As crianças que nascem no Gana com algum tipo de deficiência mental ou física são, muitas vezes, rejeitadas pelas famílias que olham para elas como sendo “assombradas” ou mesmo “malignas”. É um preconceito alimentado pela sociedade e que tem sido combatido com toda a energia pela Irmã Terese.
Juntamente com as outras 15 religiosas da congregação das Irmãs Marianas do Amor Eucarístico, a Irmã Stan Terese Mumuni tem desenvolvido um trabalho absolutamente notável neste país africano voltado para o Oceano Atlântico e com fronteiras para o Burkina Faso, Togo e Costa do Marfim.
Recentemente, ela esteve na sede internacional da Fundação AIS, na Alemanha, e falou desta aventura de amor que começou há cerca de 15 anos quando regressou ao seu país depois de ter estado em missão na Nigéria.
UM AUTÊNTICO LAR
A convite do Bispo de Yendi, e sensibilizada perante o destino trágico de tantos “meninos bonitos”, como chama às suas crianças, a Irmã Terese Mumuni começou por alugar uma casa a uma família muçulmana. Foi apenas o início. Aos poucos, a casa foi-se transformando num lar autêntico e as irmãs passaram a ser mães de verdade de meninos e meninas rejeitados às vezes quase logo à nascença.
“É terrível ver uma criança bonita e, só porque ela não consegue falar, as pessoas acham que deve ser condenada à morte”, explica. Não consegue falar, não consegue andar, não consegue ver… Para muitas famílias, para a sociedade, são inúmeras as circunstâncias que levam a este tipo de rejeições.
Se uma mãe morre no parto, a família rejeita-a porque a consideram maligna. Mesmo que a criança esteja no hospital, a mãe vai-se embora e abandona-a. O hospital tem de nos chamar para a irmos salvar. Eles matam essas crianças que consideram malignas”
UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE
Não é fácil combater este tipo de mentalidade que vai passando de geração em geração. Mas as irmãs – ao todo são apenas 15 religiosas –, apoiadas por alguns funcionários, têm demonstrado que por mais enraizadas que estejam estas ideias numa sociedade é sempre possível fazer alguma coisa. O pior seria baixar os braços, ceder à resignação.
As irmãs cuidam de cerca de 120 crianças e procuram alargar ainda mais a sua capacidade de actuação, para poderem chegar mais longe, para poderem dar uma segunda oportunidade a muitas outras crianças.
A Fundação AIS apoia directamente esta Obra, nomeadamente através da ajuda para a construção de um novo convento para as irmãs, mas as necessidades são muitas. As irmãs precisam, por exemplo, de um veículo para o transporte das crianças para o hospital, que fica situado a cerca de uma hora e meia de distância. Mas precisam também de roupas para os meninos e meninas, de ajuda para a formação das noviças e sonham até com a construção de uma escola e de uma clínica.
“GUERREIROS DA ORAÇÃO”
Nada que assuste a Irmã Terese. Aos poucos, a casa que alugou à família muçulmana revelou-se demasiado pequena para tudo aquilo que estas irmãs queram dar à sociedade. Não são só as crianças que são salvas da morte.
O trabalho destas religiosas está a dar frutos, fazendo crescer novas vocações, mas está também a dar uma autoridade moral muito especial à Igreja. Agora, as pessoas entendem que não devem rejeitar os seus filhos sempre que eles nascem com algum tipo de deficiência. Aos poucos, as irmãs ensinam que eles não são malignos, mas sim crianças bonitas que precisam apenas de ser amadas e cuidadas e que têm também muito amor para dar.
A Irmã Terese sonha com tudo isto pois sabe que tem junto a si a força da oração de todas as outras religiosas e até, e muito especialmente, dos seus “pequenos guerreiros”, que salvou da morte. “Os meus filhos são guerreiros da oração”, diz ela. “Nas refeições, mesmo que estejam com muita fome, eles ficam à espera até que todos sejam servidos e rezam antes de comer. Eles rezam o rosário todos os dias. Quando estou ausente, sempre que os chamo, eles dizem que estavam a rezar por mim e por este ou aquele… Eles são muito dedicados à oração”, conclui a religiosa.
(Com AIS)