Em sua rede social, o pe. José Eduardo Oliveira compartilhou a sua posição a respeito da convivência cordial e respeitosa entre católicos e cristãos evangélicos. Ele escreveu:
"Tenho muitos amigos evangélicos, aos quais amo de todo o coração. São pessoas amorosas, delicadas, cheias de respeito e de afabilidade, muito diferentes de apologistas frios e superficiais. Noto nesses queridos a boa vontade de tentarem compreender a perspectiva católica: embora não compartilhem nossa mesma devoção pelas imagens, entendem que não somos idólatras e que temos o mesmo Deus, a Trindade Santíssima; embora não celebrem os sacramentos, entendem o nosso respeito e reverência, captando nosso modo de perceber como a redenção de Jesus Cristo chega até nós por meio desses sinais; embora não tenham conosco a mesma ideia das bençãos e dos objetos de devoção, sabem que não somos supersticiosos e que, em tudo, supomos a fé teologal; embora não compartilhem nossa veneração a Maria Santíssima, sabem que não padecemos de mariolatria.
Sou uma das pessoas que mais combatem o revanchismo rançoso que nasce apenas de uma das obras da carne denunciadas por São Paulo: a rixa. Admiro nos evangélicos muitas qualidades, como a beleza musical, a capacidade de comunicação, a sensibilidade em falar numa linguagem descolada e moderna, a simplicidade em se submeterem aos toques da graça, a sua entrega, o seu envolvimento, o seu sentimento sincero de devoção por Jesus. Digo sempre que nós, católicos, muitas vezes não aproveitamos a graça dos sacramentos, a exatidão da nossa fé dogmática, o tesouro das nossas tradições espirituais, a nossa unidade multissecular, admirada e até emulada por muitos evangélicos sinceros.
O que não me parece admissível é que se criem esteriótipos do catolicismo, espantalhos facilmente refutáveis, apenas para dar a impressão de uma superação, quando, na verdade, criou-se uma fantasia propositalmente inventada para ser artificialmente contestada. Assim é fácil!
Evangélicos e católicos podemos nos amar e nos respeitar, mas isso supõe um coração convertido, que rechaça por completo a falsificação e a adulteração, que exclui a mentira e o espírito acusatório. E, nesse aspecto, erra tanto o ecumenismo que finge não existirem divergências doutrinais quanto o apologismo raivoso que apenas humilha o outro para a autoafirmação da própria superioridade.
Reconhecer as divergências doutrinais supõe o esforço por entender a perspectiva alternativa para, assim, construir aquelas pontes cognitivas que nos permitam explicar-nos de tal modo que consigamos mostrar o nosso tesouro em toda a sua atratividade. Amo esses irmãos em Cristo, irmãos pelo batismo, filhos do mesmo Pai; amo-os a tal ponto que não quero que tenham uma ideia errada da nossa fé, ideia propalada equivocadamente por aqueles que celebram a divisão como bênção, exatamente como fez o Pr. Nicodemus".
Divisão como bênção?
A respeito do pastor em questão, o pe. José Eduardo dedicou outra postagem:
"O Pr. Nicodemus, em seu intento de desmoralizar o catolicismo, faz malabarismos verbais que servem apenas para impressionar incautos, como um avô improvisando truques para netinhos de dois anos, tentando passar por ilusionista. Agora, apela para a pluralidade interna da Igreja para igualá-la à babilônica confusão dos milhares de segmentos surgidos a partir da Reforma. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica (n. 815), a unidade da Igreja fundamenta-se sobre um tripé: a profissão da fé, a celebração dos sacramentos e a sucessão apostólica (três elementos rejeitados pelos reformadores).
Nessa unidade, porém, não existe uniformidade. A multiforme graça de Deus suscita carismas (desde as Ordens religiosas até as Novas Comunidades), ritos (os 23 ritos litúrgicos que coexistem pacificamente na Igreja) e pluralidade de concepções teológicas dentro da ortodoxia (por exemplo, em teologia moral, alguém pode ser probabiliorista, probabilista ou equiprobabilista; alfonsiano ou tomista, etc. São todas alternativas ortodoxas). É claro que, nessa pluralidade, existem aqueles que ultrapassam o limite e cometem abuso, como no caso de correntes teológicas que ferem a fé ortodoxa (certos tipos de Teologia da Libertação, Teologia da Revolução, Teologia do Povo etc). E cabe ao Magistério discipliná-las.
A Igreja é essa imensa pluralidade de realidades congregada no tripé que antes mencionamos. Porém, veio a Reforma e quebrou esta unidade. Qual a consequência disso?
O Pr. Nicodemus, em seu texto, afirma que a Igreja impõe uma forte e intransigente unidade institucional, desfigurando, assim, a realidade. Essa imensa variedade de dons que sempre coexistiram na Igreja foi nivelada por baixo na Reforma, que tem, em si, a semente do igualitarismo revolucionário:
Não, a unidade da Igreja Católica não é fictícia, nem a Igreja está fragmentada. Temos problemas, sim; existe divisão, em certo sentido, sim; mas nada se compara à confusão existente sob o guarda-chuva do alegado livre-exame. A unidade da Igreja é real e subsiste numa linda pluralidade, que a faz ser realmente universal, ou seja, católica.
E não adianta tomar por católicos grupos cismáticos ou contestatórios, que agem a despeito da autoridade da Igreja, pois eles mesmos demonstram seu espírito de dissensão, que mais combina com os anelos reformadores que com a verdadeira docilidade católica.
A unidade que o Pr. Nicodemus diz existir nas comunidades oriundas da reforma é a mesma que existe num amontoado de coisas… A diferença entre isso e a Igreja Católica é a mesma que existe entre um castelo firmado na rocha e uma mixórdia de entulhos".