Nos dias 21 e 22 de abril de 2023 foi organizado pelas comunidades beneditinas camaldolenses dos Mosteiros da Encarnação e Transfiguração, em Mogi das Cruzes - SP, um encontro sobre As Origens do Cristianismo como parte dos Encontros Culturais Camaldolenses, em parceria com a Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI, da Diocese de Mogi das Cruzes e o Núcleo Fé e Cultura da arquidiocese de São Paulo.
O Encontro, que agora está sendo disponibilizado on-line, contou com a presença de 45 pessoas entre leigos, presbíteros, seminaristas, monges e monjas.
Por que é importante que os cristãos conheçam bem como foi a história da origem do cristianismo? Como aconteceu que povos de culturas diferentes e até distantes foram compreendendo e aprofundando a mensagem de Jesus Cristo? Que problemas enfrentaram? O que foi mais difícil compreender? Houveram brigas? Jesus era Deus, como Deus, um profeta, um taumaturgo, um homem real? Como as primeiras comunidades cristãs foram decidindo o que correspondia à verdade sobre o evento de Cristo e o que era ideológico, forçado ou fruto de imaginação? Quem eram os gnósticos? E os apologistas?
Para nos ajudar a compreender melhor as origens do evento cristão, foi convidado a vir ao Brasil Don Guido Innocenzo Gargano, monge camaldolense, professor de patrologia e teologia patrística junto aos Institutos Pontifícios Oriental e Bíblico e Pontifícia Universidade Urbaniana em Roma, autor de centenas de livros sobre os primeiros Padres da Igreja e a Lectio divina. Em português foi publicado pelas Paulinas em 2019 seu livro A Formação da Identidade Cristã, Exegese bíblica dos primeiros Padres da Igreja.
No primeiro dia do Encontro foi possível perceber claramente que quando Deus, o criador de todas as coisas que existem, entrou na história deste mundo e tornou-se carne como cada um de nós, abraçou até a raiz o modo de viver humano, embrenhando-se completamente nas relações humanas e entre os povos, na ambiguidade e ambivalência características das vicissitudes humanas, nas diferentes culturas, nas dificuldades de linguagem, de tradução e de compreensão.
Deus se entrega ao ser humano e passa a caminhar com ele, entrando dentro dos processos, da evolução da cultura e da história, e no dinamismo da liberdade humana. Não entrou ficticiamente na história humana, nem apenas espiritualmente. Mas, sem deixar sua condição divina, decide tornar-se um de nós e entrar no drama humano. Decidiu estar conosco, nos acompanhar e nos ajudar (se o deixarmos) a caminhar em direção à plenitude da vida e nossa felicidade.
No segundo dia de encontro, Don Innocenzo explicou como os primeiros cristãos e padres da Igreja rezavam, lendo e meditando as Sagradas Escrituras; pois a compreensão da mensagem cristã passou pela chave de leitura das escrituras sagradas, pelas cartas de Paulo que foram os primeiros escritos cristãos, pelo Novo Testamento e Evangelhos e pela releitura do Antigo Testamento em chave cristológica. Por fim, Don Innocenzo terminou o encontro explicando-nos o método de oração da Lectio divina (leitura orante da Bíblia) praticada desde os primeiros séculos pelos cristãos e preservada ao longo dos séculos pelos monges e monjas.
Conhecer as origens é fundamental para compreender o caminho, e saber como proceder diante dos percalços da história. E para saber dar razão da própria fé, como fizeram os primeiros cristãos.
Confira nos links abaixo como foi a apresentação de Don Guido Innocenzo Gargano:
Primeiro dia:
Segundo dia:
No total, serão seis encontros em 2023. No primeiro semestre foram realizados, além deste, outros dois encontros.
A programação do segundo semestre já foi iniciada e, nos próximos meses, serão realizados os seguintes encontros:
26 agosto: Introdução Geral à Bíblia – com o Professor Luiz da Rosa, criador e responsável pelo site www.abiblia.org, diretor de comunicação do Instituto dos Irmãos Maristas em Roma.
30 setembro: A beleza salvará o mundo: a liturgia e o espaço sagrado – com o Professor Gabriel Frade, editor assistente das Edições Loyola.
Um pouco da história camaldolense
Os camaldolenses pertencem à grande família dos monges beneditinos. Nascem em 1012 a partir da proposta de reforma monástica de São Romualdo que, profundamente inserido nas dinâmicas da igreja do seu tempo, pretendia renovar a dimensão espiritual na igreja, promovendo a vida solitária em eremitérios e a simplificação da vida comunitária nos cenóbios. Por isso, seus discípulos seguem um estilo de vida simples orientado pela liberdade interior, o amor fraterno e a primazia da procura de Deus, ao mesmo tempo em que formam uma ordem contemplativa aberta às exigências da igreja e da sociedade, com as riquezas e as contradições das suas culturas.
O nome da Congregação surge do eremitério e mosteiro de Camaldoli localizado no alto das montanhas do centro da Itália que é dividido em duas unidades ligadas entre si: um mosteiro de vida cenobítica e um eremitério. Sua forma de vida floresceu ao longo dos séculos a partir de uma realidade tripartite chamada triplex bonum (três oportunidades): a vida cenobítica, a vida eremítica e o apostolado. É característica da vida camaldolense o amor pela cultura, o diálogo interreligioso e a hospitalidade.
No Brasil existem dois mosteiros camaldolenses: o Mosteiro da Transfiguração (1988), comunidade masculina, e o Mosteiro da Encarnação (1994), comunidade feminina.
Estão localizados na zona rural do Município de Mogi das Cruzes e, embora sejam dois mosteiros independentes, compartilham do mesmo espírito camaldolense, codividindo frequentemente a liturgia, a lectio divina e as atividades de apostolado. É particularmente cara, aos monges e monjas camaldolenses, a prática da leitura orante da Bíblia (lectio divina) e sua condivisão semanal com hóspedes e visitantes.
As inscrições para os Encontros Culturais Camaldolenses são feitas on-line pelo e-mail: encontroscamaldolenses@gmail.com.