O filósofo do século XVII, Blaise Pascal, em Pensamentos, declarou: “Descobri que toda a infelicidade das pessoas surge de um único fato: não conseguem ficar quietas no seu próprio quarto”. Na verdade, a solidão pode ser assustadora, até mesmo aterrorizante... Especialmente a solidão sem Cristo: “Sem Cristo, a solidão não significa estar sozinho, mas a ausência de sentido” (L. Giussani).
Mas a solidão que Jesus nos pede é a solitude, um isolamento voluntário — "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo"( Mt 6,6 ). E Ele está conosco na nossa solitude temporária.
Colocamo-nos na solitude da oração justamente para descobrir o sentido que Deus deseja investir na nossa vida.“É no silêncio e na solitude que a pessoa se redescobre, redescobre a verdade sobre si mesmo, e é através desta verdade que se acessa a dos outros” (G. Bernanos).
Mas como podem as pessoas ocupadas, enredadas nos assuntos e preocupações da vida cotidiana, retirar-se para um lugar para rezar? Isso não significa tornar-se um eremita! Trata-se de uma decisão consciente de nos separarmos por um tempo para ficarmos juntos da maneira mais autêntica. Madeleine Delbrêl, Serva de Deus, refletiu muito sobre isto:
"Parece que esta solitude é algo que aqueles que vivem entre as pessoas do mundo têm de renunciar. A verdadeira solitude não é a ausência de pessoas, mas a presença de Deus. Colocar as nossas vidas diante da face de Deus, entregar as nossas vidas aos movimentos de Deus, é vagar livremente num espaço em que nos foi dada a solitude. Se a irrupção da presença de Deus em nós ocorre no silêncio, permite-nos permanecer atirados, misturados, radicalmente unidos a todas as pessoas que são feitas do mesmo barro que nós."
E quando voltamos à mistura, depois de termos estado separados por um determinado tempo para orar em privado, tornamo-nos uma espécie de fermento para aqueles da nossa comunidade.
Cada um de nós sabe que possui uma espécie de solidão que “encerra algo da nossa pessoa essencial” (M. Delbrêl). Até Adão sabia disso. Valorizamos esta solidão essencial, que continua a nos levar de volta à amorosa Presença de Deus. “Deus é o único amigo que não abole a solidão essencial. Ele é, antes, o amigo em quem a solidão como tal se realiza” (Von Balthasar).