Ela olhou para mim com os olhos arregalados. Sua expressão parecia perguntar: “Qual é essa música que todo mundo está cantando e por que eu não a conheço?” Nascida durante a pandemia e com o seu batismo atrasado, Lucy, de três anos, juntou-se agora à sua irmã mais nova para receber o sacramento. Abaixei-me na frente dela, segurando sua mão. Foi depois da Ladainha dos Santos. Lucy seguiu meus lábios com cuidado e logo estávamos cantando a música "Pray with us" ("Cante conosco").
O momento não planejado virou oportunidade de foto para os parentes que estavam na igreja. E vários paroquianos comentaram sobre isso, parabenizando a família da menina.
No final do musical de Stephen Sondheim, um dos personagens, dando a moral da história, canta “cuidado com o que você fala, as crianças vão ouvir. As crianças podem não obedecer, mas verão e aprenderão.”
Uma semana depois do batismo de Lucy, os pais dela me enviaram um e-mail com um vídeo anexado. Não era de nenhuma parte do batismo, nem do momento da Ladainha dos Santos. Era um vídeo da babá eletrônica do quarto de Lucy. Depois que seus pais colocaram a garotinha na cama, ela começou a dizer palavras ininteligíveis, seguidas pela clara resposta: "Rogai por nós".
Numa cultura que não era centrada na criança, deve ter sido surpreendente, até mesmo chocante, quando Jesus disse: “Deixai vir a mim as criancinhas".
Este, de fato, não foi um momento sentimental pronto para uma foto. Foi um chamado. O chamado ao discipulado consiste em ouvir, perceber e prestar atenção. É perceber que cada momento pequeno ou comum pode ser um encontro com a presença amorosa e a graça de Deus. Ainda mais: as pessoas estão nos ouvindo e nos observando. É uma lição para a qual nunca somos velhos demais para aprender e viver.
Já se passaram 40 anos desde que celebrei meu primeiro batismo como sacerdote. Às vezes a criança está dormindo profundamente, às vezes chorando ou olhando com os olhos arregalados. Tem sido uma bênção acompanhar muitos deles em sua jornada espiritual e ser grato por alguma pequena diferença que fiz nessa jornada. Mas nunca tão rapidamente como nos dias seguintes ao batismo.
Diz-se que nunca sabemos que diferença a nossa fé pode ter para alguém que encontramos ao longo do caminho da vida. Muitas vezes, a falta de resultados imediatos pode nos fazer pensar se vale a pena o esforço. Mas, depois, você se ajoelha diante de um rosto cheio de interesse e alegria. Você percebe que tem, com a graça de Deus, a capacidade de ajudá-lo a entrar na música e no que a canção, de fato, quer dizer.