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Aprenda a decifrar os desenhos dos seus filhos

CHILDREN DRAWING
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Edifa - publicado em 27/05/20
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Uma criança não pode ou nem sempre sabe expressar suas emoções e seus sentimentos com palavras, mas as formas que desenha e as cores que usa podem falar. Aqui estão algumas dicas para entender melhor os seus filhos através de suas obras de arte

“Nos desenhos de crianças da mesma idade, há semelhanças de acordo com o seu desenvolvimento psicomotor. No entanto, sua perspectiva do mundo circundante é completamente pessoal. Isso torna que seja muito delicado interpretar de maneira ‘objetiva’ aquilo que elas desenham. A criança vive num mundo diferente do nosso, um mundo que ignora a lógica e no qual sua imaginação prevalece sobre a realidade e a razão”, explica a psicóloga Antoinette Muel. Por outro lado, a psicanalista infantil Martine Bacherich afirma que “a criança entra em seu desenho como num quadro no qual expressa o que vive, seus relacionamentos com os outros. Ela própria fornece os dados da interpretação através do que conta”. Comoventes por sua espontaneidade, inquietantes pela sua verdade, às vezes muito diretos e concretos, os desenhos das crianças são intrigantes. O que podemos dizer sobre esses rabiscos, sobre essas inspirações que surgem com prodigalidade ou sobre aquelas obras de arte elaboradas com paciência?

Estudo dos desenhos através de cada grupo etário

Até os dois anos de idade, a criança está interessada apenas nos movimentos, nas linhas, nas manchas e nos traços numa folha. É a idade do rabisco, sem qualquer vontade de representar. O movimento, o gesto, não é controlado. Entre as idades de dois e três anos, a criancinha descobre acidentalmente uma analogia entre um objeto e seu contorno, uma etapa chamada “realismo fortuito”. Progressivamente, tenta reproduzir as formas durante uma aprendizagem difícil. O ambiente o inicia e incentiva. O desenho tem uma representação simbólica. Entre as idades de três e quatro anos, o desenho representa a percepção da realidade da criança. É aí que é instrutivo. É a etapa do “realismo frustrado”. De cinco à sete anos, a criança começa a desenhar o que sabe, mas não realmente o que percebe do objeto; é a etapa do “realismo intelectual”. É inspirada em seu modelo “interno”, daí aquelas figuras de palitos, aquelas casas transparentes, umas representações sem respeito pela perspectiva ou pela proporção.

Dos sete aos doze anos, ela está caminhando para o “realismo visual”. A percepção assume um caráter intelectual, preocupando-se com a objetividade. Gradualmente adota as concepções espaciais do adulto. Martine Bacherich ressalta essa mudança: “Nessa idade, os jovens começam a fazer desenhos menos extraordinários, porque estão num modo de adaptação, muito sensíveis à impregnação cultural ambiental. O desenho é extinto, as crianças perdem o interesse nele. O adolescente costuma desenhar coisas convencionais e bastante estereotipadas e tem mais dificuldade em inserir, através do desenho, a vivacidade de suas representações imaginativas, de sua afetividade e de seu comportamento interior”.

Quando um desenho diz muito sobre o caráter de uma criança

De acordo com o Doutor Aubin, médico de hospitais psiquiátricos, “é essencial observar o desenvolvimento do desenho, no tempo e no espaço”. “Muitas crianças permanecem tensas até encherem a folha de papel com sinais tranquilizadores (chuva, neve, nuvens, pássaros), outras usarão apenas uma pequena parte da folha de papel. Devemos estar atentos à clareza, à dimensão, o dinamismo, a originalidade, identificar o primeiro gesto, depois o que foi acrescentado, o que foi apagado, o que foi riscado, as repetições, os comentários espontâneos … O movimento é amplo e espontâneo ou reservado e tímido; o traço é forte ou leve …?”. Todas essas pistas são bem conhecidas dos grafólogos, que também colaboram extensivamente através de suas habilidades de escrita na interpretação de desenhos infantis.

O desenho também pode dizer muito sobre o caráter da criança. Por exemplo, uma criança sensível duvida, apaga, risca, esquece os detalhes importantes. A forma de desenhar é irregular, não é igual (é variável), geralmente está tremida. Alguns sinais definem uma procura de segurança: forma arredondada, arco-íris, círculo mágico. O boneco é muito grande ou muito pequeno. Pelo contrário, aquela criança que não é muito sensível possui uma forma de desenhar seca, fina e com traço regular, equilibrada, com uma localização central na página. O boneco está bem proporcionado. Numa criança ativa, a legibilidade do desenho é boa, a linha é firme e limpa. A criança avança rapidamente e persegue a meta que foi estabelecida. Para desenhar um personagem, ela prefere usar a folha verticalmente. Quanto à criança inativa, ela é uma desenhista lenta e sonhadora. Muda suas idéias, duvida diante da menor dificuldade (mãos, pés). Às vezes, o desenho está inacabado e a legibilidade não é muito simples. O boneco é rudimentar, as características físicas são suaves (braços para baixo). Na criança extrovertida, o desenho é improvisado, pouco ordenado. A criança é móvel, é inspirada no presente, na atualidade, na novidade, no meio ambiente, no imprevisto. O boneco é geralmente maior que o normal. Quanto à criança introvertida, ela desenha com ordem e com método. Suas representações são o reflexo de seu mundo interior. O estilo é sóbrio, a forma de desenhar é pequena, justa, apertada e densa. A criança tem a tendência de focar a forma de desenhar num canto. O boneco geralmente aparece em perfil e em tamanho pequeno.

Prestar atenção às formas e às cores

As crianças são atraídas pelo colorido e pelo brilhante. Elas geralmente expressam emoção ou tristeza através de cores escuras e opacas. A cor vermelha será a preferência de uma criança fervorosa, apaixonada, lutadora. É também a cor preferida das criancinhas. Se algumas crianças mudam as canetas de feltro de tom excessivamente brilhantes para lápis de tom matizados, elas podem mostrar um pouco de timidez ou reserva. Um desenho muito colorido indica uma origem animada e alegre.

A água pode simbolizar a mãe e, portanto, também os sentimentos ambivalentes que a criança pode sentir por ela. Ela é a fertilidade, o útero, e introduz um elemento feminino benéfico, muito revelador da vida afetiva da criança. O mar também designa o inconsciente em toda a sua profundidade. Um sol dominante evoca luz, calor, segurança. É a imagem paterna que, aceita, brilha em seu apogeu ou, discretamente colocada atrás de uma montanha, pode ser temida. O sol também pode representar uma autoridade substituta ou imagem “paterna”: um avô, um professor, um médico, um chefe de escoteiros …

Quanto à casa, é o local fechado por excelência. Representa uma certa proteção e uma calorosa intimidade, quando vemos a luz do interior. É aconchegante, com uma lareira que solta fumaça, com portas e janelas abertas para o exterior. Nela podemos encontrar o melhor e o pior: pode ser a caverna de Ali Babá ou um covil de animais ferozes. Se não tiver janelas ou lareira, torna-se uma prisão sem acesso ou saída. Por outro lado, se seu caminho é largo e forrado de flores, mostra a possibilidade de saída e, portanto, de exteriorização. Mas se ela se transforma num labirinto inextricável ou mesmo se não leva a lugar algum, indica uma situação sem saída ou cheia de dificuldades.

Interpretar os desenhos das crianças com muita cautela

Diante de um desenho intrigante, podemos detectar um sofrimento ou uma vergonha? Por outro lado, o equilíbrio de uma criança é medido num desenho? “Os pais devem resistir à tentação de projetar uma explicação do que a criança colocou no papel, é algo muito delicado e pode ser perigoso”, diz Jacqueline Besson, consultora de grafologia especializada em escrita e interpretação de testes de desenhos para crianças. “No entanto, com um simples olhar, eles podem ver se o conjunto dá uma impressão de equilíbrio e de harmonia. Tudo o que é proporcional, flexível, variado, vívido, colorido, e é o caso da grande maioria dos desenhos, deve ser valorizado. Pelo contrário, se houver muito exagero, desproporção, assuntos ou imagens que se repetem repetidamente, tudo o que transmite uma forma de obsessão, excesso em geral de qualquer origem, excesso de ‘tudo’ ou excesso de ‘não é suficiente’, pode corresponder a alguma dificuldade na criança”.

No consultório de Martine Bacherich, as crianças às vezes desenham fachadas com rachaduras, elementos virados de cabeça para baixo. “Uma certa fragilidade pode ser expressa na ausência de organização cósmica: não há sol ou há sóis demais, uma criança deprimida fará seus desenhos exclusivamente marrons ou pretos … Mas o desenho serve acima de tudo para influenciar sobre a história da criança que está nesse desenho e que ela conta, porque o que ela desenha sempre faz parte dela. Em nenhum caso um sinal pode ser interpretado isoladamente. Nada faz sentido se não se refere a um contexto mais global”.

“Muitas vezes a criança está sob a influência de várias emoções”, explica Jacqueline Besson. “Um dia, o desenho pode ser escuro, no dia seguinte, colorido. O desenho é muito imediato. Basta que os pais pratiquem o bom senso para evitar tirar conclusões precipitadas ou alarmistas. Em alguns casos, ligados à outros sintomas, se sentem algum sofrimento, podem procurar aconselhamento de um especialista, apenas para se acalmar”. Portanto, é aconselhável agir com cautela ao iniciar a interpretação do desenho de uma criança, tomando muito cuidado para extrair apenas alguns índices indicativos, hipóteses que sempre devem ser confrontadas com toda a observação.

Agnès Salliard du Rivault

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