Para fazer uma rápida viagem no mês passado, cheguei ao aeroporto a tempo de aguardar no portão de embarque com antecedência confortável. Enquanto passava as contas do meu rosário, ouvia os diversos anúncios de partidas de voos nos portões vizinhos. Veio então o primeiro anúncio de atraso do meu - e, infelizmente, não seria o último.
No final, acho que tivemos umas quatro horas de atraso, dosadas em diversos anúncios. Se você já passou por uma situação semelhante, sabe como é. No início, os passageiros não estão muito comunicativos - e, com um ou dois anúncios de atraso, isso não muda muito: os passageiros vão lidando com a sua frustração em relativo silêncio. Já no terceiro e no quarto anúncio de que o atraso persiste, o clima se transforma. As reações ficam mais pronunciadas e as pessoas se sentem à vontade para compartilhar umas com as outras a sua irritação.
No nosso caso, passamos sutilmente da preferência pela solidão a uma espécie de comunhão no transtorno. A partilha daquele momento que afetava a todos conseguiu amenizar o incômodo de cada um, pelo menos até certo ponto.
O jogo de espera que é a vida humana é difícil, seja no aeroporto ou fora dele. Sendo honestos, quase todos nós achamos que longos períodos da nossa vida são monótonos, cansativos ou frustrantes. Mesmo experimentando tempos de cura e de crescimento nesta vida, e de progresso em direção ao nosso destino, esse processo costuma ser trabalhoso e, às vezes, até angustiante.
No entanto, mesmo quando estamos abatidos, permanece um convite para partilharmos essa experiência. Podemos nos sentir desconfortáveis em dividir esse tipo de sensação com os outros, evitando vitimizar-nos ou sobrecarregar o próximo com o nosso pesar. Mas por acaso os outros também não estão presos na mesma série de atrasos, procurando alguém com quem partilhar a sua dor?
Enquanto esperamos que nos chamem para a nossa vez, precisamos dar tudo de nós para manter o ânimo. É quase certo que haverá atrasos, talvez muitos, antes da nossa chegada. O fato é que não devemos prosseguir sozinhos e, muitas vezes, a diferença entre o impossível e o possível é tão simples quanto nos abrirmos. Verdade seja dita, existe alegria nisto; existe, até, uma prévia do nosso destino. Afinal, ao partilharmos a nossa dor, podemos descobrir que estamos, no fundo, partilhando a nossa alegria.