Na Nicarágua, as procissões da Imaculada Conceição, que tradicionalmente se realizam antes de 8 de dezembro nas ruas da capital, Manágua, podem já estar informalmente proibidas.
Pelo menos é o que aconteceu com a emblemática procissão organizada pela paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Numa concisa postagem publicada no Facebook em 22 de novembro, a paróquia informou que “este ano, Nossa Mãe não percorrerá os nossos diversos setores, mas vamos celebrá-la com amor dentro da nossa paróquia” - sem qualquer explicação adicional. “Como é triste que não tenham concedido permissão para a procissão! Mas, diante das adversidades, a fé sempre prevalece e nada nem ninguém pode negar que a Nicarágua pertence a Maria. Viva a Santíssima Virgem!", registou o comentário de um fiel da paróquia.
Poucos dias depois, em 28 de novembro, a paróquia de São José de Tipitapa, também pertencente à Arquidiocese de Manágua, denunciou a proibição policial das procissões em honra à Santíssima Virgem Maria. As celebrações previstas para a novena à Imaculada Conceição acontecem só no recinto da igreja, sem chegar às ruas de Manágua como estava planejado. “Queremos expressar a nossa profunda tristeza por este fato que nos impede de expressar a nossa fé em público”, declarou o pároco. O sacerdote convida ainda os seus paroquianos a "continuarem a celebrar Nossa Senhora com fervor e devoção e a participar em cada uma das atividades destes dias, colocando o nosso país e a nossa Igreja sob a sua proteção e intercessão materna".
Aumento das perseguições
No país centro-americano de quase 7 milhões de habitantes, as perseguições lideradas pela ditadura sandinista contra os cristãos continuam a aumentar. A Igreja Católica, considerada pelos ocupantes do poder como o principal apoio dos seus opositores políticos, está sujeita a restrições cada vez maiores. Uma série de medidas repressivas recaíram sobre a comunidade católica, amordaçada e impedida de praticar livremente a fé. Além das recentemente proibidas procissões da Imaculada Conceição, as da Semana Santa de 2023 também foram canceladas por ordem das autoridades do regime de Daniel Ortega.
Padres e freiras são sistematicamente expulsos; as personalidades jurídicas das comunidades são extintas e as suas contas bancárias congeladas, como ocorreu com os jesuítas em agosto. Preso e depois condenado em fevereiro de 2023 a 26 anos de prisão por “traição à pátria”, dom Rolando Alvarez, que celebrou na cadeia os seus 57 anos de vida neste dia 28 de novembro, é sem dúvida o exemplo mais flagrante de uma perseguição que se intensifica. Tendo recusado o exílio em diversas ocasiões, o bispo é mantido no presídio La Modelo, nos arredores de Manágua. Na terça-feira, 28 de novembro, o governo mostrou pela segunda vez imagens de dom Álvarez para “tranquilizar” sobre o seu estado de saúde e suas condições de detenção, informa o jornal independente Despacho505. O bispo, no entanto, parece enfraquecido, com semblante abatido, numa sala que claramente não é a sua cela.