Dom Leomar Antônio Brustolin, arcebispo de Santa Maria, RS, publicou neste último 26 de junho um importante artigo intitulado com uma pergunta incômoda para a militância pró-aborto: "Quando começa a vida?".
A pergunta é incômoda para a militância pró-aborto justamente porque exige uma resposta objetivamente científica, o que não convém às narrativas vaporosas que mentem que um ser humano só se torna um ser humano a partir de alguma contagem arbitrária de semanas de gestação, convencionada pelo palpite ou pelo viés de parlamentares ou magistrados e, por isso mesmo, podendo oscilar com ampla "margem de tolerância" ao sabor de épocas, lugares e, sobretudo, lobbies.
Alheia a essas politicagens, a biologia informa que um ser humano é ele próprio e não outra coisa desde o instante em que é formado, como zigoto, pela fusão do óvulo com o espermatozoide, constituindo, portanto, um novo ser humano desde o próprio instante da sua concepção. Aliás, a ciência biológica reafirmou inúmeras vezes esta simples constatação da realidade. Um exemplo oficial é o registro feito pelos participantes do VII Conclave Brasileiro de Academias de Medicina, realizado no Rio de Janeiro de 7 a 9 de maio de 1998. Eles redigiram com todas as letras:
"É um fato cientificamente comprovado que a vida humana tem início na fusão do óvulo com o espermatozoide, quando se forma o zigoto, que começa a existir e operar como uma unidade desde o momento da fecundação. Possui um genoma especificamente humano, que lhe confere uma identidade biológica única e irrepetível; portanto, uma individualidade dentro de sua espécie. É o executor do seu próprio desenvolvimento de maneira coordenada, gradual e sem solução de continuidade".
Uma pergunta "propositalmente deixada de lado"
Refletindo esta mesma obviedade, o arcebispo de Santa Maria registra que a pergunta sobre o começo da vida é "propositalmente deixada de lado no debate atual" porque "poderia pôr fim à disputa sobre a legalidade dos atos abortivos, pois, se estamos diante de uma vida humana, desde o primeiro instante da fecundação, então o aborto seria um crime, e, se não estamos, ele seria legal".
O artigo de dom Leomar menciona o subsídio sobre "Vida, Dom e Compromisso II", que também dá resposta à mesma questão. O texto recorda que, "durante a relação íntima de um casal, entre 200 e 600 milhões de espermatozoides participam do processo da geração de uma nova pessoa humana" e que, na maioria das vezes, "somente um fecundará o óvulo e dará origem a uma nova vida", a qual "é única e irrepetível, de tal modo que, se outro espermatozoide ou outro óvulo tivesse participado da fecundação, teria, como resultado, outra pessoa única e irrepetível".
Ele complementa que "os pais são colaboradores do processo que leva à concepção, mas não podem determinar qual óvulo e qual espermatozoide serão fecundados. Esse processo é um sinal evidente de que a vida é um grande dom, recebido gratuita e imerecidamente, sem qualquer escolha prévia de existir ou não".
"Desde o primeiro instante da fecundação"
Citando também a encíclica Evangelium Vitae, do Papa São João Paulo II, dom Leomar afirma que "o ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais – e primeiro de todos – o direito inviolável à vida de cada ser humano inocente".
O arcebispo enfatiza que não é apenas a teologia, mas sobretudo as ciências médicas que embasam a conclusão de que "desde o primeiro instante da fecundação estamos diante de um ser humano".
E finaliza:
"Aceitar, portanto, que só a concepção pode ser definida como o marco inicial da vida da pessoa humana não é, absolutamente, uma velha e piedosa crença religiosa nem uma vazia e ilusória teoria metafísica, mas um dado extremamente preciso da biologia moderna e das mais avançadas pesquisas genéticas. Não se trata de mera opinião religiosa ou demagogia; é, de fato, uma questão científica, filosófica, antropológica, ética e teológica".