Circulam entre o público em geral ideias muito equivocadas sobre a Idade Média. Abrangendo os séculos V a XV, estes mil anos de muita história são frequentemente reduzidos ao simplista e depreciativo rótulo de "Idade das Trevas". Este reducionismo surgiu durante a Renascença e foi amplamente influenciado por autores, artistas e pensadores que queriam destacar as diferenças entre os séculos passados e a sua própria época - que eles entendiam como um renascimento da cultura clássica grega e romana.
É importante observar, porém, que etiquetar dez séculos de história como "trevas" é uma avaliação subjetiva, fortemente influenciada por preconceitos, e não faz jus à complexidade e à diversidade da sociedade medieval, especialmente porque um período tão longo não pode ser sintetizado numa categoria única.
É essencial reconhecer que este retrato negativo da Idade Média foi, em grande medida, um exagero.
Os pensadores da Renascença tendiam a idealizar a antiguidade, vendo-a como uma época de ouro de sabedoria e refinamento cultural - o que não era necessariamente o caso. Em contraste, viam a Idade Média como um período de estagnação intelectual, dogmatismo religioso e atraso social, fechando os olhos ao fato - evidente - de que o Renascimento não surgiu do nada.
Com base numa lista publicada pelo portal Medievalists.net, desmascaramos a seguir três mitos muito difundidos sobre a Idade Média.
1 | Os medievais achavam que a Terra era plana?
Não. O portal Medievalists.net explica que "praticamente todos os estudiosos medievais acreditavam que o mundo era redondo". O estudioso iraniano Al-Biruni (973–1048), por exemplo, chegou a calcular o raio da Terra usando a matemática – e a sua estimativa errou apenas em 31 quilômetros. Quem pode ser responsabilizado por espalhar esta generalização falsa sobre a Idade Média é o escritor americano Washington Irving. Em 1828, ele escreveu "Uma História da Vida e das Viagens de Cristóvão Colombo", que, embora tenha um título de aparência biográfica, é altamente ficcional. "Uma das seções inventadas", explica o Medievalists.net, "traz os chamados 'especialistas' afirmando que o mundo é plano".
2 | Os teólogos medievais discutiam quantos anjos caberiam na cabeça de um alfinete?
Talvez você já tenha ouvido a expressão "discussão bizantina" em referência a debates sobre assuntos fúteis, nos quais nenhum lado consegue provar as suas afirmações. Um exemplo notório seria o da discussão sobre "quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete" - e um mito popular, bastante difundido, afirma que os pensadores medievais realmente discutiam a sério sobre esse tipo de especulação. "No entanto", explica o Medievalists.net, "não existe nenhum exemplo de estudioso medieval que tenha realmente escrito sobre este assunto". Muito provavelmente, a afirmação foi inventada como forma de zombar dos teólogos medievais.
3 | Os medievais só bebiam vinho e cerveja?
Durante a Idade Média, a cerveja era considerada uma espécie de "pão líquido", adequado tanto para monges quanto para leigos, e fazia parte, de fato, da alimentação diária - inclusive de crianças. Era mais barato e mais saudável do que a água e o leite, frequentemente contaminados e, portanto, transmissores de uma ampla variedade de doenças infecciosas. Neste cenário, o processo de fabricação da cerveja a tornava uma alternativa mais segura. No entanto, isto não significa que as pessoas não bebessem água. É verdade que, como explica Peter Konieczny, mesmo que a disponibilidade e a qualidade da água potável variassem conforme fatores diversos, sobretudo a localização, a água ainda era a bebida mais consumida por pessoas de todas as classes sociais na Idade Média. Estava disponível em poços, nascentes, rios e mesmo na captação direta da água da chuva. Nas áreas urbanas, era frequente o recurso a poços comunitários; nas rurais, as pessoas recorriam diretamente a riachos e rios. Em muitas regiões do mundo, é possível que haja mais problemas de acesso à água potável hoje em dia do que na Idade Média.
A lista de mitos publicada pelo Medievalists.net inclui mais 17 itens. Você pode encontrar todos eles aqui (em inglês).