O catecismo mais elementar normalmente transmite isso: no sacramento da Eucaristia, Deus se faz verdadeiramente presente. Jesus, Filho de Deus, plenamente homem e ao mesmo tempo verdadeiramente Deus, dá-se a si mesmo para ser comido e bebido na hóstia e no vinho, que se tornaram substancialmente seu corpo e sangue. Um milagre de amor, um presente de ressurreição, uma garantia de salvação. No centro da missa, durante a Oração Eucarística e a Comunhão, a liturgia se concentra particularmente em venerar e acolher o Senhor por meio de gestos, da posição do corpo e da solenidade das palavras.
Há outro momento na missa em que a posição do corpo tem a intenção de demonstrar a presença do Bom Pastor entre seu povo: a leitura do Evangelho. Primeiro sentados para ouvir a proclamação da Salvação (Antigo Testamento) ou seu desenvolvimento na Igreja (Novo Testamento após os Evangelhos), os fiéis se levantam para cantar o Aleluia e louvar aquele que vem: a Palavra se tornou carne e, quando a Boa Nova é proclamada, o Espírito Santo nos faz ouvir a voz do Amado. Nós lemos as Escrituras como um bom romance? Outros gestos litúrgicos expressam o evento melhor do que um longo discurso: a pessoa que proclama o Evangelho incensa e beija o livro do Evangelho, dizendo silenciosamente: "Purifica meu coração e meus lábios, Deus Todo-Poderoso, para que eu possa proclamar dignamente teu santo Evangelho".
A Eucaristia
Em seus gestos e símbolos, o missal de 1962 foi ainda mais explícito sobre a presença de Cristo nesse momento da missa. O Evangelho é lido no lado norte, oposto ao lado em que a primeira leitura foi lida. Esse movimento, que visa a tornar visível a mudança de natureza do momento, ocorre em vários lugares: quando o missal está ao sul, ouvimos o anúncio do Salvador e nos preparamos para seu último advento (preparação penitencial, coleta, leituras, conclusão da missa); quando o missal está ao norte, ouvimos Jesus presente (Evangelho, oração eucarística, último Evangelho).
É fato, porém, que a reforma litúrgica do Vaticano II voltou a enfatizar a Palavra de Deus durante a Eucaristia, de modo que o Ofício passa de uma mesa, a da Palavra, para outra, a mesa eucarística. Dessa forma, a teologia do evangelista João é mais bem honrada, como ele diz em seu prólogo: "O Verbo se fez carne" (1:14). A missa de Paulo VI torna assim tangível a afirmação dos Padres:
"A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, assim como sempre venerou o próprio Corpo do Senhor, e não cessa, especialmente na sagrada liturgia, de tomar o pão da vida da mesa da Palavra de Deus e da do Corpo de Cristo para oferecê-lo aos fiéis" (Dei Verbum, §21).