Ensinar uma criança a se confessar é um ponto de partida para toda a sua vida sacramentalÉ impressionante ver o abismo que separa crianças de adultos quanto ao sacramento da penitência. “Como ir à confissão sem enrolar?”, alguns adultos se perguntam sobre si e sobre os filhos. Já Albano, de apenas 9 anos, explica da maneira mais simples possível: “Como tem um padre ali eu aproveito! [para me confessar]”. Inimaginável dizer, do alto de nossos quarenta e poucos anos: “Meu pai, que sorte te encontrar aqui!”
O Padre Alexis Garnier comenta regularmente durante retiros familiares e peregrinações sobre essa facilidade que os mais jovens têm de se confessar: “As crianças pedem a confissão desde o primeiro dia, desde os primeiros minutos, e às vezes todos os dias. Enquanto os adultos tendem a esperar até o último momento”. Ingrid d’Ussel, autora de Please, Mum, Take Me to Confession (Por favor, mãe, me leva pra me confessar – em tradução livre), fez a mesma observação ao estabelecer em sua paróquia um grupo confessional frequente para crianças. “A alegria e entusiasmo deles são edificantes para nós adultos”.
“É como entrar na vida com o pé direito”
Crianças pequenas realmente têm uma capacidade natural de se conectar com o Bom Deus. Esta é uma boa razão para não demorarmos a familiariza-los desde cedo com o sacramento da penitência, sem esperar a iminência da Primeira Comunhão e sem projetar sobre eles os nossos próprios debates interiores. “Aprender a se confessar cedo dá início a toda uma vida sacramental. Integramos os sacramentos em nosso caminho para a santidade e, assim, deixamos o Bom Deus santificar a alma de nosso filho. Quando ele for mais velho, terá se acostumado a essa confissão regular”, disse o Padre Garnier, fazendo eco ao discurso do Papa São João Paulo II aos bispos de Quebec (1999): “A primeira infância é um período importante para a descoberta dos valores humanos, morais e espirituais”.
A partir de que idade um filho pode ir à confissão? A Igreja diz que “Todo o fiel que tenha atingido a idade da discrição, está obrigado a confessar fielmente os pecados graves, ao menos uma vez ao ano” (cânon 989 do Código de Direito Canônico). Esta “idade de discrição”, ou “idade da razão”, ronda os 7 anos, “um pouco acima ou um pouco abaixo”, como recordou o Papa São Pio X no seu decreto Quam singulari sobre a comunhão das crianças. “Esta é apenas uma referência”, disse o Padre Garnier. Pode ser mais cedo para alguns. Os pais devem zelar pela vida espiritual de seus filhos a fim de também despertar sua consciência moral. É bom que as crianças se conectem com um padre”.
“Coloque-se ao lado espiritual” de seu filho. A educação religiosa dos nossos filhos pequenos não se limita a rezar juntos a oração da noite, confiando apenas no papel exercido pela escola ou no grupo de catequese. Eles abordarão mais superficialmente a questão da confissão apenas na ocasião de preparação para a Primeira Comunhão.
Com o delicado apoio dos pais
“As crianças não recebem mais esta primeira educação que facilitava a nossa tarefa”, lamentava o padre Timon-David já no século XIX. O Padre Grégoire Leroux ainda sublinha a dificuldade de ensinar os filhos a ir à confissão “quando eles não são ensinados pelos pais e não estão imersos num ambiente de prática regular da fé”.
O padre Philippe de Maistre, capelão geral da escola Stanislas em Paris, distingue várias etapas da emergência da consciência infantil. Uma espécie de raio-x da sua vida espiritual que nos ajuda a melhor apoiá-los. Existe, diz ele, “uma consciência do amor de Deus que precede a consciência do bem e do mal. Já por volta dos 5 ou 6 anos, ocorre o despertar da sua interioridade. As crianças experimentam a presença íntima de Jesus. Santa Teresa dizia que “o reino de Deus está dentro de nós”. Quando criança, ela acreditava mais no Céu do que nas pessoas reais ao seu redor! Desde o batismo, os pequenos têm de fato uma relação natural e significativa com a vida interior e com o céu. Devemos, portanto, torná-los atentos a esta presença que nada mais é do que a chamada voz da consciência: “Escutai o que vos diz Jesus”. Em Stanislas, as crianças são, portanto, convidadas a se confessar a partir dos 5 anos. “É uma confissão sob o selo do amor, que lhes permite maravilhar-se com esta presença divina e perceber, aos poucos, que sua vida não se refere apenas a uma autoridade externa (a de seus pais), mas a uma altoridade interior”.
Então, a consciência do bem e do mal se desenvolve. Este é o momento em que a criança realmente experimenta uma relação do bem e do mal face de Deus. “É importante referir esta consciência moral à presença de Deus, que os habita”, aconselha o Padre de Maistre, que lhes explica: “Quando fazes o bem em segredo, te sentes bem, é Jesus que manifesta sua presença. Quando fazes algo errado, ficas triste, porque não destes ouvidos a Jesus. Você disse não a ele, então ele fica triste junto com você. A criança, portanto, entende o que é o pecado: não é uma estupidez. O que nos separa do amor de Deus é se recusar voluntariamente a ouvi-lo e, portanto, magoá-lo.
A parábola do filho pródigo ajuda a entender a confissão para os filhos
Você tem que dizer à criança que Deus a ama infinitamente e sempre perdoa as feridas que lhe foram feitas, com a condição de que se peça perdão a ele por meio de um sacerdote e se decida não repetir o erro. A parábola do filho pródigo é uma ótima maneira de ajudá-lo a entender o que é a confissão: um pai que acolhe seu filho arrependido de braços abertos. É um reencontro e, portanto, uma alegria. “É um encontro com o Pai que reconcilia, que perdoa e que celebra”, resume o Papa Francisco.
Mais tarde, o pecado e o sacramento do perdão estarão ligados à paixão de Cristo, o salvador das almas, afirma o Padre Garnier. Explicando que “todo pecado é como um espinho cravado na testa de Jesus”, e que “confessar os seus pecados é desamarrar Jesus da cruz”, como disse o Cura d’Ars.
Por fim, os pais devem ajudar os filhos a fazer os primeiros exames de consciência antes de ir à confissão, “sem sugerir ideias, mas dizendo-lhe: pergunte-se que pecados cometeu. Eles devem respeitar este espaço que é todo particular, mas também prepará-los, ir até a porta de entrada”, diz o Padre de Maistre. E é importante também estabelecer um ritmo, “colocando a confissão em seu calendário da mesma forma que uma consulta médica”, sugere Ingrid d’Ussel. O melhor é ir com a família, recomenda o padre Leroux. O que poderia ser mais eloquente do que ver seus pais ajoelhados? E ouvir seu filhinho dizer “já que o padre está aqui, aproveito essa oportunidade!”.
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Élisabeth Caillemer