1) E seu amor estava enraizado em sua relação com o Pai. “Assim como o Pai me amou...” (Jo 15, 9) O amor do Pai pelo Filho é fonte do amor do Filho pelos seus discípulos. E este amor é definitivo. Deus não pode deixar de amar. E por mais que a humanidade se afaste dele, Ele sempre encontrará uma forma de manifestar seu amor. O amor de Jesus pelos discípulos é o transbordamento dessa relação de amor entre o Pai o Filho. E este transbordamento convida os discípulos, ou seja, nós, a entrar numa relação de reciprocidade, numa relação de amor profundo com Deus, mas também com os irmãos “amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” (Jo 15, 12)
Nesta relação, a iniciativa vem do Cristo. É ele que nos chama e nos convida. É Ele que abre as portas, mas a resposta é nossa, pessoal. E só há reciprocidade se há resposta. Resposta que gera engajamento, que responsabiliza e que nos coloca no caminho, não de um amor fonte de meros sentimentos agradáveis, mas no caminho de um amor que é capaz de olhar para si e para o outro numa atitude de doação.
Permanecer no amor de Jesus é deixar-se transformar do interior para o exterior. Pois seu amor transborda e este “coração que tanto amou o mundo” se apresente a cada um de nós para que possamos nos deixar amar, aprender a amar, responder a esse amor e, como discípulos, amar de um amor enraizado no amor de Cristo e nos doar “até o fim”.
Jesus, através de seu Sagrado Coração, nos mostra o quanto sua presença é transformadora. Quão revigorante é sua ação. Através do seu Sagrado Coração, Ele nos manifesta que ele vem no mais profundo de nossa vida para mostrar seu amor e para nos recordar de que Ele nos ama e deseja que sejamos seus amigos. Mostrando seu Coração, Jesus nos mostra a revelação de um amor que se entrega até o fim, no mais profundo centro da fragilidade humana para transformá-la. E ele continua nos fazendo este convite “permanecei em meu amor.”
Permanecer torna-se então uma atitude de devoção. De adoração. Permanecer no amor de Cristo é permanecer com Ele e Nele buscar a força que necessitamos. Nele, deixar-se consolar. Para permanecer nesse amor, muitas vezes precisamos de instrumentos concretos que nos ajudam a nos voltarmos para o essencial. Por isso, convido você a participar do Retiro ao Sagrado Coração, um Coração que tanto amou o mundo, na rede social de oração Hozana (clique aqui para participar).
Ele, que amou até ao extremo do amor, que é dar sua própria vida, nos manifestou seu coração aberto de onde jorra água viva, fonte de cura, de salvação e de libertação.
Padre Emmanuel Albuquerque, pelo Hozana