Dez minutos em uma brincadeira de esconde-esconde, e meu sobrinho mostrou-se mais escondido do que encontrado. Em sua empolgação infantil, ele geralmente costumava se entregar antes mesmo de eu terminar de contar. Desta vez foi diferente.
Por fim, encontrei-o agachado atrás de um móvel, abatido e congelado no lugar. Ele não queria nada comigo. Algo estava claramente errado.
Felizmente, sua mãe (minha irmã) já havia passado por isso antes. O nome disso era vergonha. Basta dizer que houve um grande erro de treinamento do penico diante dela, que instintivamente fez com que meu sobrinho se escondesse.
A resposta da minha irmã foi exemplar: compaixão, preocupação, misericórdia. Ela se agachou junto dele ele e esperou pacientemente.
O fato cotidiano me levou a pensar: este é um pequeno retrato da infinita misericórdia do Pai por todos os seus filhos. O filme que vi passar diante dos meus olhos era a minha história. Imagino que também seja verdade para você; somos todos personagens desse drama.
Por meio de meu sobrinho, pude ver os incontáveis ciclos de confissão da minha vida. O pecado se desdobra em culpa - e a culpa, em qualquer coisa que se livre de seu fardo. Mas a confissão era menos um encontro com a misericórdia e mais uma transação desequilibrada: minha bagunça era trocada pela liberdade da vergonha. Eu encontrei o presente de Deus apenas por frações. A face misericordiosa do Pai era boa demais para ser verdade. Desgosto, desapontamento e desdém eram mais fáceis de engolir. Isso, pelo menos, eu sabia que merecia.
No entanto, se minha irmã - uma mera mortal - pode demonstrar tal compaixão, por que meu Deus não poderia?
Percebi que a misericórdia divina é onde nossa culpa, a nossa miséria e a nossa vergonha se cruzam com a amorosa compaixão do Pai. É a própria encruzilhada da pobreza humana e da bondade divina. Ficar fora dessa encruzilhada é deixar que o peso de nossa culpa e vergonha nos exclua do único remédio que temos.
O segredo para uma vida vivida a todo vapor é a misericórdia infinita de Deus em toda a sua generosidade extravagante e impensável. Deus não se deleita com uma lista de pecados trazidos ao confessionário, mas com o coração humilde que reconhece tais pecados. Só aí Deus pode se apressar com a ajuda que agora sabemos que precisamos. É apenas física espiritual.
O desdém não é um atributo de Deus, mas a misericórdia é. Deus é misericórdia assim como é amor. Nenhum dos dois pode ser conquistado. Presentes tão grandes são obtidos apenas pela aceitação.
A misericórdia não é uma rede de segurança de última hora ou apenas um cartão para “sair da prisão” quando pecamos. É um modo de vida. É a própria vida. Nossas habilidades para trabalhar, amar, rir, melhorar a nós mesmos - a própria vida - é tudo uma misericórdia.
Confiar em tal dom com todas as forças é colocar o fardo de buscar a santidade nos ombros de Deus, aquele que é muito maior e muito mais interessado em meu bem-estar do que eu mesmo. Que outra opção temos? O fogo da misericórdia de Deus está esperando para nos incendiar.