Há quem pergunte como entender o culto às imagens sacras com base na Escritura, na Tradição e no Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana.
No Antigo Testamento, o livro do Êxodo 20,4 mostra que o Senhor Deus proíbe os israelitas de confeccionarem imagens. Tal proibição não era, no entanto, absoluta, mas se devia apenas a uma circunstância transitória que consistia no seguinte: cercada de povos idólatras, Israel poderia também ceder à tentação de adorar imagens, o que é idolatria (= adoração de ídolos).
Passado esse perigo maior, o Senhor mesmo mandou, então, confeccionar imagens para ajudar a piedade dos israelitas, segundo atestam numerosas passagens bíblicas como, por exemplo, Ex 25,17-22; 1Rs 6,23-28. 6,29-30; Nm 21,4-9; 1Rs 7,23-26. 7,28-29.
No Novo Testamento, Deus se dirige a nós por meio de seu Filho Jesus Cristo, no mistério da Encarnação, mas o próprio Senhor Jesus, considerando a índole psicossomática (corpo e alma) do ser humano, quis nos falar por meio de simbolismos, conforme se vê nas parábolas (comparações) e alegorias (metáforas prolongadas) que perpassam os Evangelhos, com o intuito pedagógico de levar o homem e a mulher a sentir o invisível a partir do visível.
Daí, já nos primeiros séculos do Cristianismo, as catacumbas, antigos cemitérios cristãos, serem decoradas com pinturas inspiradas em textos bíblicos tais como Noé salvo das águas do dilúvio, os três jovens na fornalha ardente cantando louvores ao Senhor sem se queimarem, os pães e os peixes restantes da multiplicação feita por Cristo e recolhidos em doze cestos etc.
Vê-se, portanto, que o uso de pinturas ou imagens no culto cristão sempre foi aceito, de modo que grandes Padres da Igreja (homens que nos primeiros 8 séculos da era cristã ajudaram na explicitação e sustentação das verdades de fé) a defenderam. Assim, São Gregório de Nissa († 394) escrevia que “o desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente [na exemplificação das verdades de fé – Nota nossa]”. São Gregório Magno († 604), por sua vez, advertia Severo, Bispo de Marselha, dizendo-lhe: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem; outra é aprender, mediante esta imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante as imagens, eles aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler”.
Eis, porém, que, nos século VIII e IX, alguns, influenciados por certas correntes filosófico-religiosas, se puseram a negar o valor das pinturas e das imagens na Igreja. Daí, o Concílio de Niceia II (787), fundamentado no parecer de grandes teólogos, dentre os quais São João Damasceno († 749), explicitou a distinção entre o culto de latria (adoração), que só se deve a Deus Uno e Trino, e dulia (veneração), dirigida a Nossa Senhora e aos Santos.
Diz, pois, esse Concílio, em sua sessão de 13 de outubro de 787: “Definimos... que, como as representações da Cruz,... assim também as veneráveis e santas imagens, em pintura, em mosaico ou de qualquer outra matéria adequada, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus (sobre os santos utensílios e os paramentos, sobre as paredes e os quadros), nas casas e nas estradas. O mesmo se faça com a imagem de Deus Nosso Senhor e de Jesus Cristo Salvador, com as da... Santa Mãe de Deus, com os dos Santos Anjos e a de todos os Santos e justos”.
Ainda: “Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a se recordar dos modelos originais, a se voltar para eles, a lhes testemunhar... uma veneração respeitosa, sem que isso seja adoração, pois esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus” (in Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Católicos perguntam. Santo André: Mensageiro de Santo Antônio, 1997, p. 7-10).
Eis como se entende, na fé católica, o culto às imagens sacras nos templos ou fora deles.