E se ela encontrar um companheiro que se cuide dela e dos filhos, pode?Questão
Se uma mulher é abandonada pelo marido e ele se une a outra mulher, temos o claro caso da esposa que foi traída. Agora, esta mulher abandonada poderá comungar? E se ela encontrar um bom companheiro na vida que cuide dela, até mesmo disposto cuidar dos filhos, ela pode comungar?
Resposta do padre Francesco Romano, professor de Direito Canônico
O naufrágio de um casamento também deve ser vivido na fé, assim como o momento em que se celebrou este sacramento, marcado pelo requisito da perpetuidade do vínculo, “na alegria e na tristeza”. A falência da vida conjugal, até que não seja demonstrada e declarada pela competente autoridade a eventual nulidade do matrimônio, não libera os cônjuges, independentemente da responsabilidade de um ou do outro, da obrigação do recíproco respeito e da fé. Assim como não os habilita a instaurar novas relações afetivas como as uniões livres, de fato, ou o casamento civil.
Compreendemos muito bem a dolorosa situação existencial de uma “mulher abandonada”, com filhos para educar. Todavia, o eventual “bom companheiro de vida”, comentado na questão, não pode assumir o controle no lugar do legítimo cônjuge, escondendo suas responsabilidades.
A Encíclica Familiaris Consortio, promulgada por João Paulo II em 22 de novembro de 1981, não ignora a situação “daqueles que encontraram uma segunda união em vista da educação dos filhos”. Neste caso específico, para poder receber a comunhão, a solução que o Papa promete é clara e sem equívocos, ou "quando o homem e a mulher, por motivos sérios – quais, por exemplo, a educação dos filhos – não se podem separar, assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cônjuges". Esta tarefa é o pressuposto para poder permitir o sacramento da penitência para receber a comunhão, a qual, acrescenta o Papa em sua encíclica, “pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimônio".
Sugerimos àqueles que têm o desejo de receber a Eucaristia, e sofrem pela privação, de não enfrentar o problema como se fosse uma situação burocrática e não buscar sozinhos uma solução. É preciso buscar conselho e iluminação de um diretor espiritual, deixando-se ajudar a compreender a verdade que a Igreja ensina. Nunca desencorajar ou se distanciar da Igreja renunciando também a outras experiências salvíficas da vida cristã. Por isso é necessário confiar em um diretor espiritual.