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A temida aridez espiritual

Prier, Jeune, adolescent

Image d'illustration.

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Julia A. Borges - publicado em 08/10/23
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Fato é que a aridez espiritual pode ter algumas causas, dentre elas, uma raiz física, ou seja, o corpo como causa de empecilho para o progresso espiritual

Durante o mês de outubro, a Igreja se dedica ao chamado fundamental na vida dos cristãos, o chamado expresso pelo próprio Cristo: “ Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16:15). Essa missão torna cada cristão um soldado em uma batalha diária na certeza de combater o bom combate. Mas é sabido que as armas que levamos não pertencem a este mundo, nosso escudo e  nossa couraça não são artigos bélicos a serem encontrados e negociados, porque acima de tudo está a certeza do motivo da luta, está a certeza do para que e para quem lutamos.

Mas ao longo do combate, é possível que o guerreiro passe por determinadas provações, dentre elas a chamada aridez espiritual, na qual a alma parece estar num deserto e se caracteriza por uma espécie de falta de apetite espiritual. Nessa fase, estar com Deus, sobretudo na oração pessoal, torna-se um fardo.

Em muitos casos, ao iniciar uma vida de oração e intimidade com Deus, experimenta-se um verdadeiro fascínio e deslumbramento com as sensações ocasionadas nos momentos de prece e estreiteza com as coisa do céu. A vida espiritual parece ultrapassar todas as barreiras, atingindo a própria carne, com efeitos avassaladores, de choro; sorrisos involuntários; arrepios; e até mesmo desmaios. Entretanto, ao longo do tempo, nota-se que os efeitos parecem diminuir e as sensações, antes tão claras e evidentes, sucumbem-se a um vazio, a um grande vácuo.

Quando se está somente sob a perspectiva carnal, as consolações permitidas por Deus (como as descritas acima), tornam-se um sinal de progresso e, da mesma forma, quando vem a aridez (também comum), ela é vista como sinal de distanciamento de Deus, até mesmo como fracasso. Contudo, na maior parte das vezes, essa quase apatia é permitida por Deus justamente para que a pessoa obtenha progresso na vida espiritual. É por isso que a visão sobrenatural é importante, pois ela permite receber esses momentos com fé e confiança em Deus.

Fato é que a aridez espiritual pode ter algumas causas, dentre elas, uma raiz física, ou seja, o corpo como causa de empecilho para o progresso espiritual.  Constituído de corpo e mente, o homem terá uma vida espiritual melhor se a sua mente e o seu corpo estiverem bem, a tal máxima: Mens sana in corpore sano. Não se trata aqui só de doença, mas também do stress diário, o que pode cansar tanto a pessoa que ela se sente incapacitada para a oração. Se o problema for físico, o remédio também será físico, ou seja, é preciso retirar as causas, talvez cuidando da doença, reduzindo o ritmo de vida, descansando um pouco mais.

Mas é preciso ficar atento porque a causa pode ir além de uma questão física  quando, por exemplo, não se dá a devida importância à vida de santidade, sendo condescendente com os pecados veniais, apegando-se aos pequenos prazeres. O modo de se relacionar com Deus também é determinante, pois se a relação é superficial, baseada apenas numa troca de favores (emprego, finanças, saúde, amor,...), Ele se torna apenas um empregado e não o Senhor. Portanto, o apego ao mundo material, uma visão carnal da própria fé e uma relação superficial com Deus podem causar também a aridez espiritual.

Cabe ressaltar que é possível apontar a tibieza como causa da aridez espiritual. A frouxidão é uma espécie de preguiça espiritual, que leva a pessoa à mornidão, à falta de ardor no servir a Deus. O remédio, portanto, é colocar mais generosidade no serviço a Deus.

Diante da aridez espiritual, deve-se ter a resignação, aceitando a falta de consolação e entendendo que se trata de uma maneira de servir melhor a Deus e procurando obter dela algum fruto. A segunda atitude é a de humilhação diante de Deus. Afinal, é um bom momento para se colocar humildemente perante o Senhor, reconhecendo a própria pequenez. É um tempo propício para reconhecer o senhorio de Deus, deixando de exigir consolações como se as merecesse, como se tivesse algum direito. Santo Inácio de Loyola, em seus exercícios espirituais ensina que o remédio para a aridez é a generosidade o que, na prática, significa aumentar o tempo de oração, o tempo dedicado às coisas do Senhor.

Ninguém gosta de soar sangue, mas o progresso exige esforço, mesmo quando não é sentido nenhuma recompensa ou consolação, afinal a vitória que nos aguarda torna certa a batalha rumo à Glória eterna.

Referências:

RICARDO, Pe. Paulo. Um olhar que cura: Terapia das doenças espirituais. Canção Nova: São Paulo, 2008.

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