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Como saber se encontrei o amor da minha vida?

Pareja matrimonio feliz noviazgo
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Julia A. Borges - publicado em 01/10/23
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Ao olhar o casal que tenho como exemplo, percebo um no outro e percebo os dois em Cristo, e ao notar essa dinâmica que começou há quase 50 anos, eu entendo finalmente que a Graça de Deus basta

O grande escritor Mário Quintana dizia que “o segredo é não correr atrás das borboletas, e sim cuidar do jardim para que elas venham até você”, e acredito que o poeta brasileiro não estava errado ao afirmar tal coisa, afinal, nosso jardim deve ser convidativo às borboletas. Mas seria bastante superficial ou até mesmo clichê iniciar e finalizar um assunto tão denso apenas com essa frase, e mesmo não querendo, de hipótese alguma, reduzir a importância literária do autor, mas é provável que haja mais a ser abordado além do jardim e das borboletas.

Se a temática é profunda, versar sobre este assunto também não se configura entre os conteúdos mais fáceis de escrever, pelo contrário, afinal, tantos e tantos textos, matérias, artigos e palpites já foram escritos sobre o tal amor da vida. E para não ser repetitiva, proponho aqui um copia e cola acerca da vida de duas pessoas. É um relato poucas vezes escrito, mas muito vivido por inúmeros casais que passaram a barreira dos 48 anos de casados. Não apresento receita nem uma resposta certa, senão apenas escrever em poucas linhas o que pude ter o privilégio de presenciar durante toda a minha vida.

Quintana, ao afirmar sobre o amor, indica o segredo para que a borboleta chegue ao seu jardim, mas nada informa sobre como mantê-la. Não é culpa dele, tente procurar em sites, livros, revistas; tente procurar nos museus, nas bibliotecas sobre a manutenção das tais borboletas. Já digo, de antemão, que o leitor nada achará. Será uma busca vã, porque a receita, o tal segredo, encontra-se nos jardins dos casados, encontra-se no coração do homem e da mulher que se propuseram a manter o sim incólume mesmo perante tantas adversidades.

O casal que tenho como maior exemplo deu-me a vida. Eles eram jovens, crianças, ainda com aquele rostinho da pele macia e sedosa dos 14 anos. Foi a idade do encontro, foi a idade que o jardim fez morada à borboleta, foi a idade que talvez eles nem entenderiam Quintana e a sua afirmação, mas apenas se propuseram a se entregarem como o rio se entrega ao mar. A vida parecia ter apenas o presente como referência de tempo, era aquele instante, aquele momento; naquele lugar, com aquela companhia.

Pelo que me contam, a noiva, ao atravessar a Igreja em direção ao homem que lá a esperava no altar, estava tão radiante, tão certa, tão apaixonada que me faz entender a paixão, que muitos temem, que muitos dizem não ser boa para uma relação, mas que ela  é também fundamento da união. Ao ver uma noiva entrando em uma Igreja, penso em Cristo, ao morrer por nós. Mas não interpretem de maneira simplória ou mesmo negativa. Ali, naquele altar, temos o fogo da paixão, temos a vela que acendemos no batismo e que renovamos na Crisma. O fogo essencial que configura a nossa carne, a nossa humanidade. Chama que naquele altar se transforma em corpo e sangue daquele que passa do fogo humano para o amor imortal.

Ao longo das quase cinco décadas de união, percebi, enfim, que o segredo foi revelado há mais de dois mil anos e não houve, até hoje, nenhuma técnica mais infalível da que fora proposta por Cristo. Quando escuto de alguns casais o motivo pelo qual um escolheu ao outro, percebo algumas respostas preocupantes, dentre elas: “ porque ele(a) me faz feliz!”. Fato é que se aquele casal, que se formou aos 14 anos e que aos 70 permanecem juntos, tivessem o objetivo de “ser feliz”, é bom provável que aos 18 essa história terminaria.

A mãe, ao segurar o seu filho, aquele bebê indefeso, não espera que seus desejos sejam realizados por aquele ser tão pequenino. Tampouco espera que o filho adolescente a trate como uma rainha – coisa essa que seria o ideal. Uma mãe tem apenas um único desejo: que seu filho seja feliz, e que se a felicidade dele depender do bem-estar dela, apresento-lhes uma mãe sem bem-estar, porque ao nascer um filho, nasce o poder divino de uma mãe. Assim ocorre naquela Igreja, onde duas pessoas devem estar com a paixão explodindo para que esse mesmo fogo apague a individualidade, apague o egoísmo, apague o orgulho e transforme, pela sarça ardente, a junção de duas criaturas em prol de um único Criador.

Ledo engano, contudo, é acreditar que os sofrimentos não existem ao longo de uma trajetória tão longa, mas são eles mesmos que tornam a caminhada o propósito de chegar ao céu. É o marido, muitas vezes, a via crucis da esposa. É a esposa que fatalmente será uma cruz para seu esposo; e quando isso acontecer, olhe para o céu, respire, e acredite que não há evolução sem provação.

Retorno à pergunta do título deste artigo: “Como saber se encontrei o amor da minha vida?” com a resposta em forma de questionamento: o amor da sua vida o leva ao Amor que perdeu a própria vida por você? Ao olhar o casal que tenho como exemplo, percebo um no outro e percebo os dois em Cristo, e ao notar essa dinâmica que começou há quase 50 anos em uma capela do Colégio Militar, eu entendo finalmente que a Graça de Deus basta para que o amor aconteça em sua plenitude.

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