Os discursos decisivos do Papa Francisco na JMJ de Lisboa foram na Vigília de sábado à noite com os jovens e na Missa da manhã de domingo. Selecionamos as passagens principais destes dois discursos:
Vigília
Alegria
A alegria de Maria é dupla: acabara de receber o anúncio do anjo de que acolheria n’Ela o Redentor e também a notícia de que a prima estava grávida. Interessante! Em vez de pensar em Si mesma, pensa na outra. Porquê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para ficar numa pessoa, mas para levar alguma coisa. Pergunto: vós, que estais aqui, que viestes para vos encontrar, para encontrar a mensagem de Cristo, encontrar o sentido bom na vida… Isto, ides guardá-lo para vós ou levá-lo-eis aos outros? Que pensais fazer? Não ouço! (...) É para o levar aos outros, porque a alegria é missionária. Repitamos isto todos juntos: «a alegria é missionária». Concluindo, eu levo esta alegria aos outros.
Raízes
Mas esta alegria que temos, houve outros que nos prepararam para a receber. Agora olhemos em retrospetiva tudo o que recebemos; tudo isso predispôs o nosso coração para a alegria. Todos nós, se olharmos para trás, veremos pessoas que foram um raio de luz na nossa vida: pais, avós, amigos, sacerdotes, religiosos, catequistas, animadores, professores… São como que as raízes da nossa alegria. Façamos agora um momento de silêncio, e cada qual pense nas pessoas que nos deram algo na vida, naqueles que são como que as raízes da alegria.
Abertura
A alegria não está fechada na biblioteca – embora seja necessário estudar –, encontra-se noutra parte. Não está guardada à chave. A alegria, é preciso procurá-la, é preciso descobri-la. É preciso descobri-la no diálogo com os outros, onde devemos dar as raízes de alegria que recebemos. Por vezes, isto cansa. Faço-vos uma pergunta: às vezes cansais-vos? Pensai no que acontece, quando uma pessoa está cansada: não tem vontade de fazer nada e, como se costuma dizer, atira-se por terra. Não tem vontade de continuar; então desiste, deixa de caminhar e cai. Pensai numa pessoa que caia na vida, tenha um fracasso, cometa erros mesmo graves, sérios: achais que a sua vida acabou? Não! O que é preciso fazer? Levantar-se! Como recordação, quero deixar-vos o caso dos alpinistas, que gostam de escalar as montanhas; eles têm uma canção linda, onde se diz: «Na arte de subir a montanha, o que conta não é não cair, mas não ficar caído». Está certo!
Queda
Quem fica caído, a sua vida já «passou à reforma», está encerrada! Fechou-se à esperança, fechou-se aos anseios, fica por terra. E quando virmos alguém, um amigo nosso, que caiu, que devemos fazer? Levantá-lo. Reparai, quando alguém tem de levantar ou ajudar uma pessoa a levantar-se, que gesto faz? Olha-a de cima para baixo. Trata-se da única ocasião, do único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se. Quantas vezes vemos pessoas que nos olham sobranceiras, por cima do ombro, de cima para baixo! É triste. O único modo, a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo uma pessoa é (dizei-o vós... forte!) para a ajudar a levantar-se.
Treinar e caminhar
Pois bem! O segredo do caminho está um pouco nisto: na constância em caminhar. Na vida, para se conseguir algo, é preciso treinar a caminhar. Às vezes não temos vontade de caminhar, não temos vontade de nos esforçar; copiamos os exames, porque não temos vontade de estudar e não chegamos ao resultado desejado. Não sei se algum de vós gosta de futebol… Eu gosto. Por trás dum golo, que temos? Muito treino. Por trás dum resultado, que há? Muito treino. E, na vida, nem sempre se pode fazer o que apetece, mas aquilo que nos leva a realizar a vocação que temos dentro de nós… Cada um tem a sua vocação. É preciso caminhar. E, se cair, levanto-me ou haja alguém que ajude a pôr-me de pé. Não ficar caído; e treinar-me, treinar-me a caminhar. E tudo isto é possível, não porque fizemos um curso sobre o caminhar; não há cursos que nos ensinem a caminhar na vida! Isto aprendemo-lo dos pais, aprendemo-lo dos avós, aprendemo-lo dos amigos, ajudando-se mutuamente. Na vida, aprende-se, e isto é treino para caminhar.
Santa Missa
Resplandecer
Resplandecer, escutar e não ter medo. Primeiro resplandecer. Jesus transfigura-se, o Evangelho que o seu rosto resplandecia como o sol» (Mt 17,2). Ele havia anunciado há pouco sua paixão e morte na cruz, e com isso quebrou a imagem de um Messias poderoso e mundano, e frustra as expectativas dos discípulos. Agora, para ajudá-los a aceitar o desígnio de amor de Deus para cada um de nós, Jesus toma três deles —Pedro, Tiago e João—, os conduz ao alto de uma montanha e se transfigura. E este "banho de luz" os prepara para a noite da paixão.
Brilho
Mas gostaria de lhes dizer que não ficamos luminosos quando nos colocamos sob os refletores, isso não nos deslumbra. Não ficamos luminosos quando mostramos uma imagem perfeita, bem cuidada, bem acabada, não, não, mesmo que nos sintamos fortes e bem-sucedidos. Fortes, bem-sucedidos, mas não luminosos. Tornamo-nos luminosos, brilhamos, quando, acolhendo Jesus, aprendemos a amar como Ele. Amar como Jesus, isso nos torna luminosos. Isso nos leva a fazer obras de amor. Não te enganes amiga, amigo, serás luz no dia em que fizer obras de amor. Porém, quando em vez de fazer obras de amor para fora, olhas para ti mesmo, como um egoísta, ali a luz se apaga.
Jesus
Escutar Jesus, todo segredo está aí. Escute o que Jesus te diz. "Eu não sei o que ele me diz." Pegue o Evangelho e leia o que Jesus diz e o que diz em teu coração. Porque Ele tem palavras de vida eterna para nós; Ele revela que Deus é Pai, é amor. Ele nos ensina o caminho do amor, escutar Jesus. Porque lá fora nós de boa vontade trilhamos caminhos que parecem ser de amor, mas no fundo são egoísmos disfarçados de amor. Ter cuidado com os egoísmos disfarçados de amor. Escutá-lo, porque Ele vai te dizer qual é o caminho do amor. Escutá-lo!
Não tenham medo
Queridos jovens, gostaria de olhar cada um de vocês nos olhos e dizer: não tenham medo. Não tenham medo. E mais, digo-lhes uma coisa muito bonita, já não sou eu, é o próprio Jesus que vos olha, neste momento. Ele está nos observando. Ele vos conhece, conhece o coração de cada um de vocês, conhece a vida de cada um de vocês, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o seu coração. Ele lê os vossos corações e hoje diz-vos, aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude: "Não tenham medo." "Não tenha medo". Coragem, não tenham medo."