Quando falamos em Exame de Consciência, logo pensamos naquele que antecede a Confissão sacramental (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1454). Todavia, aqui, o foco será o Exame de Consciência diário. Para atingir nosso objetivo, valemo-nos do pequeno livro O Exame particular, do Pe. Miguel Ángel Fuentes, IVE, publicado pela Editora do Verbo Encarnado. São Paulo, 2020, 100 páginas.
Importa, logo de início, citar sobre o tema tratado, o que o Papa Pio XII aconselha aos sacerdotes: “Não omita o exame diário de consciência, que é o meio mais eficaz para perceber o progresso da vida espiritual durante o dia, bem como para remover os obstáculos que impedem ou retardam o progresso na virtude como, finalmente, para conhecer os meios mais idôneos de garantir maiores frutos ao ministério sacerdotal e implorar ao Pai celestial perdão por tantas fraquezas” (Menti nostrae, 52, p. 12, nota 2). Tal prática pode ser útil a cada fiel, sacerdote ou não (cf. p. 13-15). De que modo?
Santo Inácio de Loyola, em seus Exercícios Espirituais, n. 24-31, é quem ensina, em três pontos, o modo de se praticar esse Exame Particular. 1º) De manhã, ao se levantar, a pessoa toma consciência ou se lembra do que irá trabalhar naquele dia: algo que precisa adquirir de virtude, corrigir de vício, desarraigar de apego desmedido etc. Pode até, em forma de oração, escrever o que trabalhará e o modo concreto de o fazer (cf. p. 17-18). 2º) No meio do dia, revisar, hora a hora, com assiduidade – e até com anotações – o que falhou no propósito matinal ou, em contrapartida, o que foi alcançado na intenção feita. Importa, ainda, levar em consideração as razões dessas falhas e, por fim, renovar o propósito para a tarde. Ter uma tabela para anotar, com algum sinal, as falhas da manhã e da tarde muito pode auxiliar o fiel exercitante (cf. p. 20). 3º) No fim do dia, a pessoa – assim como fez no meio do dia – revisa o que se passou à tarde e anota, na tabela, no local correspondente. Percebendo alguma falha, faça também, como sinal de arrependimento, um gesto externo por ela: um toque de mão no peito, uma genuflexão etc.
Ainda: “No exame noturno, a pessoa deve observar se sua conduta melhorou em relação à da manhã; e todos os dias (ou pelo menos uma vez por semana) deveria comparar seu trabalho com o dia ou os dias anteriores, verificando se melhorou ou piorou, procurando os motivos (se melhorou, para continuar trabalhando nessa linha; se piorou, para corrigir as coisas que fazem retroceder no trabalho); e de vez em quando, comparar uma semana com as anteriores, verificando se progride ou se afasta de seus objetivos” (p. 23). Com a graça de Deus e a firme perseverança do fiel, em poucos meses, se verão grandes progressos.
Lembre-se de que o projeto a ser trabalhado tem de ser objetivo e detalhado; isto é, não basta apenas se propor – de modo genérico – a ser mais humilde. É preciso saber bem se se deseja ser humilde nas palavras, nos gestos, nos olhares etc. Ora, isso requer, sem dúvida, um autoconhecimento detalhado da parte do fiel. Ele tem de apreciar bem o “terreno” no qual irá trabalhar (cf. p. 27). Neste ponto, muito ajuda a leitura de temas de espiritualidade em autores célebres (Garrigou-Lagrange, Royo Marín, Tanquerey etc.) e o seguimento do que o próprio Pe. Fuentes propõe nas páginas 29 a 41 de sua obra.
A pessoa considerará sempre, entre seus defeitos, aquilo que se chama “defeito dominante” – com sua natureza, a necessidade de combatê-lo, os meios para conhecê-lo, o modo de combatê-lo – e sua relação com os sete vícios capitais (cf. p. 44-63). Neste trabalho, cabe a cada um conhecer também o seu temperamento, que está ligado ao que trazemos de negativo ou de positivo (cf. p. 64-95).
Isso posto, tenha a palavra final o Pe. Fuentes ao escrever o que segue: “Acima de tudo, devemos reconhecer uma grande verdade com muitíssima frequência – para não dizer quase sempre – sem um exame particular sério, todos os bons desejos e tentativas estão condenados, mais cedo ou mais tarde, ao fracasso total e o cristão acaba fechado na tibieza e na mediocridade. Por esse motivo, não dar a importância que merece pode ser um sinal de tolice” (p. 43).
Mais informações aqui.