O pe. Cido Pereira recebeu de uma leitora do portal "O São Paulo" a seguinte indagação: "Padre, sinto muito arrepio quando me concentro em oração. Por que isso acontece?".
O sacerdote, que assina uma coluna de perguntas e respostas, explicou à leitora:
"A primeira coisa a dizer é que é muito importante a oração em nossa vida. Na oração, nós entramos na intimidade com Deus, nosso Pai, por meio de Jesus e na unidade do Espírito Santo. Outra coisa é que, embora as palavras 'rezar' e 'orar' signifiquem o mesmo diálogo com Deus, a palavra 'rezar' é muito mais um recitar ou repetir palavras que outros escreveram para a gente, enquanto a palavra 'orar' é a gente abrir o coração a Deus tirando lá do fundo da nossa alma as súplicas de graças e de perdão, as palavras de agradecimento e de louvor.
Quando a gente ora, coloca mais o coração naquilo que diz a Deus, nosso Pai. Mas isso não significa que devemos desprezar aquela riqueza imensa de preces que a Igreja e muitos homens de Deus colocam em nossa boca. Jesus nos aconselha a orar e a orar sempre: a orar a sós, no silêncio de nosso quarto ou de uma Igreja e a orar em comunhão com outros. Ele garante que o Pai escuta a oração pessoal com atenção. Na oração em comum, Jesus garante a sua presença no meio dos que oram. Muito importante também é a oração litúrgica. Nela, nós, os crentes, nos tornamos Igreja, Família de Deus em torno da mesa comum da Palavra e do Pão".
Feita essa explicação sobre a oração, o pe. Cido abordou a sensação descrita pela leitora:
"Agora, esse negócio de ficar arrepiado, de chorar, não é nada de extraordinário não, viu? Dependendo do estado de alma, quem ora pode emocionar-se ou não. A emoção, os arrepios, o choro não tornam a oração mais piedosa ou não. É bom que a gente entenda isso, porque, se não, daqui a pouco, haverá muita gente confundindo fé, piedade, amor a Deus com sentimentalismo. Ou pior ainda: a gente vai acabar por achar que se não se emocionou é porque a oração não valeu, não foi feita com amor. Deus conhece o nosso coração e não se deixa levar por emoções e lágrimas".
O padre então recordou que até mesmo grandes santos viveram a experiência de não sentir emoção nenhuma ao orarem:
"A grande Santa Tereza, reformadora do Carmelo, reclamava muito em suas orações quando sentia uma secura de alma. Parecia que estava num deserto. Nem por isso ela deixava de orar. É isso aí. Acontece muitas vezes que a gente não sente prazer em orar. Orar neste momento se torna um exercício, uma ginástica, que embora cansativa, vai nos trazer a saúde da alma".
E exortou:
"Não ligue para os seus arrepios quando se concentra em oração, Édna? Em vez disso, pense no que está dizendo a Deus, não ore só por si mesma, seja uma intercessora junto ao Pai do céu pela Igreja, pela paz, pelos que sofrem sob o peso da exclusão social, pelos que não sabem orar, pelos que não querem orar".