O presente artigo traz a definição do termo monge e descreve a alegria que tem o monge ou a monja na sua entrega de amor a Deus e ao próximo.
Define-se o termo monge como “proveniente do grego ‘mónos’, que quer dizer ‘só’; ou seja, é monge aquele que tem somente um único amor, Cristo, pelo qual ele se unifica em Deus” (Na escola do serviço do Senhor. Juiz de Fora: Subiaco, 2006, p. 19).
Dom Paul Delatte, OSB, por sua vez, diz: “Quando, na antiguidade cristã, alguns fiéis se isolavam do mundo, das condições de vida comum, da sociedade dos homens, para entregarem-se, sozinhos ou em comunidade, às práticas ascéticas, eram chamados ‘monachoi’: os separados, isolados, solitários; esta designação é comum no século IV. A ideia de unidade que inspira o nome de monges permitiu defini-los de diferentes maneiras segundo seu estilo de vida: os que vivem na solidão, os que querem introduzir a unidade e a simplicidade em suas vidas, os que se ocupam de Deus somente e não desejam outra coisa que se unirem a Ele. Vemos, com isso, que tanto os cenobitas quanto os anacoretas, merecem o nome de monges, pela consagração total de suas vidas a Deus. [...] A vida monástica é inteiramente direcionada à unidade, sem traço de divisão, de diversificação ou separação, pelo fato de sua consagração exclusiva a Deus. A separação do mundo pelo retiro, pela clausura, pelo hábito e pelo silêncio, é a condição essencial desta entrega a Deus” (A vida monástica na escola de São Bento. Juiz de Fora: Subiaco, 2019, p. 25-26).
Thomas Merton, notabilizado trapista dos Estados Unidos, no século XX, escreve: “O monge é um cristão que, respondendo a um convite especial de Deus, deixa os interesses de caráter mais ativo de uma vida mundana para entregar-se totalmente à Boa Nova [cf. Mc 1,15; Mt 3,2] do reino de Deus, à ‘conversão’ (metanoia) num espírito de renúncia e de oração. Em termos positivos, devemos entender a vida monástica sobretudo como vida de oração. Os elementos ‘negativos’: silêncio, solitude, jejum, obediência, penitência, renúncia à propriedade e à ambição, todos têm em vista desobstruir o caminho [cf. Mc 1,3; Mt 3,3], de maneira que a oração – meditação e contemplação – possa ocupar o espaço criado pelo abandono de outros interesses” (A Oração contemplativa. Campinas: Ecclesiae, 2018, p. 29).
Essa solidão silenciosa, escolhida por amor, é um lugar privilegiado de encontro místico com Deus e com os seus santos no corpo da Sua Igreja. São Rafael Arnáiz Barón (1911-1938), oblato regular trapista, que, devido a problemas de saúde, não fora julgado apto para ser monge, é quem declara de modo um tanto poético: “Fiz meu céu na terra, na cela. Eu não vivo sozinho. Minha cela está cheia de gente, há risos, há canto, há barulho de anjos que se enredam entre os papéis. Eu não vivo sozinho. Na minha cela de enfermo, vive Cristo, está Maria… Na minha cela, há de tudo; há silêncio, há paz, há alegria. Há um monge que sonha com o céu, com um céu sem tristezas nem prantos; com um céu, não como aquele que tem, que é céu da terra… céu entre paredes. Meu céu é minha cela; nela há silêncio, há paz e alegria. Vivo com os santos; Cristo me acompanha; sonho com Maria” (Deus e minha alma: o último diário de São Rafael. Professio Fidei, 2020, p. 196).
A Beata Gabriela Sagheddu (1914-1939), monja trapista italiana, escreve: “Eu, de minha parte, não deixo de rezar todos os dias pela senhora e por toda a família, pelos parentes e benfeitores e, por fim, pela pátria e pelo mundo inteiro. Nossa missão é rezar por todos, tanto pelos amigos e benfeitores quanto pelos inimigos; e nós não deixamos de fazê-lo na esperança de que o Senhor se digne ouvir as nossas súplicas” (Carta 5). E, em outra ocasião, confessa: “Sinto que amo meu Esposo de todo o coração, mas gostaria de amá-lo ainda mais. Queria amá-lo por aqueles que não o amam, por aqueles que o desprezam, por aqueles que o ofendem; em suma, meu desejo não é outro senão amar. As pessoas do mundo dizem que nós somos egoístas porque nos isolamos em um mosteiro e pensamos apenas em nós mesmas. É falso. Nós vivemos uma vida de contínuo sacrifício até a imolação pela salvação das almas” (Carta 34. Cartas da Trapa. São Paulo: Cultor de Livros, 2021, p. 86 e 149-150).
Eis, em seis citações, aspectos da vida monástica, masculina e feminina, na Igreja.