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Sabedoria monástica

convento de Roma

San Gregorio Magno al Celio

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Vanderlei de Lima - publicado em 20/06/23
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Nos seus dezoito anos de Prior geral da Congregação, Dom Benedetto formulou, de modo rápido e certeiro, quatro pontos programáticos que buscou seguir à risca

Eis um denso livro que reúne parte da grande obra escrita deixada por Dom Benedetto Calati, OSB Cam (1914-2000), prior geral da Congregação Camaldolense da Ordem de São Bento de 1969 a 1987.

Dom Benedetto é, por certo, o grande nome de destaque entre os camaldolenses do século XX e poderia, talvez, ser definido como um monge “de visão abrangente”. Foi ele quem reelaborou a fundamentação da vida monástica de sua Congregação nas suas raízes dos Padres da Igreja e na Palavra de Deus, como atestam seus numerosos escritos, seu magistério exercido na Faculdade Teológica do Ateneo Anselmianum e em outras Faculdades de Roma, suas homilias e diferentes tipos de encontros. Buscou tratar seus coirmãos de um modo muito humano, sem, ao mesmo tempo, se descuidar do que pedia a Igreja no seu tempo, sobretudo por meio do Concílio Vaticano II (1962-1965), inclusive em seus antecedentes e posteriores aplicações.

“Teve extremo respeito pelos moradores habituais do eremitério, mas diante da incongruência de alguns usos relativos aos horários, abstinências e jejuns ou silêncios prolongados, que se refletiam em doenças e neuroses por vezes evidentes, lembrou-se do ensinamento de seu bom Pedro, o Venerável, sendo pródigo nas dispensas com todos, até que terminou por estabelecer novos hábitos, aplicáveis a todos e adequados às dimensões humanas. Se alguém protestasse, ele respondia propondo a escolha da liberdade. Cada um deveria se sentir plenamente livre em empenhar-se a um estilo de vida mais rigoroso, se assim o considerasse oportuno. Ele, ao invés, o Prior, pensava que não deveria ser obrigatório para todos aquilo que nem todos conseguiam suportar com ânimo sereno e com corpo são” (p. 70; cf. Regra de São Bento 64,19).

Nos seus dezoito anos de Prior geral da Congregação, Dom Benedetto formulou, de modo rápido e certeiro, quatro pontos programáticos que buscou seguir à risca. São eles: “1) A atenção constante à Palavra de Deus no empenho pela lectio divina e pela homilia cotidianas. 2) O privilegium amoris (primado do amor) pela pessoa humana à luz da primazia do homem sobre qualquer outra lei ou costume humano, pois o sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado. 3) A fidelidade à oração comum para que a celebração litúrgica permaneça como fons et culmen (fonte e ápice) de todo e qualquer modo de viver em comunidade. 4) A abertura às pessoas, no diálogo constante com quem quer que se dirija aos monges, mas também na proposta ecumênica, tida como legítima e verdadeira prova da autenticidade de uma vocação monástica” (p. 71).

Ainda: Dom Benedetto realça a harmonia de vida presente no triplex bonum ao escrever o que segue: “Camáldoli tinha sido fundada sobre a tradição beneditina, relida por um homem profético, Romualdo de Ravena, e se havia enriquecido com fortes influências do monaquismo oriental e anglo-germânico. O triplex bonum (tríplice bem) – cenóbio, eremitério, evangelium paganorum (evangelização dos pagãos) – de inspiração romualdina, superava todo critério meramente jurídico e apelava para a síntese e a comunhão, não exterior, mas evangelicamente libertadora. O primado do eremitério, como sinal de liberdade pascal, encontrava significativamente o equilíbrio entre a experiência cenobítica e o carisma missionário” (p. 448). 

 Sim, realcemos um dado assaz importante, mas talvez pouco conhecido do grande público: “a Congregação Camaldolense da Ordem de São Bento é constituída por eremitérios e mosteiros. O elemento característico da tradição camaldolense é a unidade da família monástica no triplo bem de cenóbio-eremitério-evangelização. Três são os bens para aqueles que procuram o caminho do Senhor: para os noviços que vêm do mundo, o desejável cenóbio; para os maduros sedentos de Deus, a áurea solidão do eremitério; enfim, para aqueles que anseiam ‘dissolver-se e estar com Cristo’, o anúncio do Evangelho entre os pagãos” (VV. AA. Como água da fonte. São Paulo: Loyola, 2009, p. 11. Cf. São Bruno di Querfurt. Vita dei Cinque Fratelli. Camáldoli, 1951, p. 41).

Estudemos Sabedoria monástica com estima e sentir-nos-emos reanimados na oferta da própria vida a Deus e ao próximo.

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