A verdadeira resiliência não tem a ver apenas com superação, mas também com recuperação Por que será que você ainda não está morto?
Pandemia, ataques de gafanhotos, guerras, inundações, assassinatos, crimes, escassez de remédios, meteoritos e asteróides lançados em direção à Terra: com todas essas as coisas aparentemente tentando nos matar, como ainda estamos vivos? Parece que a natureza e o próximo estão conspirando para acabar com muitos de nós. Não é de se admirar o fato de ainda estarmos em pé?
Deixe-me colocar o desafio de outra maneira: diante de todas as ameaças e horrores, comuns e incomuns, prováveis e improváveis, por que você saiu da cama hoje de manhã? É apenas um hábito? Você só precisava ir ao banheiro rapidinho? Você saiu da cama apenas porque precisa ir trabalhar? Você saiu da cama porque o cachorro precisava fazer xixi? Ou porque as crianças estavam pedindo o café da manhã? O que faz você pensar que pode e vai sair da cama amanhã? Qual a probabilidade de você querer sair da cama? E depois de amanhã?
De alguma forma, continuamos nossas vidas. Nós perseveramos. No entanto, queremos fazer mais do que apenas sobreviver, queremos prosperar; nós queremos florescer, não é?
Tem sido observado por muitos que o homem pode sobreviver a qualquer qualquer coisa se ele tiver um bom motivo. Conhecemos pessoas que sobreviveram a terremotos, naufrágios e campos de extermínio, pois estavam determinados a permanecer vivos para continuar com entes queridos. Presumivelmente, as pessoas de fé têm um “porquê” suficiente para não sucumbir ao desespero.
Mas como fazer isso? Como alguém pode perseverar quando nosso mundo parece estar se tornando mais perigoso e indiferente para nós? Precisamos conversar sobre resiliência…
A dinâmica da resiliência costuma ser mal compreendida, então deixe-me esclarecer alguns equívocos. Alguns falam de resiliência como uma maneira de apenas cerrar os dentes e passar por cima de tudo. Essa não é uma estratégia de longo prazo, porque nunca somos autossuficientes. Alguns falam de resiliência em termos de incentivo. Se eu fosse um “palestrante motivacional”, por exemplo, eu poderia incentivá-lo a cuidar melhor de si mesmo (e a ter uma vida muito agradável com esses incentivos!). Eu poderia lhe oferecer um monte de incentivos: a diminuir a velocidade, a fazer menos, a se tornar mais eficiente, a aprender a delegar, a aprender a dizer “não”. Em outras palavras, eu poderia incentivá-lo a fazer o que já é óbvio para você. Eu poderia exortá-lo ao triunfo do Imaculado Coração até que Cristo retorne em glória, mas provavelmente não fará nenhum bem a você, e isso não é culpa sua – porque você não precisa de incentivos.
O que você precisa é de uma mudança de visão. Resiliência é melhor entendida como a obrigação paradoxal que Josef Pieper chamou de “autopreservação altruísta”. A resiliência é semelhante às instruções das companhias aéreas para que os passageiros coloquem a máscara de oxigênio de emergência em si mesmos antes de ajudar outras pessoas. Em outras palavras, se você desmaiar ou cair morto, você se torna parte do problema, e não parte da solução. Resiliência não é se esforçar a superar; resiliência é aprender a se recarregar ou, melhor dizendo, a se recuperar. Alguém pode ficar fisicamente imóvel enquanto está exausto por uma mente acelerada e um coração inquieto. A resiliência real é mais do que apenas descansar – ou seja, apenas respirar fundo antes de se atirar impensada e compulsivamente de volta à briga.
A verdadeira resiliência exige que nos permitamos a oportunidade de recuperação. No processo de recuperação, fazemos um balanço do que gastamos, do que perdemos, do que foi danificado e do que precisamos. Também nos lembramos repetidamente de que somos mais do que apenas instrumentos úteis; somos filhos de Deus com significado e valor além de nossa utilidade.
Imitando Jesus, os cristãos ajudam amigos e inimigos, com estas palavras: “Por causa de quem Deus é e por quem você é para Deus, eu escolho amar e servi-lo.”
A resiliência exige que aprendamos a dizer isso para nós mesmos. Quando fazemos isso, podemos começar a viver bem a obrigação paradoxal da autopreservação altruísta.
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