Recebemos, com pedido de esclarecimentos, o impresso Escute a Deus e viva para sempre, editado pelas Testemunhas de Jeová.
Trata-se de um livreto de 31 páginas a expor, de modo sutil, parte da doutrina dessa instituição que não pode ser considerada cristã (como a Igreja Católica, as Igrejas orientais ortodoxas ou as demais comunidades eclesiais nascidas a partir da Reforma Protestantes), pois, entre outros pontos, nega a divindade de Cristo e, por conseguinte, a Santíssima Trindade. Neste artigo, abordaremos apenas a seguinte afirmação da página 6: “Só existe um Deus verdadeiro, e seu nome é Jeová (Salmo 83:18). Comentemos!
“Jeová” é um nome dado a Deus, ao que tudo indica, no século XIII da nossa era. Aparece, oficialmente, na obra Pugio Fidei, de Raimundo Martini, no ano de 1270, embora pudesse estar em uso em escolas de líderes judeus alguns anos antes. Esse nome é adotado por correntes protestantes do século XVI. Não corresponde, como se possa pensar, ao nome de Deus revelado no Antigo Testamento a Moisés. Lá, Deus se revelou como Jahveh – ou Javé (ler: Êxodo 3,13-17). No entanto, na língua dos judeus antigos – o hebraico – não se usavam vogais, de modo que escreviam IHVH ou JHVH, mas, caso fossem pronunciar, deveriam usar, então, o a e o e a fim de terem Jahveh.
O judeu piedoso, diante das quatro letras sagradas (JHVH), conservava respeito e, em vez de pronunciá-las, substituía o nome Jahveh por Adonay (= meu Senhor). Isso porque o primeiro A era mudo e correspondia a um E. Já o Y era uma semiconsoante e não vogal pura, por isso não entrou na composição do nome Jehovah (cf. Cirilo F. Gomes, OSB. Riquezas da mensagem cristã. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1981, p. 105-109). Daí, na Idade Média, como dissemos, alguns líderes judeus fazerem a fusão das consoantes de JHVH com as vogais de ADONAY resultando JEHOVAH, ou Jeová. Em poucas palavras, vemos que dar a Deus o nome de Jeová é jogar a Bíblia fora para usar em seu lugar uma fórmula judaica medieval.
Pergunta, no entanto, o leitor atento: Mas, afinal, como se traduz, de modo correto, o nome de Deus, na Bíblia? – Traduz-se JHVH = Eu Sou (ler: Êxodo 3,14), o mesmo nome com que o Senhor Jesus se apresenta também, no Novo Testamento, ao assegurar: “antes que Abraão existisse, Eu Sou” (ler: João 8,58).
Na Tradução do Novo Mundo, Bíblia publicada e usada pelas Testemunhas de Jeová, se leem as seguintes colocações forçadas, confusas e erradas, infelizmente: a) Êxodo 3,14: “Deus disse então a Moisés: ‘Eu Me Tornarei O Que Eu Decidir Me Tornar’” ou “Eu Mostrarei Ser O Que Eu Mostrar Ser” e b) João 8,58: “Jesus lhes disse: ‘Digo-lhes com toda a certeza: Antes de Abraão vir à existência, eu já existia’”.
A intenção das Testemunhas de Jeová parece clara nesta confusa “tradução”: desfazer a associação do nome de Deus (JHVH = Eu Sou), no Antigo Testamento, com o modo como Cristo se apresenta, no Novo Testamento (Eu Sou). Sustenta-se, na versão errada das Testemunhas, que Jesus não é Deus. O que é absurdo, pois toda a tradição bíblica sempre uniu Êxodo 3,14 a João 8,58 e vice-versa.
David Reed, ex testemunha de Jeová, escreve esta importante constatação a respeito do erro propositado de “tradução” encontrado na Bíblia das Testemunhas de Jeová: “Você não precisa ser um erudito em grego ou hebraico para provar que a Sociedade Torre de Vigia distorceu estes versículos. A própria Bíblia de estudo das Testemunhas de Jeová prova que Jesus estava declarando EU SOU. Sua grande edição da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com Referências, de 1984, tem uma nota de rodapé em Êxodo 3:14, admitindo que o hebraico seria traduzido em grego como ‘Ego eimi’ – ‘EU SOU’. E a sua Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas de 1985 (Kingdom Interlinear Translation of the Greek Scriptures) revela que as palavras de Jesus em João 8:58 são as mesmas ‘ego eimi’ (nota de rodapé), ‘eu sou’ (texto interlinear)” (As Testemunhas de Jeová, 1990, p. 25, on-line – grifo nosso).
Fica, pois, demonstrado que o nome bíblico de Deus é Javé, não Jeová!