Enviaram-me ontem um longo artigo escrito por um pregador ancião, que talvez por razão de senilidade escreva tão mal como escreveu. Mas, como dizia o Conde Buffon, “o estilo é o homem”, e isso vale tanto para o bem quanto para a sua privação.
Pois bem, ao dar-me ao desgostoso trabalho de ler a redação subginasiana, deparei-me com uma cachoeira de falácias vergonhosas, uma confusão dos diabos que só pode ser fruto de uma mente caleidoscopicamente deformada, dessas de que as ideologias destruíram completamente a percepção e que se escoram em malabarismos verbais para tentarem evadir-se do assédio contínuo daquilo que se chama “realidade”.
Quando não há matéria a ser refutada, refuta-se a forma. E não nos cabe outra coisa senão, descartado o estilo… (a conclusão cabe ao leitor).
Falácia do centro
O sujeito se coloca num cômodo centro e decide quem está à direita e quem está à esquerda, quem é atrasado ou quem é avançado, com base na sua própria escusa.
Falácia de ambiguidade
Confunde propositalmente as coisas, considerando, por exemplo, uma “ideologia teológica” como a doutrina social da Igreja ou o auxílio aos pobres como a adesão a uma ideologia, escondendo, inclusive, que o objetivo desta fora construir um partido para a obtenção do poder político.
Isenção de causa
Artificialmente isenta a verdadeira causa de um efeito, atribuindo-o injustamente à causa do efeito oposto: por exemplo, afirmar que a evasão dos católicos foi causada justamente pelos grupos católicos que impediram essa evasão e nos quais os fieis realmente estão.
Argumentum ad novitatem
Considerar como bom tudo aquilo que se considera “avanço” e como mau tudo aquilo que considera se “retrocesso”, como se avançar para um abismo fosse um verdadeiro avanço; do mesmo modo, entender que o avanço no "retrocesso ao paganismo" seja ir adiante ao invés de ser aquilo que realmente é, ou seja, puro e simples “regressismo”.
Falso argumentum ad auctoritatem
Alegar em seu favor a autoridade para respaldar-se totalmente, a despeito dela. No caso, invocar em própria causa o Concílio, o Catecismo da Igreja ou as Encíclicas papais, sem entrar nos pormenores de que justamente tais documentos censuraram as condutas que produziram esse estado lamentável de coisas.
Estes são apenas alguns exemplos de um simples exercício de lógica. Mas, no fundo, exprimem o miserável estado cognitivo e moral a que um homem se pode reduzir: cognitivo, porque já descrê de tal forma na verdade que inventa discursos com a patológica intenção de insentar-se; e moral, porque é fruto da arrogância e do estrelismo de quem se sente sempre acima e ao centro de tudo e de todos, e erigiu-se soberbamente na regra moral do mundo, no fiel da balança divina.
Os “crentes de ideias” são assim: recalculam o mundo de acordo com sua abstração e, deste modo, alegando avanço, conservam ainda o fedor de um saudosismo rançoso cuja pátria é o longínquo 1968, da qual não conseguem sair porque estão definitiva e voluntariamente atolados em seu esgoto.
Se o fixismo em 68 não é um conservadorismo no mal que se projeta como progressista, o que o seria? Fato é que tais preteristas se consolidaram na permanência ante um povo que avançou em outra direção e os deixou para atrás, enquanto eles mesmos continuam histericamente se vendendo como avançados e homens do futuro. Não o são! São apenas jurássicos num museu a céu aberto, feito de dinossauros caquéticos e deprimidos, cuja única saída para a solidão é a repetição compulsória de seus mesmos chavões e gritos de guerra, para darem-se a impressão daquela confirmação mútua que os faz sentirem-se respaldados, enquanto caminham bem contentes para o túnel da morte.
Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook