A Bíblia é uma coleção de livros cuja finalidade é transmitir a boa nova de Deus, para isso seus livros foram selecionados com muito esmero pelos primeiros padres e bispos da Igreja, garantindo, assim, que a vida e os ensinamentos de Jesus não se perdessem no tempo. Apesar de a Bíblia ser o instrumento mais importante para o conhecimento e entendimento dessa boa nova, seu conteúdo não pode ser compreendido fora de um contexto histórico, literário e cultural.
Estudar a Bíblia desconsiderando a Tradição da Igreja é um dos maiores erros que um cristão pode cometer, pois, apesar de seu conteúdo ser considerado sagrado, fora da Tradição os textos bíblicos perdem a sua verdadeira essência. Devido a isso, erros como interpretações literais (entender as metáforas de forma literal) ou anacronismos (dar significados modernos a conceitos de outros períodos) são frequentes. Justamente por causa deste mal uso da Bíblia, encontram-se textos malucos nas redes sociais e em grupos que se julgam tradicionalistas, como se a Bíblia fosse um tratado científico, buscando nela respostas para questões físicas e da natureza em geral, ou criticando estudos e teorias científicas baseando-se em versículos bíblicos.
Então, se você é um católico e acredita que a Terra tem 6000 anos porque concorda com a teoria de um anglicano do século XVII chamado James Ussher, que calculou a idade do planeta baseado no livro do Gênesis e na genealogia dos livros de Reis, Crônicas etc., sinto informá-lo: você não está seguindo a doutrina Católica, doutrina esta que refuta a possibilidade de considerar a Bíblia como uma publicação científica; antes disso, considera a Bíblia como uma fonte de Revelação Divina, contendo ensinamentos, mandamentos e revelações de Deus, sendo assim um guia de Fé e Moral.
Um exemplo ilustrativo de que a Igreja católica rejeita a leitura literal das Escrituras e defende a busca do conhecimento para assim entender a natureza criada por Deus, temos a figura do padre cientista Georges Lemaître, que desenvolveu a Teoria do Big Bang (Isso mesmo, a teoria do Big Bang foi desenvolvida por um padre católico). O Big Bang é uma teoria científica que explica a origem do universo através de uma grande expansão ou grande explosão (Bang). Ela propõe que o universo começou a partir de um estado extremamente denso (conhecido como singularidade) e vem se expandido desde então.
Apesar de esta teoria não explicar totalmente a origem do universo – e ainda existirem muitas questões em aberto – é o modelo mais bem aceito e que melhor explica as observações do universo. Esta teoria surgiu a partir de várias descobertas e contribuições científicas que começaram com Albert Einstein chegando até o Padre Georges Lemaitre.
Albert Einstein acreditava em um universo estático (ele refutava a ideia de um universo em expansão), e, em 1915, revolucionou a Física com a sua Teoria da Relatividade Geral. Esta teoria descreve a gravitação não somente como uma força de atração entre corpos, mas, sim, como curvaturas no espaço e tempo, causadas por grandes corpos (Planetas, estrelas etc.), como a declinação que percebemos em um colchão quando nos sentamos na cama. Esta foi a primeira teoria a admitir um entendimento científico completo da estrutura em larga escala do universo, fornecendo diversas equações que permitem descrever o universo.
Contudo, para justificar sua ideia de que o universo era constante, Einstein inseriu, em suas equações, uma “Constante Cosmológica”, representada pela letra grega Lambda (Λ), pois sem esta constante suas equações informavam que o universo estava em expansão. Ideia que ele não aceitava. Aí entra a figura do Padre Lemaitre, um cientista que, ao estudar as fórmulas da Teoria da Relatividade geral, propôs que o universo estava em expansão, contradizendo Einstein e sugerindo ainda que, possivelmente, na origem desta expansão existia um átomo primitivo (ou singularidade inicial) que, em determinado momento, começou a se expandir. Eis a origem da teoria do Big Bang.
O Padre Lemaître apresentou suas ideias a Einstein que as viu serem confirmadas com outros trabalhos e observações, reconhecendo, assim, a teoria de Lemaître e, finalmente, abandonando sua Constante cosmológica (Lambda – Λ), aceitando a expansão do universo. Ou seja, você até pode não aceitar a teoria do Big Bang, por entender que ela não consegue responder diversas questões sobre a origem do universo que ainda estão em aberto, ou porque existem outros modelos científicos sendo desenvolvidos e que podem ser mais adequados, porém nenhum católico pode refutar um modelo científico, nem refutar outras teorias científicas com a justificativa de que ela é contrária ao que está escrito na Bíblia, justamente porque estaria fazendo um mal uso dela.
Lembre-se de que muitas das principais descobertas científicas se originaram de Padres e Monges cientistas ou foram desenvolvidas no seio de universidades criadas e fomentadas pela Igreja. Não seja você um católico que nega os grandes feitos da Igreja da qual faz parte e não use a Bíblia desconsiderando esta Tradição. Os primeiros Padres da Igreja não tiveram a preocupação de escolher a dedo os livros que compões a Bíblia, muito menos a Igreja a preservou intacta por tantos séculos para motivo diferente daquele ao qual ela se propôs: garantir às gerações futuras a pureza e a integridade da vida e dos ensinamentos de Jesus.