A Bíblia não diz como o apóstolo Paulo morreu, mas de alguma forma, na sua Segunda Carta a Timóteo, São Paulo parece antecipar a sua morte:
“Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição."
O que sabemos sobre a morte de Paulo, o sabemos pelos apócrifos do Novo Testamento, os Atos de Paulo. Uma das principais seções desses escritos apócrifos (que foram declarados antilegômenos) é o Martírio de Paulo.
O Martírio do Santo Apóstolo Paulo conta a história dos últimos dias de Paulo em Roma. O texto afirma que, ao saber que Paulo havia ressuscitado um jovem, Nero temeu que o Império pudesse ser derrubado pelos cristãos. Supostamente, esse foi o evento que precipitou a perseguição aos cristãos em geral, bem como a ordem específica para decapitar Paulo. O Martírio afirma que quando Paulo foi decapitado, leite (e não sangue) jorrou de seu pescoço.
Por mais apócrifa que seja, a decapitação de São Paulo é considerada um momento crucial na história cristã. Como tal, tem sido motivo comum na arte cristã.
E talvez uma das maiores imagens deste martírio esteja na Catedral de Málaga, na Espanha.
Obra do notável pintor valenciano Enrique Simonet Lombardo, a imensa tela retrata vividamente as intensas emoções daquele momento. Numa cena relativamente exangue (é provável que Simonet nunca tenha lido a obra apócrifa, por isso não conhecia a tradição do “leite”), a cabeça de São Paulo está prestes a cair no chão, brilhando intensamente e envolta em luz sobrenatural. A representação detalhada da mão do carrasco sem lâmina adiciona uma sensação arrepiante à cena. Tanto os membros do Senado quanto os plebeus testemunham o assassinato, surpresos.
A pintura de Simonet serve como um poderoso lembrete dos sacrifícios feitos pelos primeiros cristãos para difundir a sua fé. Não é apenas um testemunho da habilidade artística do seu criador, mas também um tributo ao legado duradouro de São Paulo e ao seu compromisso inabalável com a mensagem cristã, imortalizada tanto em escritos canônicos como em escritos apócrifos. Esta obra-prima continua a inspirar e emocionar os visitantes da catedral de Málaga, convidando-os a refletir sobre a vida de muitos homens e mulheres que moldaram o curso do cristianismo.