Quando me candidatei ao seminário, como todos os candidatos, passei por uma avaliação psicológica. Examinando os resultados comigo, o psicólooa observou que eu parecia ter muito pouca capacidade de identificar meu estado emocional a qualquer momento. Essa afirmação me surpreendeu. "Sei perfeitamente quais são minhas emoções", pensei. Só mais tarde - muito mais tarde - percebi como eu fiquei chateado por ele ter dito aquilo.
O psicólogo estava absolutamente correto. Não é exatamente que eu não saiba identificar meus sentimentos, mas que preciso de tempo e reflexão para fazê-lo. Por exemplo, no final do dia, vou refletir sobre minhas ações e perceber que fui rude com minha esposa porque algum problema completamente diferente no trabalho estava me estressando. Eu tenho que fazer um esforço consciente para entender meus sentimentos - e, algumas vezes, não consigo.
Não há como escapar de nossas emoções
Até conhecer aquele psicólogo, eu pensava que era exatamente o tipo de pessoa que toma decisões com o intelecto e não experimenta fortes reações emocionais. Fiquei até orgulhoso disso.
Porém, o psicólogo observou que eu, de fato, tenho emoções como qualquer outra pessoa, mas perco o contato com elas. Quando isso acontece, minhas palavras e ações se tornam menos racionais porque não entendo minha condição interior, ou seja, as circunstâncias que formam o contexto de minhas decisões.
O certo é que minhas emoções afetam meu comportamento muito mais do que gostaria de admitir. É por isso que é tão importante que eu reserve um tempo para entender como estou me sentindo. Agir com base em emoções não examinadas é uma receita para o desastre. Esses são os momentos em que você pode atacar aleatoriamente e injustificadamente uma pessoa qualquer, ter uma explosão emocional repentina ou, se você for como eu, começar a se fechar e se retirar.
Desconfiança de sentimentos
A escritora Alice von Hildebrand observa que essa atitude se estende à nossa vida espiritual. Isso ocorre porque desconfiamos do papel que as emoções desempenham em nosso desenvolvimento pessoal. Ter sentimentos profundamente enraizados é visto com desconfiança, como se esses sentimentos obscurecessem nosso julgamento. Uma pessoa verdadeiramente espiritual supostamente olha além dos sentimentos, supera a miséria, a dúvida ou o desejo - e se aprofunda nos fatos duros e frios do assentimento intelectual.
No entanto, se fosse esse o caso, por que o psicólogo me incentivou a dedicar um tempo para identificar minhas emoções? Por que, em vez disso, ele não me elogiou por expulsá-los de minha consciência ativa? E por que o salmista nos encoraja a “deleitar-se no Senhor”? Essa ideia de prazer me parece suspeitamente como um apego emocional.
A resposta, claro, é que seria profundamente prejudicial à saúde eliminar os sentimentos. Somos criaturas corpóreas, cheias de sentimentos para o bem e para o mal. Somos feitos para experimentar toda a gama de emoções. Há valor nas emoções. Elas não foram feiaos para serem deixadas de lado. Muito pelo contrário, os sentimentos existem para para serem abraçados.
Que papel devem desempenhar as emoções?
Isso não quer dizer que nossas emoções devam tomar o lugar do intelecto. Como as emoções são tão variáveis, isso causaria grandes problemas. Imagine, por exemplo, se um casal considerasse que o valor de seu amor está diretamente ligado ao que eles sentem um pelo outro. O casamento evaporaria na primeira discussão.
A maneira de entender o valor de seguir nossos sentimentos é, primeiramente, reconhecer uma verdade um tanto contrária – nossas emoções nos causam tanta dificuldade porque tendemos a não sentir o suficiente e de forma incorreta. Muitas de nossas emoções são reações rápidas e não examinadas a vários estímulos. Elas são apenas indecisas, reacionárias. Geralmente, são uma resposta a eventos superficiais e coloridos por nossa perspectiva egoísta.
Não é assim que devemos nos sentir. Os seres humanos são criados para sentir profundamente. O truque é aprender a sentir emoções plenas, bem ordenadas e expansivas sobre o tipo certo de coisas. O filósofo Platão expressa isso de forma sucinta quando diz que devemos aprender a “amar o que deve ser amado”.
A vida não é um exercício intelectual. Viver sem emoções seria meia vida, carente de riqueza e plenitude. O intelecto e as emoções devem cooperar – o intelecto guiando as emoções, e as emoções dando corpo ao intelecto.
Aproveite sua vida
Uma pessoa saudável não nega que tem sentimentos, mas procura purificá-los. Dessa forma, chegamos a um envolvimento mais autêntico conosco, com as outras pessoas e com o mundo.
Desfrute o fato de passar tempo com amigos e familiares. Procure sentir a presença de Deus na Missa ou na oração.
Devemos ter um apego emocional positivo às coisas boas. Esta é a alegria da vida, amar o bem e a beleza e desejar naturalmente apreciá-los e, se possível, incorporá-los.
Uma pessoa plenamente viva ama aquilo que é amável, e o faz com todo o seu ser. E é por isso que Alice von Hildebrand descreve sentimentos que são nobres e bons como “joias preciosas aos olhos de Deus”.